Ministra Rosário Palma Ramalho fala em greve geral "inoportuna"

A ministra do Trabalho disse na Grande Entrevista da RTP estar convicta de que a greve geral vai mesmo avançar. Maria do Rosário Palma Ramalho fala numa paralisação "inoportuna", que surge no meio de um processo negocial.

Paulo Alexandre Amaral - RTP /
Foto: João Marques - RTP

Durante a tarde de quarta-feira, a ministra do Trabalho acompanhou o primeiro-ministro, Luís Montenegro, num encontro em São Bento com o secretário-geral da UGT. À saída, Mário Mourão explicou que a reunião não serviu para qualquer negociação do novo pacote laboral, mas para apresentar as razões da adesão à greve geral da central sindical que lidera.

Já à noite, em entrevista na RTP, Maria do Rosário Palma Ramalho disse não acreditar que a UGT venha a cancelar a sua participação numa greve geral que considera "muito inoportuna".

Acrescentou que não esperava outra decisão da CGTP, que "desde o primeiro momento que começámos a discutir este ante-projeto disse logo que era isto o que faria", mas da UGT, que diz "tem sido um parceiro que tem negociado muito com o Governo este projeto", a ministra admite que "apanhou o Governo de surpresa".

Sobre a possibilidade de o Governo recuar no pacote laboral, a ministra do Trabalho fala na apresentação de "um anteprojeto, uma solução normativa em construção" trabalhada "com toda a boa-fé".Contra a nova legislação laboral apresentada pelo Governo, CGTP e UGT juntaram-se na convocação de uma greve geral para 11 de dezembro.

Rosário Palma Ramalho defende que o modelo de aprovação e apresentação do novo plano laboral aos parceiros sociais foi feito de forma a permitir aproximações das partes da negociação.

"E era isso que vínhamos a fazer e é também por isso que a greve causa alguma perplexidade", admitiu, "porque, uma greve geral, não podemos diminuir o seu impacto (...) para os próprios trabalhadores, para os mais vulneráveis, para os doentes".
"Difícil não fazer leitura política da greve"

Sobre a possível instrumentalização da greve que, segundo o primeiro-ministro, servirá os interesses de PS e PCP, a governante disse que "a greve deve ser o último recurso (...) quando há propostas e contrapropostas em cima da mesa para negociar é inoportuno ser feita uma greve" e, conclui, "a leitura política é difícil que não seja feita nestas circunstâncias".

A ministra rejeita que o primeiro-ministro tenha agora entrado nas conversações por ela própria ter falhado na implementação do projeto laboral que, lembra, não é um projeto seu mas do Executivo.
Sobre a existência de uma paz social e agora a eventual agitação a descer à rua, a ministra considera que "em ano e meio o Governo conseguiu repor muita paz social, revalorizou vinte carreiras, algumas delas em ruptura - professores, profissionais de saúde, forças policiais, bombeiros".

Rosário Palma Ramalho, nesse sublinhado de que a greve deve ser o último recurso, classificou este mecanismo como um "instituto danoso", alertando para o impacto social da paralisação – em particular afetando setores como a saúde e os transportes.
Nova legislação a olhar para os jovens
Questionada sobre a implementação de uma instabilidade laboral entre os mais jovens a entrar no mercado de trabalho, a ministra do Trabalho acredita que as mudanças previstas para os contratos a termo foram criadas a pensar na sua situação
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Atualmente, um trabalhador jovem com contrato sem termo e "teoricamente mais estável" pode ter o contrato cessado sem direito a uma compensação ao fim de cinco meses e 29 dias, apontou a governante, para considerar que esta "é uma solução mais precária do que um contrato a termo".A proposta prevê que estes contratos passem a ter uma duração mínima de um ano e que “possam ser renovados até três vezes”, lembrou.

Sobre os despedimentos ilegais e que deixam de contemplar a reintegração nas empresas, a ministra diz que já hoje os empregadores podem opor-se a aceitar o trabalhador. Isso implica que, se o trabalhador não for reintegrado terá direito a uma indemnização mais alta, sendo “a decisão sempre do tribunal”

“O regime já existe e era só aplicável a micro-empresas e chamados trabalhadores de chefia e nós consideramos que faz sentido o mesmo sentido para pequenas e médias empresas [PME]”, sublinhou.
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