Moçambique. ONG pede urgência em rastreio familiar face aos novos ataques
O Instituto de Psicologia Paz de Moçambique (IPPM) pediu hoje "urgência de ações de rastreio familiar" face aos ataques extremistas em Cabo Delgado, citando o caso de menina de 14 anos que fugiu com uma bebé de 4 meses.
"Durante o registo de crianças desaparecidas, a Assana [uma associação local em Cabo Delgado], parceira do IPPM, identificou uma adolescente de 14 anos que fugiu de Mecolene [distrito de Chiúre] com um bebé de 4 meses, separados da mãe. O bebé está a ser amamentado por uma outra mulher", refere-se num relatório do IPPM sobre a recente onda de violência naquela província moçambicana, alvo de ataques desde 2017.
A adolescente citada faz parte das 57 mil pessoas deslocadas desde 20 de julho em Cabo Delgado, após o recrudescimento de ataques de extremistas, segundo dados da Organização Internacional para as Migrações (OIM) consultados pela Lusa.
De acordo com a Organização Não-Governamental (ONG) IPPM, o relato "reforça a urgência de ações de rastreio familiar e proteção imediata", bem como a necessidade do "estabelecimento de planos de contingência comunitária", incluindo rotas de evacuação e simulacros em caso de ataque.
O relatório do IPPM indica situações de mais crianças afetadas pelo conflito: "Foram encaminhadas oito crianças não acompanhadas à Plan International, sendo que cinco já foram reunidas com as famílias. Em Micone, identificaram-se seis crianças desaparecidas".
A fonte indica ainda que o caso de um pai que reportou a "perda da esposa e cinco filhos" durante o ataque a Marera, posto administrativo de Ocua, no distrito de Chiúre, e que "foi sequestrado e colocado num camião com outros civis, mas conseguiu fugir durante a chegada dos militares", enquanto os restantes civis "terão sido executados pelos terroristas no local".
Os relatos, segundo o IPPM, reforçam a necessidade de "ações de capacitação em primeiros socorros, para que as comunidades possam desenvolver maior resiliência, mesmo em cenários extremos como o sequestro ou retenção forçada".
Elementos associados ao grupo extremista Estado Islâmico reivindicaram na segunda-feira novos ataques nos distritos de Chiúre e Muidumbe, com pelo menos cinco pessoas decapitadas, num momento crescente de violência naquela província moçambicana.
A reivindicação, feita através dos canais de propaganda do Estado Islâmico, refere que numa aldeia de Chiúre foram capturadas e decapitadas quatro pessoas, na sexta-feira. No domingo, outra pessoa foi capturada e morta em Muidumbe, igualmente por elementos alegadamente pertencentes ao grupo Ahlu-Sunnah wal Jama`a (ASWJ).
No final da semana passada, o mesmo grupo já reivindicara um outro ataque em Chiúre e a morte de 18 paramilitares `naparamas`. O grupo extremista reivindicou as mortes neste ataque em Walicha, e a destruição de "dezenas de casas" e motorizadas.
Os `naparamas` são paramilitares moçambicanos que surgiram na década de 1980, durante a guerra civil, aliando conhecimentos tradicionais e elementos místicos no combate aos inimigos, atuando em comunidade. Em Cabo Delgado, estas milícias apoiam as Forças de Defesa e Segurança (FDS) no combate aos extremistas que atuam localmente desde 2017 e já provocaram mais de um milhão de deslocados em toda a província.
Vários distritos de Cabo Delgado, sobretudo Chiúre, estão a registar uma crescente atividade por parte de elementos destes grupos nos últimos dias. Na semana passada, extremistas reivindicaram também a decapitação, em locais diferentes, de pelo menos três cristãos moçambicanos.
O ministro da Defesa Nacional admitiu, na quinta-feira, preocupação com a onda de novos ataques em Cabo Delgado, adiantando que as forças de defesa estão no terreno a perseguir os rebeldes armados.