Ministro brasileiro diz que Bolsonaro nunca teve dificuldades em mudar segurança pessoal

O ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) brasileiro, Augusto Heleno, afirmou à Polícia que o Presidente, Jair Bolsonaro, nunca teve "óbices ou embaraços" para substituir membros da sua segurança pessoal, contrariando a versão do chefe de Estado.

Lusa /
Adriano Machado, Reuters

A informação foi avançada na terça-feira pelo jornal O Globo, que citou o depoimento do general Augusto Heleno à Polícia Federal (PF).

"Não houve óbices ou embaraços. Por se tratar de militares da ativa, as substituições do Secretário de Segurança e Coordenação Presidencial, do Diretor do Departamento de Segurança Presidencial e do Chefe do Escritório de Representação do Rio de Janeiro foram decorrentes de processos administrativos internos do Exército Brasileiro", escreveu o ministro, num ofício enviado ao órgão policial.

Heleno confirmou à PF que foram feitas pelo menos duas substituições na segurança de Bolsonaro em março passado.

Questionado sobre se a Presidência forneceu equipa de segurança a amigos de Bolsonaro, o governante afirmou à Polícia que não.

As declarações do ministro do GSI entram assim conflito com as do chefe de Estado, que garante ter-se referido à sua segurança pessoal quando, em 22 de maio, numa reunião ministerial, reclamou que não conseguiu trocar "gente da segurança".

O depoimento de Heleno foi prestado no âmbito de um inquérito aberto em abril pelo Supremo Tribunal Federal (STF), após o ex-ministro da Justiça Sergio Moro ter acusado Jair Bolsonaro de "interferência política na Polícia Federal".

Na ocasião, Moro afirmou que Bolsonaro exonerou o agora ex-chefe da Polícia Federal Maurício Valeixo porque pretendia ter acesso às investigações judiciais, algumas das quais a envolver os filhos ou aliados.

"O Presidente disse-me, mais de uma vez, expressamente, que queria ter uma pessoa do contacto pessoal dele (para quem) ele pudesse ligar, (de quem) ele pudesse colher informações, (com quem) ele pudesse colher relatórios de inteligência. Seja o diretor [da Polícia Federal], seja um superintendente", declarou Moro, quando pediu a demissão no final de abril.

Sergio Moro apontou como prova da alegada interferência de Bolsonaro na Polícia Federal uma reunião ministerial ocorrida em 22 de abril, gravada em vídeo, e cuja divulgação foi decretada pelo STF.

Na reunião de ministros em causa, Bolsonaro disse: "Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro, oficialmente, e não consegui. Isso acabou. Eu não vou esperar f* [palavrão] minha família toda de `sacanagem`, ou amigo meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence à estrutura".

"Vai trocar! Se não puder trocar, troca o chefe dele. Se não puder trocar o chefe troca o ministro. E ponto final. Não estamos aqui para brincadeira", disse o chefe de Estado, visivelmente irritado, no vídeo.

Ao longo do encontro com ministros, Bolsonaro criticou ainda o serviço de informações do Governo, que considerou "uma vergonha".

"Que me desculpe o serviço de informação nosso - todos - é uma vergonha, uma vergonha, que eu não sou informado e não dá para trabalhar assim, fica difícil. Por isso, vou interferir. Ponto final. Não é ameaça, não é extrapolação da minha parte. É uma verdade", afirmou Bolsonaro, exaltado.

A PF informou na terça-feira o STF que pretende recolher "nos próximos dias" o depoimento do Presidente do Brasil, no âmbito desse inquérito.

A Polícia Federal é um órgão autónomo, subordinado ao Ministério da Justiça, embora o diretor seja nomeado pelo Presidente da República.

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