Ministro afirma em gravação oculta que Governo de Temer poderia travar operação Lava Jato

por Lusa

Brasília, 23 mai (Lusa) -- O ministro do Planejamento do Brasil, Romero Jucá, terá dito, numa gravação oculta, ao ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, que a mudança no Governo possibilitaria um pacto para travar a Operação Lava Jato, divulgou hoje a imprensa brasileira.

De acordo com o jornal Folha de São Paulo, em conversas ocorridas em março passado, o ministro do Planejamento, senador licenciado Romero Jucá (Partido do Movimento Democrático Brasileiro/PMDB), sugeriu ao ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, que uma "mudança" no Governo Federal resultaria num pacto para "estancar a sangria" representada pela Operação Lava Jato, em que ambos são investigados.

A Operação Lava Jato, da Polícia Federal (PF), investiga a corrupção em empresas públicas, nomeadamente a Petrobras, que envolve políticos e empresários, entre outros.

Segundo a Folha, os diálogos entre Machado e Jucá, gravados de forma oculta, ocorreram semanas antes da votação na Câmara, que desencadeou o processo de destituição da Presidente Dilma Rousseff. As conversas totalizam 01:15 horas e estão em poder da Procuradoria-Geral da República (PGR).

O advogado do ministro do Planejamento, Antonio Carlos de Almeida Castro, afirmou que o seu cliente "jamais pensaria em fazer qualquer interferência" na Lava Jato e que as conversas não contêm ilegalidades.

Machado passou a procurar líderes do PMDB (partido do Presidente interino, Michel Temer) porque temia que as investigações contra ele fossem enviadas de Brasília, onde tramitam no Supremo Tribunal Federal (STF), para a vara do juiz Sérgio Moro, em Curitiba, no Paraná, segundo o jornal.

Na visão de Machado, de acordo com o jornal brasileiro, o envio do seu caso para Curitiba seria uma estratégia para que passasse informações à polícia em troca de redução da pena (delação) e incriminasse líderes do PMDB.

Machado, na gravação, fez uma ameaça velada e pediu que fosse montada uma "estrutura" para o proteger.

Sérgio Machado disse que novas delações na Lava Jato não deixariam "pedra sobre pedra". Romero Jucá concordou que o caso não poderia ficar na mão de Sérgio Moro.

Na gravação, o atual ministro afirmou que seria necessária uma resposta política para evitar que o caso caísse nas mãos de Moro, segundo o jornal brasileiro.

Jucá acrescentou que um eventual Governo Michel Temer deveria construir um pacto nacional "com o Supremo (STF), com tudo".

Sérgio Machado presidiu a Transpetro, subsidiária da Petrobras, por mais de dez anos (2003-2014), e foi indicado "pelo PMDB nacional", como admitiu em depoimento à Polícia Federal. No STF, é alvo de inquérito ao lado de Renan Calheiros, presidente do Senado.

Dois delatores durante as investigações da Lava Jato relacionaram Machado a um esquema de pagamentos que teria Renan Calheiros "remotamente, como destinatário" dos valores, segundo a PF. Um dos colaboradores da Lava Jato, Paulo Roberto Costa, disse que recebeu 500 mil reais (127 mil euros) das mãos de Machado.

Romero Jucá é alvo de um inquérito no STF derivado da Lava Jato por alegado recebimento de subornos. O dono da UTC, Ricardo Pessoa, afirmou em delação que o atual ministro procurou-o para ajudar na campanha de seu filho, candidato a vice-governador de Roraima, e que por isso doou 1,5 milhões de reais (380,7 milhões de euros).

Tópicos
pub