Moçambique. HRW alerta para "condições precárias" de milhares de deslocados

A Human Rights Watch (HRW) alertou hoje para as "condições precárias" em que vivem, em campos "sobrelotados", milhares de deslocados após ataques de grupos extremistas no norte de Moçambique, pedindo a intervenção do Governo.

Lusa /
Lusa

"Os deslocados internos no norte de Moçambique, incluindo muitas crianças, vivem em condições extremamente precárias, sem alimentação adequada, cuidados de saúde, abrigo e apoio psicológico", afirmou Sheila Nhancale, pesquisadora daquela Organização Não-Governamental (ONG), citada no comunicado da HRW.

"As autoridades moçambicanas precisam tomar medidas imediatas para atender às suas necessidades e protegê-los de maiores riscos", apela ainda, acrescentando que o Governo moçambicano "deve trabalhar com agências internacionais para fornecer apoio suficiente às pessoas necessitadas".

Por outro lado, recorda que entre 10 e 23 de novembro, um grupo armado ligado ao Estado Islâmico de Moçambique "matou 12 civis na província de Cabo Delgado e 21 na província de Nampula", no norte. Citando dados da Organização Internacional para as Migrações (OIM), a ONG aponta que, nesse período, os ataques "forçaram cerca de 108 mil pessoas, incluindo cerca de 70 mil crianças, a fugir de suas casas no distrito de Memba, em Nampula, para áreas já sobrelotadas em Eráti e outras localidades costeiras".

Por fim, acrescenta que os deslocados "vivem em escolas, prédios administrativos e outros espaços não projetados para abrigar pessoas", enquanto "as condições de higiene e saneamento nesses locais se deterioraram, com surtos de doenças diarreicas e malária".

Pelo menos 12.580 deslocados pelos ataques no distrito de Memba, província de Nampula, norte de Moçambique, já regressaram às zonas de origem, divulgaram hoje as autoridades locais.

O administrador do distrito de Memba, Manuel Cintura, disse à Lusa que este número corresponde a mais de 2.000 famílias que "nas últimas semanas" acabaram por "abandonar voluntariamente os centros de acolhimento no distrito de Eráti".

As autoridades de Memba, junto à província de Cabo Delgado, confirmam que a situação de segurança melhorou substancialmente, devolvendo confiança às famílias para regressar às zonas de origem. O ambiente, segundo avançou Manuel Cintura, é descrito como "controlado, mas vigilante".

Cerca de 25 mil pessoas fugiram de ataques de grupos terroristas nos últimos dias de novembro na província de Nampula, elevando a quase 108 mil o número de deslocados em três semanas, segundo dados divulgados pela OIM em 03 de dezembro.

Segundo o mais recente relatório da OIM, a verificação conjunta entre a agência das Nações Unidas e as autoridades locais "confirmou o deslocamento de 22.202 famílias", totalizando 107.784, entre 16 e 30 de novembro, que deixaram os postos administrativos Mazua, Chipene e Lúrio, distrito de Memba.

Em causa, refere-se, estão os ataques de grupos armados não estatais no distrito de Memba, entre 10 e 17 de novembro. No balanço anterior, com dados de 11 a 25 de novembro, estavam registados 82.691 deslocados, essencialmente do distrito de Memba para o de Eráti.

A organização ACLED estimou no início deste mês que a província moçambicana de Cabo Delgado registou 14 eventos violentos entre 10 e 23 de novembro, envolvendo extremistas do Estado Islâmico e provocando 12 mortos.

De acordo com o mais recente relatório da organização de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos (ACLED, na sigla em inglês), dos 2.270 eventos violentos registados desde outubro de 2017, quando começou a insurgência armada em Cabo Delgado, um total de 2.107 envolveram elementos associados ao Estado Islâmico Moçambique (EIM).

Estes ataques provocaram 6.341 mortos em pouco mais de oito anos.

A província de Cabo Delgado, também no norte de Moçambique, rica em gás, é alvo de ataques extremistas há oito anos, com o primeiro ataque registado em 05 de outubro de 2017, no distrito de Mocímboa da Praia.

 

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