Mês sagrado dos muçulmanos começa entre quinta-feira e sábado
O Ramadão, mês do calendário islâmico que celebra as primeiras revelações de Deus ao profeta Maomé, constantes no Corão, o livro sagrado dos muçulmanos, inicia-se este ano entre quinta-feira e sábado.
Período marcado pela prática do jejum diurno durante um mês, em que os muçulmanos adultos e saudáveis se abstêm de ingerir alimentos, beber álcool e fumar do nascer ao pôr-do-sol e de manter relações sexuais, o Ramadão é também o mês das actividades sociais das comunidades islâmicas.
Durante o Ramadão, o estilo de vida dos muçulmanos sofre grandes alterações, sendo as noites dedicadas ao convívio - sobretudo nos países muçulmanos - e os dias consagrados à oração e ao jejum que termina, tradicionalmente, com a ingestão de uma tâmara, quando o sol desaparece no horizonte.
O dia que marca o início do Ramadão, nono mês do calendário lunar islâmico, não é o mesmo em todos os países muçulmanos e já este ano foi tema de debate em reuniões, jantares e celebrações informais e até em grupos de conversação na Internet.
Na maior parte dos países do mundo, excepto no norte da Europa e no norte da Ásia, espera-se que o primeiro dia do Ramadão seja sábado, 16 de Outubro, de acordo com informações do site da Internet Moonsighting.com.
Existe, no mundo islâmico, uma perpétua divisão sobre se o Ramadão começa quando se avista o quarto crescente da lua ou com base nos cálculos científicos sobre o início do mês lunar.
Um astrónomo muçulmano expressa o seu desapontamento quanto à questão.
"Na actual época de desenvolvimento científico e tecnológico, três décadas depois de o Homem ter aterrado na lua, alguns muçulmanos ainda evitam a utilização de conhecimentos científicos para fazer o calendário muçulmano", lamenta.
Nos Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita e Qatar, as autoridades decidiram que o Ramadão começa sexta-feira, ao passo que na Líbia terá início na quinta-feira.
A época sagrada não é, contudo, comemorada de forma pacífica em todas as regiões do mundo.
Este ano, Israel pretende limitar a entrada de fiéis muçulmanos na Esplanada das Mesquitas - onde são esperadas mais de 200.000 pessoas - durante o mês do Ramadão, a não ser que as autoridades encarregadas dos lugares santos aceitem fechar ao público áreas que poderão abater.
Segundo a rádio militar israelita, as autoridades israelitas tentaram alcançar um acordo com a administração dos bens religiosos (Waqf) para que uma parte subterrânea do complexo que ameaça ruir, com o peso da multidão, seja encerrada.
Se a Waqf recusar, Israel restringirá o número de fiéis muçulmanos que deverão deslocar-se sexta-feira à Esplanada das Mesquitas para assinalar o início do Ramadão.
Esta decisão foi tomada por altos responsáveis da polícia israelita numa reunião realizada terça-feira à noite com o primeiro- ministro israelita, Ariel Sharon.
De acordo com a rádio israelita, Sharon ordenou pessoalmente a adopção de todas as medidas necessárias para evitar uma catástrofe na Esplanada, sobretudo depois dos danos superficiais recentemente provocados por um sismo.
A Esplanada das Mesquitas - Monte do Templo, para os judeus - situa-se na Cidade Velha, no sector oriental (árabe) de Jerusalém, ocupado e anexado por Israel em 1967, e cuja soberania é disputada por israelitas e palestinianos.
Na capital iraquiana, Bagdad, os habitantes recordam amargamente o último Ramadão, marcado por atentados sangrentos com viaturas armadilhadas, e esperam que este ano haja um pouco mais de calma, com as tentativas de mediação em curso entre governo e rebeldes.
"Quando saímos de casa de manhã, não sabemos se vamos regressar à noite", diz Mezher Hamid, que vende perfumes no mercado popular de Churja, no centro da capital iraquiana.
"Mas esperamos que este Ramadão seja mais calmo, sobretudo com a deposição das armas" das milícias xiitas, acrescentou.
Hamid referia-se ao acordo entre o governo e o movimento do líder xiita radical Moqtada Sadr sobre a entrega das armas dos combatentes do bairro de Sadr City, em Bagdad.
Em troca, o movimento obtém a libertação de prisioneiros e a hipótese de participar no processo político no Iraque.
A operação da entrega de armas, iniciada segunda-feira, deverá terminar sexta-feira, que será, no Iraque, o primeiro dia do Ramadão, também designado como o mês da piedade e da generosidade entre os muçulmanos.