O Ministério da Defesa de Moçambique considera que deve ser investigado o abate à queima-roupa de uma mulher nua e indefesa, filmado à beira de uma estrada por homens com uniformes militares e metralhadoras, noticiou hoje a imprensa.
"Factos desta natureza deverão sempre ser denunciados por todas as forças vivas da sociedade, devendo ser investigados para apurar a sua autenticidade e veracidade, com vista à devida responsabilização", refere-se num comunicado do ministério, divulgado hoje pelo Jornal Notícias e pela Rádio Moçambique.
O vídeo, de origem desconhecida e sem localização identificada, começou a circular nas redes sociais no mesmo dia, apresentado como um retrato da situação de violação de direitos humanos no conflito de Cabo Delgado, norte de Moçambique, entre rebeldes e forças moçambicanas.
São cerca de dois minutos de imagens em contínuo, captadas por um dos membros do grupo de agressores fardados e armados e em que se ouvem palavras em português.
À beira de uma estrada asfaltada, o grupo começa por espancar violentamente uma mulher que caminha sozinha, nua e depois acaba por abatê-la com várias rajadas de metralhadora, ouvindo-se no final "já mataram a Al-Shebab", nome dado na região aos insurgentes que atacam Cabo Delgado desde 2017.
"As Forças de Defesa e Segurança (FDS) consideram as imagens chocantes, abusivas, repugnantes, horripilantes e acima de tudo condenáveis em todas as suas dimensões", acrescenta-se no comunicado do Ministério da Defesa.
No documento, as FDS reafirmam o compromisso de "proteger e salvaguardar os direitos humanos, em estrita observância pelas leis nacionais relevantes e ao direito internacional humanitário. As FDS reiteram que não pactuam com qualquer ato bárbaro que consubstancie a violação dos direitos humanos", conclui.
O vídeo começou a circular dias depois de a Amnistia Internacional ter pedido às autoridades moçambicanas que investiguem alegados abusos por parte das suas forças em Cabo Delgado, com base noutros vídeos que mostram torturas e vítimas de execuções sumárias.
O Ministério da Defesa respondeu, referindo que as imagens podem ter sido feitas pelos insurgentes que os militares estão a combater, rebeldes que já noutras ocasiões foram filmados com os uniformes das FDS moçambicanas.
Na mesma resposta, o ministério declarou estar aberto a toda a investigação no sentido de apurar a verdade e disse estar alinhado com a promoção dos direitos humanos.
Os confrontos em Cabo Delgado, desencadeados por forças classificadas como terroristas, duram há três anos e estão a provocar uma crise humanitária com mais de mil mortos e cerca de 365.000 deslocados internos.