MNE grego desloca-se à Turquia e apela ao diálogo entre os dois países

Quase uma semana depois do violento sismo que devastou várias regiões da Síria e da Turquia, o ministro grego dos Negócios Estrangeiros, Nikos Dendias, deslocou-se à cidade turca de Antakya, manifestando apoio e solidariedade apesar das divisões e rivalidade histórica entre Istambul e Atenas.

Andreia Martins - RTP /
O ministro grego dos Negócios Estrangeiros, Nikos Dendidas, foi recebido este domingo pelo homólogo russo, Mevlut Cavusoglu, em Adana, numa das zonas mais atingidas pelo sismo em território turco. Ministério grego dos Negócios Estrangeiros via Reuters

As imagens da televisão turca mostram o ministro Nikos Dendias a ser recebido em Adana de forma calorosa pelo seu homólogo turco, Mevlut Cavusoglu.

Os dois governantes estiveram juntos e deslocaram-se de helicóptero às zonas mais devastadas pelo sismo de segunda-feira, que provocou mais de 33 mil mortos na Turquia e Síria.

"Trago ao Governo e ao povo turco as mais sinceras condolências do governo e do povo grego"
, disse o ministro grego numa conferência de imprensa em Antakya, onde estão várias equipas de resgate gregas a participar em operações de busca e salvamento.

A ajuda grega foi das primeiras a chegar ao terreno, com equipas a participarem nas operações nas primeiras horas após o sismo.

Dendias e Cavusoglu louvaram a cooperação dos dois países após o sismo devastador e apelaram em conjunto à melhoria das relações entre os dois países, rivais históricos e com disputas territoriais em curso.

“Esta é uma demonstração de solidariedade do povo grego para com a Turquia e a população turca. A Grécia foi um dos primeiros países a oferecer ajuda após o terramoto"
, reconheceu o MNE turco, Mevlut Cavusoglu.

O ministro turco lembrou ainda o sismo de 1999, quando ambos os países foram atingidos por sismos e estiveram juntos nos esforços de recuperação.

"Não devemos esperar por um novo terramoto para desenvolver as nossas relações. (…) Digo isto como cidadão, mas penso o mesmo como ministro dos Negócios Estrangeiros da Turquia. Espero que façamos esforços para chegar a uma solução para as nossas divergências por meio de um diálogo sincero", afirmou.

No mesmo sentido, o MNE grego considerou que os dois países não devem “esperar por desastres naturais” para melhorarem as relações diplomáticas, sendo que ambos os países estão localizados junto a grandes falhas sísmicas.
Tensão no Egeu

As palavras de Nikos Dendias e Mevlut Cavusoglu após o sismo contrastam com o tom agressivo usado pelos responsáveis dos dois países durante o ano de 2022, marcado por uma escalada nas provocações de parte a parte.

Estados vizinhos e membros da NATO, Grécia e Turquia mantêm a tradição de ajuda e assistência mútua em situações de catástrofes naturais, mas contam ainda assim um histórico de rivalidade e de grandes tensões diplomáticas.


Ainda em dezembro, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, ameaçava diretamente as autoridades gregas, acenando com a possibilidade de lançar um míssil sobre Atenas. “Agora começámos a fazer os nossos próprios mísseis. Claro que esta produção assusta os gregos”, vincava o presidente turco.

Em resposta, o ministro grego dos Negócios Estrangeiros, Nikos Dendias, comparava as ameaças turcas às de Kim Jong-un.

“É inaceitável e universalmente condenável que haja ameaças de ataques com mísseis contra a Grécia, contra um país aliado e membro da NATO. Atitudes como as da Coreia do Norte não podem ter lugar na Aliança Atlântica”, sublinhou o chefe da diplomacia grega.

A discórdia histórica tem origem numa disputa com várias décadas no Mar Egeu, onde existem várias ilhas com grande interesse estratégico, sobretudo devido aos recursos naturais da região.


No século XX, a rivalidade adensou-se devido à questão de Chipre, ilha de maioria cipriota grega, invadida pelos turcos em 1974. Na altura, foi proclamada a República turca do Chipre do Norte contra a condenação da comunidade internacional e a contestação dos gregos cipriotas, em maioria naquele território insular. Desde então, esta entidade carece de reconhecimento, com grande parte do mundo a atribuir à República de Chipre a soberania sobre toda a ilha.

Cerca de 37 por cento da ilha de Chipre ficou nas mãos da Turquia após a operação Átila, entre julho e agosto de 1974.

Para além da questão do Chipre, existe a tensão constante entre gregos e turcos devido ao elevado número de ilhas gregas muito próximas do território turco. Nos últimos anos, a Grécia tem reforçado a militarização destas ilhas, incluindo Castelorizo, a cerca de três quilómetros da costa turca.

Estas questões têm provocado grande combate diplomático entre os dois países, sobretudo no que diz respeito à delimitação de águas territoriais, do espaço aéreo e das zonas económicas exclusivas.

Também a situação dos migrantes, sobretudo na ilha grega de Lesbos, localizada a cerca de 12 quilómetros da custa turca, tem estado no centro das querelas diplomáticas entre ambos os países, sendo vista pelos refugiados que chegam a território turco como uma possível porta de entrada para a União Europeia.
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