Milhares de mulheres indígenas marcharam hoje em Brasília, capital do Brasil, onde levantaram suas vozes contra os "retrocessos nos direitos dos povos indígenas" perpetrados sob o Governo de extrema-direita do Presidente, Jair Bolsonaro.
"Essa luta representa toda a nossa resistência contra todos os reveses que o Governo brasileiro tem cometido nos direitos dos povos indígenas", disse Juma Shibuya, da etnia Shibuya.
A marcha começou na madrugada desta sexta-feira, com milhares de indígenas de 172 povos de todas as regiões do país.
Os manifestantes encerraram o protesto na Praça do Índio, na capital brasileira, onde prestaram homenagem a um indígena que foi queimado vivo há alguns anos e, imediatamente, incendiaram um boneco que representava Bolsonaro.
Entre as principais exigências das mulheres indígenas está a garantia dos direitos ancestrais dos povos originários do Brasil à terra, cuja análise está em julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF).
Em agosto passado, o tribunal passou a julgar o chamado `marco provisório`, tese jurídica defendida pelo agronegócio e por Bolsonaro segundo o qual os indígenas só poderiam reivindicar as terras que efetivamente ocupavam a partir de 5 de outubro de 1988, quando a atual Constituição brasileira foi promulgada.
Os movimentos indígenas sustentam que essa tese termina com "direitos ancestrais" e também favorece a legalização de áreas ocupadas ilegalmente por proprietários de terras antes dessa data.
"Estamos aqui repudiando e protestando contra o quadro temporário e todos os projetos que ameaçam nosso território, nossa vida e o futuro, não só dos povos indígenas, mas de toda a humanidade", enfatizou Shibuya.
Desde o final de agosto, cerca de 6 mil indígenas estão em Brasília aguardando o julgamento, que até agora só teve o voto do relator do caso, o magistrado Edson Fachin, que se manifestou nesta quinta-feira contra o marco temporal.
O juiz considerou que a definição de posse de terra indígena deve ser definida por tradicionalidade e que a teoria do marco temporal ignora a classificação dos direitos indígenas como fundamentais.
Os manifestantes comemoraram o voto do relator e confiam que os demais magistrados do STF seguirão a mesma linha de Fachin no julgamento, que será retomado na próxima quarta-feira.
No entanto, Shibuya garantiu que, mesmo que o tribunal decida sobre a validade do marco temporal, os povos indígenas "continuarão na luta e na resistência".
"Esperamos que o resultado seja positivo, mas, mesmo que não seja, continuaremos na luta e na resistência pela garantia, pela permanência do nosso território e pela vida", disse.
Tamikuan Tirry, da etnia Guarani, acrescentou que os povos também lutarão juntos pela preservação do meio ambiente e pela sobrevivência da "Terra e da Mãe Natureza".
"Vamos continuar juntos porque nós, povos indígenas, somos a semente das raízes que a colonização não conseguiu destruir", concluiu.