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Menos imigrantes na Europa (também) à custa de violações dos Direitos Humanos

por Cristina Santos - RTP
Reuters (arquivo)

Entre janeiro e março deste ano, cruzaram as fronteiras da Europa menos 33.600 pessoas, comparando com o mesmo período de 2024. A redução de 30 por cento no primeiro trimestre deste ano deve-se, em parte, às políticas da UE.

No entanto, várias organizações de defesa dos Direitos Humanos afirmam que a redução também se deve ao facto de a União Europeia ignorar o risco de violações de Direitos Humanos.

A quebra no número de entradas de migrantes na Europa coincide com o reforço de acordos com países fora da UE arbitrárias, como Líbia e Tunísia, onde há denúncias de violência sexual, espancamentos e detenções arbitrárias.

“A questão fundamental é que, se a diminuição de entradas se deve às medidas de dissuasão da UE, essas medidas são acompanhadas, de forma muito clara, por violações dos direitos humanos, das quais a UE é, portanto, cúmplice”, denuncia Judith Sunderland, da Human Rights Watch (HRW).

Prova disto são as duas queixas apresentadas pelo Centro Europeu para os Direitos Constitucionais e Humanos (ECCHR, sigla em inglês), ao Tribunal Penal Internacional

Duas queixas relacionadas com o tratamento de migrantes e refugiados na região central do Mediterrâneo.

Uma consultora jurídica deste Centro Europeu, citada pelo jornal The Guardian alerta que “a queda nos números oficiais não significa que há menos pessoas a chegarem à Europa”. “Significa que há mais pessoas a viver em condições horríveis na Líbia e na Tunísia, o que equivale a crimes contra a humanidade, com a cooperação e aprovação da UE”, sublinha Allison West.

Em comunicado, esta consultora jurídica do ECCH refere que a UE tem trabalhado com a Líbia para travar a entrada de migrantes, apesar das evidências de detenção arbitrária, tortura, violência sexual e escravidão. 

"Esses abusos não são efeitos colaterais imprevistos da política migratória europeia. São consequências previsíveis de uma estratégia que prioriza a contenção em detrimento da proteção" de pessoas.

De acordo com a Frontex (Agência Europeia da Guarda de Fronteiras e Costeira), a maior queda de entrada de migrantes na Europa foi de 64 por cento. Ocorreu nos caminhos que cruzam a Albânia, Sérvia, Montenegro e Macedónia do Norte. Já as travessias para entrar no Reino Unido caíram quatro por cento.

A Human Rights Watch (HRW ) lembra que as políticas europeias estão a levar os migrantes a seguirem rotas mais arriscadas. “Não podemos esquecer o custo (das medidas): pessoas que morrem afogadas no Mediterrâneo, pessoas que são espancadas na fronteira entre a Polónia e a Bielorrússia”, por exemplo.

“Há um enorme custo humano por trás destes números” que contabilizam menos 33.600 pessoas a entrarem na UE, acusa a HRW.
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