Médico militar negro é atingido com gás pimenta por polícia nos EUA

por Inês Moreira Santos - RTP
Reuters

As questões raciais e a violência policial por motivos racistas continuam presentes na sociedade norte-americana, mas segundo um novo vídeo divulgado nas redes sociais no fim de semana, podem afetar até quadros do Exército. Um médico militar, e segundo-tenente das Forças Armadas norte-americanas, foi perseguido, mandado parar por agentes policiais e pulverizado com gás pimenta. O agente envolvido no incidente foi demitido e o governador do Estado de Virgínia ordenou uma investigação independente do caso.

No mesmo dia em que um jovem afro-americano de 20 anos foi morto a tiro por um polícia, nos arredores de Minneapolis, o polícia Joe Gutierrez foi demitido após ter sido divulgado um vídeo no qual aparece a apontar uma arma e a pulverizar com gás pimenta um oficial negro do Exército norte-americano.

Caron Nazario, médico militar e segundo-tenente do Exército dos Estados Unidos, vai processar a polícia por agressão injustificada, após ter sido mandado parar, com arma apontada, e pulverizado com gás pimenta.



Segundo avança o New York Times, o incidente ocorreu a 5 de dezembro de 2020, quando o oficial negro de origem latina estava a voltar de um treino militar, dirigindo-se para Petersburgo (no Estado de Virgínia), começou a ver as luzes dos carros das autoridades e se apercebeu de que estava a ser perseguido. Admitindo que ficou nervoso, principalmente por estar numa estrada com pouca iluminação, Nazario decidiu continuar a andar cerca de 1,5 quilómetros até encontrar uma bomba de combustível e, só aí, parar.

Depois de ter parado, os dois agentes da polícia começaram a gritar que ele saísse do carro. No vídeo, gravado pelas câmaras instalas no equipamento policial, ouve-se o segundo-tenente, que estava fardado na altura, a questionar várias vezes a razão de o mandarem parar e de estarem a apontar-lhe armas, mantendo as mãos à vista e fora da janela do veículo que conduzia.

"Estou com medo de sair do carro", afirmou o militar sem sair do carro, acabando por ouvir o polícia a reponder: "Sim. Deve mesmo ter medo".

"Estou a servir este país e é assim que sou tratado?", questionou o segundo-tenente que vestia o uniforme. "O que se passa?".

"O que se passa, rapaz, é que tu estás como se fosses a caminho da cadeira elétrica", respondeu o polícia.

Segundos depois, o agente Joe Gutierrez, que apontava a sua arma a Nazario, pulveriza de gás pimenta a cara do oficial do Exército, que começa a chorar e a praguejar contra os polícias.
Polícia demitido

Caron Nazario, de 27 anos e formado pela Virginia State University, entrou com uma ação no Tribunal Distrital dos Estados Unidos acusando os agentes policiais de revistarem ilegalmente o seu carro, de terem usado força excessiva e violado os seus direitos sob a Primeira Emenda.

Num relatório da noite do incidente, a 5 de dezembro, a polícia alega que o motivo para mandarem parar o veículo de Nazario tinha sido por não ter placa de matrícula.

Contudo, o segundo-tenente explicou que tinha comprado recentemente o carro e, na altura, estava à espera das placas oficiais de matricula. O médico militar alegou ainda que tinha uma placa temporária colada no vidro traseiro e que estava visível.

Já os dois polícias alegam que Nazario ofereceu resistência ao não parar de imediato o carro.

No entanto, Joe Gutierrez foi demitido no domingo, após uma investigação interna determinar que o agente não respeitou os protocolos e as políticas do departamento da Polícia de Windsor, cidade onde ocorreu o incidente. 

"A cidade de Windsor orgulha-se do seu encanto de cidade pequena e do respeito comunitário pelo seu Departamento de Polícia", lê-se num comunicado emitido pelas autoridades da cidade de Windsor, no Estado de Virgínia. "Por isso, estamos tristes que incidentes como este que sucedam na nossa comunidade".

Ralph Northam, governador do Estado de Virgínia, lamentou o sucedido afirmando que as imagens eram "perturbadoras" e que já pediu uma "investigação independente".

"A nossa comunidade fez um trabalho importante na reforma da polícia, mas devemos continuar a trabalhar para garantir que os cidadãos estejam seguros durante as interações com a polícia, a aplicação das leis seja justa e equitativa e as pessoas sejam responsabilizadas", disse Northam através das redes sociais.

O vídeo foi amplamente divulgado nas redes sociais e nos meios de comunicação locais, e são apontadas questões raciais como possíveis causas do incidente.

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