Metas do Acordo de Paris difíceis mas motivadoras diz especialista
O Acordo de Paris, adotado há 10 anos, continha metas que dificilmente seriam cumpridas mas que serviram para os países percebessem que o clima era um problema mundial e tomassem medidas, considerou o especialista Ricardo Deus.
O chefe da Divisão de Clima e Alterações Climáticas do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), Ricardo Deus, falava à agência Lusa a propósito dos 10 anos do Acordo de Paris sobre o clima, adotado a 12 de dezembro de 2015.
Nessa data os 195 países presentes na 21.ª conferência da ONU sobre o clima (COP21) em Paris adotaram um acordo, o primeiro universal e vinculativo, de luta contra o aquecimento global e as alterações climáticas.
O Acordo contém medidas para limitar a subida da temperatura a dois graus no final do século, e de preferência que não vá além de 1,5ºC em relação à época pré-industrial, para evitar impactos catastróficos do aquecimento global, provocado pelas emissões de gases com efeito de estufa (GEE) com origem, nomeadamente, na queima de combustíveis fósseis.
Sabia-se, referiu Ricardo Deus, que não era fácil cumprir as metas do acordo, mas foi importante a sua existência. E hoje, uma dessas metas, o aumento de temperatura de 1,5ºC em relação à época pré-industrial é um exemplo.
"O ano de 2024 foi dos primeiros anos em que os valores médios da temperatura ultrapassaram os 1,5ºC. Dez anos depois do Acordo de Paris essa meta foi ultrapassada", observou.
Ricardo Deus referiu que há dúvidas quanto ao valor concreto do aquecimento, que se relacionam com as formas de cálculo.
"O que importa é que a tendência, o sinal, é constante [aumento de temperatura], e é esse que preocupa", assinalou.
Para o responsável, o Acordo de Paris foi "o caminho possível".
"Estamos mais conscientes do problema, que está a acontecer a uma escala global", disse, lembrando também as notícias sobre a morte de pessoas devido aos fenómenos extremos climáticos.
Apesar disso, mostrou-se otimista, referindo como positivo o desenvolvimento das energias renováveis e recordou que uma descida das emissões de gases com efeito de estufa (GEE) não se reflete de imediato no clima, ainda que, insistiu, com uma diminuição de emissões de GEE o aquecimento do ar e dos oceanos também pode diminuir.
Mas porque as alterações climáticas já estão aí, porque em Portugal continental, entre 1991 e 2020, houve uma taxa de aumento da temperatura de 0,3ºC por década (0,98ºC de aumento da temperatura média nesse período), é preciso trabalhar na adaptação às mudanças climáticas, avisou.
O especialista explicou que a taxa de aquecimento não é igual em todo o planeta e que a Europa é das regiões que aquece mais rapidamente (2,3ºC em relação à época pré-industrial).
Ricardo Deus disse que os fenómenos climáticos sempre ocorreram mas o que considerou que hoje é diferente em relação ao passado é que esses fenómenos são potenciados pelas temperaturas mais altas.
"Com a atmosfera mais quente e o oceano mais quente os fenómenos ganharam outra dimensão energética" e são hoje diferentes, as ondas de calor, por exemplo, duram mais tempo.
E as populações, alertou, estão hoje mais expostas a esses fenómenos e também mais frágeis: "Temos de estar mais bem adaptados". Mas, acrescentou, o lado bom é que também estão mais sensibilizadas para a temática das alterações climática e também mais interessadas.
Com os passos que vão sendo dados, nomeadamente nas energias renováveis, com a esperança de que se consiga diminuir as taxas das emissões de GEE, também é importante, disse o especialista, que o sistema do planeta funcione da forma como se espera que funcione, na absorção do dióxido de carbono.
Mas a verdade é que as pessoas terão de habituar a viver com mais calor, considerou.