Ministra brasileira reconhece contradição em aprovar pesquisa de petróleo no Amazonas

A ministra do Ambiente do Brasil, Marina Silva, reconheceu a contradição de autorização para pesquisa de petróleo na Foz do Amazonas a poucos dias de arrancar a Cimeira das Nações Unidas para o Clima (COP30), na amazónia brasileira.

Lusa /

Em entrevista a um órgão oficial do Governo brasileiro (Canal Gov), Marina Silva, reconhecida líder ambiental que retomou o ministério que ocupou durante o primeiro Governo (2003-2006) de Lula da Silva (do qual saiu por divergências sobre política ambiental) disse que "existe a contradição que as pessoas levantam e com justa razão".

"A sociedade está debatendo não só com o Brasil, mas no mundo inteiro. Precisamos sair da dependência do uso de combustível fóssil, porque é isso que está aquecendo a temperatura da Terra. Qual é o caminho que se pode fazer isso? Planejar de forma justa para que todos possam fazer suas transições", sublinhou a ministra.

Ainda assim, garantiu que não houve qualquer pressão política e que "todo o trabalho dos técnicos foi feito com todo o rigor".

"O Ibama [Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis] deu uma licença técnica", sublinhou a ministra, acrescentando que  "a licença para a prospeção de petróleo na margem equatorial, na Foz do Amazonas, é para os estudos para verificar se tem petróleo em quantidade e qualidade".

"Depois é feito todo o processo de exploração. Neste momento é a prospeção", explicou a candidata presidencial em 2010, 2014 e 2018, tendo ficado sempre em terceiro lugar.

O Governo brasileiro encabeçado por Lula da Silva tem considerado que o desenvolvimento das atividades de exploração e produção de petróleo e gás devem caminhar lado a lado com políticas de descarbonização e expansão dos biocombustíveis e que a produção de hidrocarbonetos pode ajudar a pagar a conta rumo à transição energética.

A petrolífera estatal brasileira Petrobras anunciou na segunda-feira que obteve licença ambiental para perfurar um poço em águas profundas na Foz do Amazonas, numa decisão que tem sido apoiada pelo Presidente brasileiro e criticada por vários ambientalistas.

Em comunicado, a Petrobras indicou ter recebido a licença ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) "para a perfuração de um poço exploratório no bloco FZA-M-059, localizado em águas profundas do Amapá, a 500 quilómetros da Foz Rio Amazonas e 175 quilómetros da costa, na Margem Equatorial brasileira".

A sonda já se "encontra na locação do poço e a perfuração está prevista para ser iniciada imediatamente, com a duração estimada de cinco meses".

Através desta pesquisa exploratória, a Petrobras "busca obter mais informações geológicas e avaliar se há petróleo e gás na área com escala económica".

"Não há produção de petróleo nesta fase", detalhou a empresa no comunicado, sobre a autorização de perfuração, decisão que surge a menos de um mês da cidade amazónica de Belém do Pará acolher a conferência das Nações Unidas para o Clima (COP30).

A exploração de hidrocarbonetos na região é vista com preocupação por organizações não governamentais e por ativistas ambientais devido ao impacto que um possível derrame pode ter na área, considerada extremamente sensível a questões socioambientais.

O Presidente do Brasil, Lula da Silva, tem defendido repetidamente a necessidade de autorizar a Petrobras a explorar potenciais campos, argumentando que as receitas resultantes podem financiar a transição energética do país.

Tem repetido que o Brasil não pode "abrir mão do petróleo brasileiro para os outros explorarem".

A autorização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), segundo o Governo brasileiro, "marca um avanço decisivo na exploração da Margem Equatorial, considerada uma das novas fronteiras mais promissoras do setor de petróleo e gás no mundo, com potencial de 10 mil milhões de barris recuperáveis".

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