Misoginia de Trump causa deserções de vulto na campanha

por RTP
Jamie Fine, Reuters

Figuras de proa do Partido Republicano reagiram à revelação de comentários misóginos de Donald Trump demarcando-se do candidato e deixando pairar a dúvida sobre a sua atitude face à candidatura. Começam a ouvir-se as primeiras vozes sugerindo que Trump ceda o lugar ao seu número dois.

O líder republicano Reince Priebus foi dos mais contidos, sem propor nem sugerir qualquer espécie de consequências práticas do que vem sendo descrito como uma derrapagem de Trump. Ainda assim, Priebus afirmou que "as mulheres nunca devem ser descritas com tais expressões" e que "sobre as mulheres nunca pode falar-se desta forma".

O chefe da fracção republicana na Câmara dos Representantes, Paul Ryan, já foi mais longe e cancelou a participação num comício de campanha ao lado de Trump, que estava agendado para sábado no Wisconsin.

Ryan admitiu que os comentários de Trump o põem "doente" e sublinhou que "as mulheres não podem ser degradadas à condição de objecto". Embora sem exigir que se tire do incidente alguma determinada consequência prática, declarou: "Espero que o sr. Trump reflicta seriamente sobre este caso".

O antigo candidato presidencial republicano John McCain, actualmente no Arizona em campanha para a sua própria reeleição para o Senado, foi ainda mais incisivo, tendo falado de "consequências", embora sem especificar quais.

McCain mostrou pouca expectativa em que Trump possa ainda ter emenda: "Não há desculpa para as afirmações lesivas e humilhantes de Donald Trump. Mulher alguma devia alguma vez ser vítima de um comportamento assim". E acrescentou que só Trump deveria "arcar com as consequências", em frase sibilina que está a ser interpretada como sugestão de que o candidato renuncie.

Também Ted Cruz, senador do Texas e antigo rival de Trump na corrida à investidura republicana, classificou os comentários do candidato como "preocupantes e inadequados", acrescentando que "não há desculpa para eles". O senador republicano pela Florida, Marco Rubio, considerou as palavras de Trump "vulgares e impossíveis de justificar".

O que é, na linguagem críptica de McCain e de Cruz, uma possível sugestão, torna-se na linguagem desabrida de Mike Lee, senador republicano do Utah, uma vocal exigência de renúncia à candidatura, dirigida a Trump, que Lee divulgou num emotivo apelo em vídeo.


Do mesmo modo, Gary Herbert, o governador republicano do Utah, retirou formalmente o seu apoio a Trump, dizendo que, caso o mantivesse, não poderia olhar de frente a sua filha de 15 anos. Jason Chaffetz, congressista republicano pelo mesmo Estado, disse à cadeia de televisão Fox que já não pode, de consciência tranquila, manter o apoio à candidatura presidencial "desta pessoa".

O congressista republicano do Estado do Colorado Mike Coffman apelou a Trump para que renuncie, com um argumento mais pragmático: "Neste ponto, a derrota dele parece quase certa". Em termos semelhantes, expressou-se a congressista republicana Barbara Comstock.

Por seu lado, Jon Huntsman, antigo governador do Estado de Utah e antigo embaixador na China, apelou à renúncia do candidato. Huntsman, que apoiava Trump com reservas conhecidas, disse ontem à noite que, "de qualquer modo, esta campanha eleitoral tem ido sempre de mal a pior". E lançou uma proposta concreta: "É tempo de Mike Pence [o candidato de Trump à vice-presidência] assumir a candidatura".

O nome de Pence ganha, entretanto, popularidade pelo contraste entre o seu desempenho televisivo, relativamente bem sucedido, e o de Trump, que foi desastroso no primeiro debate com Hillary Clinton.
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