Microfones turcos gravaram tortura de jornalista no Consulado saudita

por RTP
Entrada do consulado saudita em Istambul Murad Sezer - Reuters

O governo turco diz ter gravações de áudio e vídeo que comprovam a sua teoria quanto ao desaparecimento do jornalista saudita Jamal Khashoggi no consulado da Arábia Saudita em Istambul.

Funcionários turcos revelaram ao jornal The Washington Post, de que Khashoggi era colaborador, que as gravações mostram vários agentes de segurança saudita a deter o jornalista dentro do consulado, pouco depois de este ter entrado, para ir buscar um documento. De seguida, levaram-no para uma sala onde o mataram e desmembraram o seu corpo com uma serra elétrica.

“As gravações de voz no interior do consulado estabelecem aquilo que aconteceu a Jamal depois de ele ter entrado”, admitiu uma fonte anónima, que tinha conhecimento sobre as gravações. “Consegue-se ouvir a sua voz e a de outros homens a falar árabe. Consegue-se ouvir como ele foi interrogado, torturado e mais tarde assassinado”, continuou.

Esta mesma fonte disse ainda que, depois de o jornalista ser morto, as gravações de áudio revelam que os agentes sauditas foram a casa do cônsul geral saudita, cujos empregados foram mandados para casa mais cedo nesse dia. Revelam ainda a existência de, pelo menos, uma chamada telefónica a partir de dentro do consulado, pouco depois da morte de Jamal Khashoggi.

Apesar de terem a certeza do homicídio do jornalista saudita e de acusarem a Arábia Saudita de ocultar a verdade, funcionários turcos citados pelo The Washington Post admitiram estar cientes do perigo que a divulgação destes conteúdos poderá trazer para o seu governo, já que permitiria a outros países perceber os métodos de espionagem turca a missões diplomáticas no seu país, como é o consulado.

Jamal Khashoggi mantinha uma ligação de longa data com a família real saudita, mas os seus recentes artigos críticos ao atual governo e, sobretudo, ao príncipe Mohammed bin Salman, deterioraram essa relação. Em 2017, o jornalista refugiou-se nos EUA, onde iniciou o seu trabalho como colaborador do Washington Post, por temer que a sua vida estivesse em perigo na Arábia Saudita devido às suas críticas à família real e ao governo.

Depois do apelo de Donald Trump, esta quarta-feira, para que se resolvesse o mistério, fontes de inteligência dos EUA disseram ter conhecimento de um plano anterior ao desaparecimento do jornalista, elaborado pelo príncipe para atrair Khashoggi à Arábia Saudita, onde este acabaria por ser detido à chegada ao aeroporto.

Fontes oficiais sauditas continuam a negar qualquer envolvimento da Arábia Saudita no desaparecimento do jornalista e mantêm a versão de que Jamal Khashoggi saiu do consulado pouco depois de ter entrado.
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