Ministro do Brasil menciona teoria da conspiração após discursar na ONU

O ministro das Relações Exteriores brasileiro mencionou na sexta-feira o `great reset` (grande reinício), uma teoria da conspiração popular em plataformas de extrema-direita sobre a origem da covid-19, após participar numa conferência da ONU.

Lusa /

"A pandemia não pode ser pretexto para controlo social totalitário violando inclusive os princípios das Nações Unidas. As liberdades fundamentais não podem ser vítima da covid-19. Liberdade não é ideologia. Nada de `Great Reset`. Segue a minha fala em sessão da ONU sobre a covid-19", escreveu o ministro Ernesto Araújo na rede social Twitter, ao partilhar um vídeo com a sua participação, na quinta-feira, numa conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre a pandemia do novo coronavírus.

O `great reset` é uma teoria da conspiração que alega que a pandemia da covid-19 teve origem a partir de um projeto secreto de elites, visando impor o seu controlo económico e social às massas.

Em maio, a teoria ganhou uma nova dimensão após o fundador do Fórum Económico Mundial, Klaus Schwab, anunciar a intenção de reunir líderes mundiais e discutir as mudanças climáticas e a reconstrução, de forma sustentável, de economias prejudicadas pela pandemia, num encontro denominado `great reset`, dando início a rumores sobre elites que manipulariam a economia e a sociedade mundiais.

Apesar de no seu discurso da ONU não referir diretamente a expressão `great reset`, Ernesto Araújo falou de "uma armadilha" para suprimir liberdades durante a atual pandemia de covid-19, que já provocou mais de 1,5 milhões de mortos resultantes de mais de 65,2 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência de notícias France-Presse (AFP).

"Aqueles que não gostam da liberdade sempre tentam beneficiar-se dos momentos de crise para pregar o cerceamento da liberdade. Não caiamos nessa armadilha. O controlo social totalitário não é o remédio para nenhuma crise. Não façamos da democracia e da liberdade mais uma vítima da covid-19", disse, sem detalhar a quem se referia, o ministro brasileiro na conferência extraordinária da ONU, que contou com a participação de mais de 90 presidentes e primeiros-ministros com o objetivo de alcançar um compromisso global face à pandemia.

"A covid-19 não pode servir como pretexto para avançar agendas que extrapolam a estrutura constitucional das Nações Unidas", advogou ainda Ernesto Araújo, comentando a situação da pandemia no Brasil, um dos países mais atingidos no mundo, ao contabilizar o segundo maior número de mortos (mais de 6,5 milhões de casos e 175.964 óbitos), depois dos Estados Unidos.

Entre os defensores da teoria do `great reset` encontra-se o QAnon, um movimento que junta várias teorias da conspiração e que surgiu nos Estados Unidos em 2017, e que já ganhou uma versão brasileira que se tem espalhado rapidamente entre apoiantes do Governo do Presidente, Jair Bolsonaro.

O movimento nasceu na extrema-direita norte-americana em fóruns na internet, onde um anónimo (QAnon) passou a fazer publicações com informações falsas em que alegava ter informações secretas de agências de segurança sobre um grupo liderado por uma elite corrupta formada por pedófilos satanistas que sequestravam e sacrificavam crianças.

No Brasil, o QAnon adaptou-se à narrativa conspiratória local e os seus disseminadores, que dizem defender valores cristãos e conservadores, usam as redes sociais para espalhar mentiras contra pessoas que fazem críticas ao atual Governo liderado por Jair Bolsonaro.

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