Figuras de proa do Partido Republicano reagiram à revelação de comentários misóginos de Donald Trump demarcando-se do candidato e deixando pairar a dúvida sobre a sua atitude face à candidatura. Começam a ouvir-se as primeiras vozes sugerindo que Trump ceda o lugar ao seu número dois.
O chefe da fracção republicana na Câmara dos Representantes, Paul Ryan, já foi mais longe e cancelou a participação num comício de campanha ao lado de Trump, que estava agendado para sábado no Wisconsin.
Ryan admitiu que os comentários de Trump o põem "doente" e sublinhou que "as mulheres não podem ser degradadas à condição de objecto". Embora sem exigir que se tire do incidente alguma determinada consequência prática, declarou: "Espero que o sr. Trump reflicta seriamente sobre este caso".
O antigo candidato presidencial republicano John McCain, actualmente no Arizona em campanha para a sua própria reeleição para o Senado, foi ainda mais incisivo, tendo falado de "consequências", embora sem especificar quais.
McCain mostrou pouca expectativa em que Trump possa ainda ter emenda: "Não há desculpa para as afirmações lesivas e humilhantes de Donald Trump. Mulher alguma devia alguma vez ser vítima de um comportamento assim". E acrescentou que só Trump deveria "arcar com as consequências", em frase sibilina que está a ser interpretada como sugestão de que o candidato renuncie.
Também Ted Cruz, senador do Texas e antigo rival de Trump na corrida à investidura republicana, classificou os comentários do candidato como "preocupantes e inadequados", acrescentando que "não há desculpa para eles". O senador republicano pela Florida, Marco Rubio, considerou as palavras de Trump "vulgares e impossíveis de justificar".
O que é, na linguagem críptica de McCain e de Cruz, uma possível sugestão, torna-se na linguagem desabrida de Mike Lee, senador republicano do Utah, uma vocal exigência de renúncia à candidatura, dirigida a Trump, que Lee divulgou num emotivo apelo em vídeo.
Do mesmo modo, Gary Herbert, o governador republicano do Utah, retirou formalmente o seu apoio a Trump, dizendo que, caso o mantivesse, não poderia olhar de frente a sua filha de 15 anos. Jason Chaffetz, congressista republicano pelo mesmo Estado, disse à cadeia de televisão Fox que já não pode, de consciência tranquila, manter o apoio à candidatura presidencial "desta pessoa".
O congressista republicano do Estado do Colorado Mike Coffman apelou a Trump para que renuncie, com um argumento mais pragmático: "Neste ponto, a derrota dele parece quase certa". Em termos semelhantes, expressou-se a congressista republicana Barbara Comstock.
Por seu lado, Jon Huntsman, antigo governador do Estado de Utah e antigo embaixador na China, apelou à renúncia do candidato. Huntsman, que apoiava Trump com reservas conhecidas, disse ontem à noite que, "de qualquer modo, esta campanha eleitoral tem ido sempre de mal a pior". E lançou uma proposta concreta: "É tempo de Mike Pence [o candidato de Trump à vice-presidência] assumir a candidatura".
O nome de Pence ganha, entretanto, popularidade pelo contraste entre o seu desempenho televisivo, relativamente bem sucedido, e o de Trump, que foi desastroso no primeiro debate com Hillary Clinton.