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Ministra Educação timorense nega ter política "antí-lingua portuguesa"

por Lusa

Díli, 29 nov (Lusa) - A ministra da Educação timorense negou ter uma política "anti-língua portuguesa" e afirmou estar convicta de que a reforma curricular que promoveu a partir de 2015 "vai funcionar" e ajudar os alunos a obter melhores competências.

"A minha política não é nem nunca foi anti-língua portuguesa. E confesso que não penso que existam assim tantas pessoas a considerarem que tenha uma política anti-língua portuguesa", afirmou Dulce Soares, em entrevista, por escrito, à Lusa em Díli.

"Como não iniciamos a alfabetização em português, algumas pessoas compreenderam incorretamente que o novo currículo seria, nas suas palavras, `anti-português`. Pelo que, como fui uma das promotoras desta reforma curricular, acabei por ser apelidada como `anti-português`", explicou.

Dulce Soares concedeu uma entrevista à Lusa para analisar alguns dos aspetos relacionados com o trabalho do seu Ministério, com destaque para questões curriculares, língua e recursos educativos.

A governante considerou "normal" que processos de "profunda revisão curricular" suscitem críticas e divergências e insistiu que o modelo iniciado em 2015 - entre as medidas mais polémicas do Governo -, assenta na "progressão linguística que se inicia no tétum e progride para o português".

"Sinceramente, acredito que este método definido pelo plano de progressão linguística vai funcionar e ajudar os alunos a adquirirem melhores competências na língua tétum e um melhor domínio da língua portuguesa, sem sacrificar a aquisição de conhecimentos nas restantes áreas disciplinares", sustentou.

"Esta convicção não assenta apenas nas minhas crenças, esta convicção fundamenta-se em vários estudos na área da educação realizados em contextos multi-linguísticos. A minha política é antes de qualquer coisa pró-educação e pró-aprendizagem de qualidade", afirmou.

Dulce Soares explicou que foi decidido que "a alfabetização ou a literacia se iria iniciar apenas numa língua oficial e que seria aquela que as crianças compreendessem melhor", nomeadamente o tétum.

O português seria introduzido "progressivamente, oralmente desde o 1.º ano e na forma escrita a partir do 3.º ano, com o objetivo das crianças alcançarem uma base sólida e forte em ambas as línguas oficiais, aquando da conclusão do segundo ciclo", explicou.

Esses currículos só preveem que o português comece a ser língua de instrução para componentes curriculares a partir do 4.º ano, dedicando ao ensino do português apenas 25 minutos por semana no 1.º ano.

O tempo real de ensino do português aumenta para 1:15 horas no 2.º ano e 2:30 horas no 3.º e 4.º ano - pode ser ainda mais reduzido, já que muitas das escolas públicas, por falta de professores e demasiados alunos, usam um sistema de turnos.

No que toca ao componente do estudo da língua como componente curricular, o português é meramente oral nos três primeiros anos - 25 minutos por semana no 1.º, 1:15 horas na 2.º e 2:30 horas no 3.º.

O português passa à leitura e escrita apenas a partir do 4.º ano, ainda com 2:30 horas por semana, sendo ampliado ao tempo máximo de 3:20 horas no 5.º e 6.º ano.

"O meu objetivo é que as crianças aprendam e quando me refiro a aprender não é apenas uma língua. Quero que aprendam a fazer contas, aprendam a história de Timor-Leste, aprendam sobre como funciona o seu corpo, como nascem, crescem e vivem os animais e as plantas", disse Dulce Soares.

"Quero que compreendam o mundo, que sejam capazes de resolver problemas, que saibam respeitar-se uns aos outros e que estabeleçam relações sociais saudáveis com os outros", afirmou.

Timor-Leste, sublinhou, é único entre os países da CPLP por ter duas línguas oficiais (português e tétum). Por outro lado, acrescentou, promover o domínio linguístico demora "mais do que uma década", pelo que se deve olhar para experiências na região e no mundo onde esse processo tem tido êxito.

"Temos de analisar estes casos de sucesso, para traçarmos estratégias que também nos permitam ter êxito, (...) que seja um país com duas línguas oficiais dominadas por toda a população", defendeu.

"Um primeiro passo já foi dado, com o currículo do 1.º e 2.º ciclo do ensino básico que estabelece métodos mais eficazes para o ensino da língua, nomeadamente através da progressão linguística do tétum ao português", frisou.

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