Militares israelitas envolvidos na morte de palestino-americano serão demitidos

As Forças Armadas israelitas anunciaram, esta terça-feira, que os dois oficiais envolvidos na morte de um palestino-americano, na Cisjordânia, vão ser demitidos dos cargos. O exército de Israel informou ainda que também irá repreender o comandante do batalhão, responsável pelo posto de controlo e pelos militares que detiveram o cidadão com dupla nacionalidade, no passado mês de janeiro.

Inês Moreira Santos - RTP /
Mohamad Torokman - Reuters

A 12 de janeiro Omar Abdalmajeed Assad, um homem de 78 anos que residia na vila de Jiljilya, ao norte de Ramallah, foi encontrado morto depois de ter sido detido por tropas israelitas a caminho de casa. De acordo com um comunicado do exército israelita, a morte do palestiniano, que tinha também nacionalidade norte-americana, resultou "de um erro moral e de uma má tomada de decisão".

Omar Asaad foi detido pelas forças israelitas quando regressava a casa, depois de visitar familiares na sua vila natal de Jiljiliya, perto da cidade de Ramallah. Horas depois foi transportado para um hospital, quando já tinha morrido de ataque cardíaco, segundo o Ministério da Saúde palestiniano.

Segundo as Forças Armadas de Israel, o idoso palestiniano estava a dormir quando o deixaram deitado de bruços num prédio abandonado onde estava detido com outras três pessoas, no mês passado. Na semana passada, uma autópsia revelou que Asaad - declarado morto pouco depois de ter sido detido pelo exército israelita na Cisjordânia ocupada - morreu de um ataque cardíaco causado pelo “stress” devido a “violência externa”.

A autópsia, realizada por três médicos palestinianos, confirmou ainda que o cidadão palestino-americano sofria de problemas cardíacos, mas que também foram identificados hematomas na cabeça, edemas nos pulsos, por ter estado amarrado, e sangramento nas pálpebras, por ter estado com os olhos vendados.
Investigação conclui que houve “erros” e “más decisões”
De acordo com o Jerusalem Post, Omar Asaad foi detido, durante uma operação de segurança noturna, por tropas pertencentes ao Batalhão Netzah Yehuda, num posto de controlo improvisado, quando ia a caminho de casa. O homem de 78 anos terá começado a gritar, chamando a atenção para a presença de outros militares na área, quando os soldados tentavam passar despercebidos. Taparam-lhe a boca e, pouco depois, amarraram-lhe as mãos e levaram-no para um prédio abandonado.

Assad foi detido com outros palestinianos, algemado, vendado e amordaçado durante cerca de meia hora, até o libertarem. Acreditando que o palestino-americano tinha adormecido, os militares não chamaram a assistência médica, nem tentaram acordá-lo antes de abandonarem o local.

“Os soldados não identificaram sinais de angústia ou outros sinais suspeitos quanto à saúde de Assad. Os soldados consideraram que Assad estava a dormir e não tentaram acordá-lo”, explica em comunicado o Exército israelita, acrescentando que Assad não tinha identificação e que "se negou a cooperar" com os militares quando foi detido.

Segundo os resultados da autópsia, o cidadão faleceu com um "ataque cardíaco induzido pelo stress, devido às circunstâncias da sua detenção por soldados israelitas”.

“A investigação concluiu que o incidente foi um acontecimento grave e infeliz, resultante de uma falha moral e de uma má tomada de decisão por parte dos soldados”, explicou esta terça-feira o exército, no comunicado, quando ainda decorre uma investigação criminal. Contudo, “não houve uso de violência durante o incidente, exceto quando Assad foi preso depois de se recusar a cooperar”.

As forças de segurança israelitas falharam nas suas obrigações ao deixar Assad no chão sem o tratamento necessário e sem relatar o incidente aos seus comandantes”, apurou ainda a investigação. Além disso, foram encontradas “lacunas profissionais na preparação e implementação” do posto de controlo, onde as tropas paravam os veículos para buscas aleatórias.
Israel e EUA investigam incidente
O Departamento de Estado norte-americano indicou estar em contacto com o Governo israelita para “esclarecimentos” sobre o incidente e para apoiar uma “investigação completa”. Este incidente acabou por chegar ao conhecimento de congressistas do Estado de Wisconsin, onde Assad viveu durante décadas.

Dois membros da delegação do Congresso de Wisconsin, nos Estados Unidos, pediram ao secretário de Estado norte-americano Antony Blinken, na segunda-feira, para investigar se os soldados envolvidos usaram equipamentos adquiridos com ajuda norte-americana.

“Apoiamos fortemente os direitos humanos e o Estado de direito como base da política externa dos Estados Unidos”, escreveram a senadora norte-americana Tammy Baldwin e a representante Gwen Moore, citadas pelo Guardian. “Enquanto palestino-americano, o Sr. Assad merece toda a proteção oferecida aos cidadãos norte-americanos que vivem no estrangeiro e a família merece respostas”.

Assad nasceu em Jiljilya, mas viveu cerca de 40 anos nos EUA e, durante esse tempo, tornou-se cidadão norte-americano. Quando se reformou, em 2009, decidiu regressar com a esposa à sua aldeia natal.

“Continuamos a apoiar uma investigação completa e abrangente sobre as circunstâncias do incidente e agradecemos o envio de informações adicionais o mais rápido possível”,
afirmou na segunda-feira, em comunicado, o porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price.

Perante as conclusões da investigação, o comandante do batalhão será repreendido. Já os comandantes do pelotão e da companhia serão afastados "e não servirão em postos de comando por um período de dois anos", clarificaram as Forças Armadas de Israel.

A investigação ao nível dos comandos está a decorrer paralelamente a uma investigação da Polícia Militar, com vários oficiais, soldados e outras testemunhas a serem interrogados.

A Autoridade Palestina elogiou a investigação à morte de Assad, de 78 anos, e pediu a Israel para analisar todas as mortes de palestinianos pelas mãos de soldados israelitas, e não apenas os que têm passaporte norte-americano.

"Israel investiga este caso porque o mártir tem passaporte norte-americano", declarou à AFP o porta-voz da Autoridade Palestina, Ibrahim Melhem. "Há muitos outros mártires como Omar mortos pelo exército israelita, mas têm identidade palestiniana, ninguém se importa com eles", acrescentou.

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