Missão brasileira avalia situação das tropas em Porto Príncipe

Porto Príncipe, 24 Set (Lusa) - Uma missão de avaliação das tropas brasileiras no Haiti, composta por 24 militares e uma funcionária civil do Exército, chegou terça-feira a Porto Príncipe e visitou a maior favela da capital - Cité Soleil -, um retrato dantesco da miséria humana.

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Chefiada pelo General de Divisão Carlos Norberto Lanzellotte, sub-chefe de Logística do Estado Maior de Defesa, que coordena as operações de paz no Haiti, a missão pôde ver várias áreas alagadas nesse bairro ironicamente chamado de Cidade do Sol.

As inundações são rastros dos recentes furacões e tempestades que atingiram este país das Caraíbas, um dos mais pobres e violentos do mundo.

Apesar da miséria, as crianças sorriem, entre pedidos insistentes de comida, e o povo mostra-se receptivo à comitiva brasileira, sempre cercada por patrulhas da Polícia do Exército.

Segundo a avaliação dos próprios militares, os modos expansivos e carinhosos dos brasileiros, que facilitam a interacção com a população haitiana, são um dos factores do sucesso da participação do Brasil na Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti (MINUSTAH).

"Nós viemos cumprir uma missão e fazemos tudo para cumpri-la bem. O nosso jeito de ser, a nossa característica de aproximar-nos do povo, integrar-nos, ajuda muito e leva-nos a ter informações privilegiadas", disse à Lusa o Tenente Coronel Rolant Vieira Júnior.

Segundo o militar, há cerca de um ano e meio, seria impossível caminhar pelas ruas de Cité Soleil, fotografar e interagir com os moradores daquela região antes controlada por gangues, que foi palco dos principais conflitos durante a fase de pacificação do Haiti.

As mudanças no decorrer da missão de paz reflectem-se também no comportamento das tropas.

Segundo a psicóloga Mirsa Maria Araújo Quintão, a única funcionária civil desta missão de avaliação, os factores de stress dos militares são agora diferentes da fase inicial.

"De acordo com os estudos que foram desenvolvidos, a maior causa de stress no início era o medo da morte. Hoje, os soldados são mais vulneráveis à miséria da população, principalmente em relação às crianças", afirmou Mirsa à Lusa.

A análise da psicóloga, que participa na selecção, acompanhamento e desmobilização dos militares, é confirmada pelo 3º Sargento Alexsander Laranjeiras, no Haiti desde Maio último.

"O que mais mexe comigo é a fome, a pobreza deste povo. Esta cidade está abandonada, as necessidades de alimentação e saneamento básico são urgentes. Quando a gente vê as crianças passando fome, no meio do esgoto, a gente pensa nos nossos filhos. Não tem como não doer ", lamentou o militar brasileiro, de 39 anos.

Pai de dois meninos, Laranjeiras disse que vai voltar diferente para o Brasil em Dezembro próximo.

"Eu vou voltar diferente por dentro. Vou dar valor a coisas que antes não dava. Esta é uma experiência gratificante para mim, porque a gente acompanha o sofrimento deste povo e sabe que está ajudando este país que passa por tantas dificuldades", disse Laranjeiras à Lusa.

Actualmente, a MINUSTAH, comandada pelo General de Brigada brasileiro Carlos Alberto dos Santos Cruz, é composta por 7.025 militares de diversos paises, sendo o efectivo brasileiro de 1.194 homens, todos voluntários.

O nono contingente brasileiro da MINUSTAH, que chegou em Maio ao Haiti, retorna ao Brasil em Novembro, dando continuidade à rotação, a cada semestre, dos militares empregados na missão.

"A rotação leva três semanas e, em cada substituição, há uma viagem de reconhecimento dos militares que virão e outra de avaliação sobre dados operacionais, fluxo logístico, instalações, tudo para atender às necessidades da tropa e melhorar o seu desempenho", explicou o General Lanzellotte à Lusa.

A missão de avaliação das tropas brasileiras ficará no Haiti até ao final da semana, regressando sábado ao Brasil.

A comitiva chegou a Porto Príncipe um dia após o previsto, devido a uma falha na bateria da aeronave da Força Aérea Brasileira, que ficou retida em Manaus até que o problema fosse solucionado.

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