Missão da OMS à China. Origem do SARS-CoV-2 fica por determinar

A equipa de especialistas nomeada pela Organização Mundial da Saúde para investigar a origem do SARS-CoV-2 concluiu a sua missão de 28 dias na cidade chinesa de Wuhan, onde foram diagnosticados os primeiros casos de Covid-19. Para já, o único cenário que parece "improvável" é a possibilidade de o novo coronavírus tenha escapado de um laboratório chinês.

Cristina Sambado - RTP /
A equipa da OMS, que esteve durante 28 dias na China, abandona esta quarta-feira o país Alex Plavevski - EPA

As descobertas sugerem que a hipótese de se tratar de um incidente num laboratório é extremamente improvável”, afirmou Peter Ben Embarek, especialista em segurança alimentar e doenças animais da Organização Mundial da Saúde (OMS), durante um balanço da investigação.

O Instituto de Virologia de Wuhan, um dos principais laboratórios de pesquisa de vírus na China, construiu um arquivo de informações genéticas sobre coronavírus em morcegos, após o surto de Síndrome Respiratória Aguda Grave, que surgiu no país em 2003.

Isso levou a várias alegações de que a Covid-19 poderia ter saído daquelas instalações, uma teoria promovida pelo anterior Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Os outros cenários

A equipa da OMS, que incluiu especialistas de dez países, juntamente com cientistas chineses, visitou hospitais, institutos de pesquisa e o mercado de frutos do mar de Wuhan onde foram diagnosticados os primeiros casos de infeção pelo vírus SARS-CoV-2, que causa a doença Covid-19, e levantou quatro cenários.

Além da possibilidade de se ter tratado de um coronavírus que escapou de um laboratório, a equipa analisou outras três hipóteses.

Uma a eventualidade de uma única pessoa ter sido exposta ao SARS-CoV-2 por meio de um contacto direto com a espécie hospedeira, o morcego-ferradura. O vírus pode ter circulado entre humanos algum tempo antes ser descoberto em Wuhan, uma das cidades mais densamente povoada da China.

Outro cenário, visto pelos investigadores como mais provável, envolve a transmissão por humanos através de uma espécie intermédia ainda desconhecida. Liang Wannian, especialista da Comissão Nacional de Saúde da China, considera que os pangolins são potenciais candidatos, mas outros animais – incluindo visons e até gatos, também podem ser hospedeiros.

A outra possibilidade é que a Covid-19 se originou nos outros dois cenários e foi então transmitida por produtos congelados. Especialistas chineses atribuíram os aglomerados da doença a alimentos congelados importados e levantaram também a possibilidade que possa ter causado o surto de infeção pelo novo coronavírus detetado em dezembro de 2019 em Wuhan.
Quando começou o surto?
Segundo os especialistas, apesar de ser improvável que existissem surtos em grande escala em Wuhan ou em qualquer lugar da China antes de dezembro de 2019, a hipótese de que o vírus já circulava noutros locais não pode ser descartada.

Um cruzamento direto de morcegos ou de uma espécie intermédia sugere que a transmissão em Wuhan pode ter sido facilitada por redes de comércio de animas selvagens.

Marion Koopmans, outro dos especialistas da equipa da OMS, considerou que os animais selvagens, à venda no mercado de frutos do mar no mercado de Huanan, podem ser rastreados em regiões com habitats de morcegos conhecidos por alojar vírus estritamente relacionados ao SARS-CoV-2.

Uma dessas regiões é a província de Yunnan no sudoeste da China, mas os investigadores não descartam a hipótese de a primeira transmissão entre humanos ter ocorrido através da fronteira com o Laos ou o Vietname.
A transmissão aos humanos

Apesar de o mercado de Huanan, na cidade de Wuhan, estar ligado aos primeiros casos, a transmissão entre animais e humanos não aconteceu lá.

Liang Wannian frisa que não há evidências suficientes para determinar que o vírus entrou em Huanan, mas que era evidente que já circulava noutras zonas da cidade de Wuhan.

Estudos de vários países sugerem que houve circulação de SARS-CoV-2 durante várias semanas antes da deteção inicial de casos. Alguma das amostras suspeitas de serem positivas foram detetadas antes de os primeiros casos relatados. Isso indica que é possível que não se tenha relatado a sua circulação noutras regiões”, acrescentou Liang.

Ben Embarek acrescenta que o novo coronavírus pode ter sido introduzido no mercado de frutos do mar através de um “produto”, incluindo animais selvagens congelados que são muito suscetíveis ao vírus.
O papel da China
Pequim expressou preocupação com a possibilidade de qualquer investigação à origem do SARS-CoV-2 ser “politizada” e revelou que só colaboraria se ficasse claro de que não seria culpada pela pandemia de Covid-19.

Ao descartar a possibilidade do vírus ter escapado de um laboratório e ao aceitar que a pandemia poderia ter sido originada fora da China, a equipa da OMS não cruzou nenhuma das linhas de Pequim.

A China congratulou-se com o facto de que a equipa da OMS não ter descartado a teoria dos produtos congelados.

No entanto, as descobertas dificilmente vão satisfazer os que acreditam que a China é culpada e encobriu as evidências.
Outras pesquisas
O especialista em segurança alimentar e doenças animais da Organização Mundial da Saúde sublinha que a China tem agora de encontrar evidências que provem que o novo coronavírus já circulava antes de dezembro de 2019. E que as amostras do banco de sangue seriam um bom local para começar novas investigações.

As comunidades de morcegos perto de Wuhan foram descartadas como fonte, mas é necessário pesquisar nas cavernas de outras regiões para tentar encontrar uma correspondência mais próxima ao SARS-CoV-2.

Para Ben Embarek, os animais à venda no mercado de Huanan também necessitam de ser mais descortinados, e o papel desempenhado pela cadeia de produtos congelados alvo de mais pesquisas.

c/ agências
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