Moçambique. PR critica militares "que só conhecem o terrorismo pelas redes sociais"
O Presidente moçambicano criticou hoje militares formados nas academias que "só conhecem o terrorismo pelas redes sociais" e que rejeitam a "linha de fogo" no norte do país, alvo de ataques de grupos extremistas.
"A brincadeira de termos muitos oficiais formados nas academias, mas que só conhecem o terrorismo pelas redes sociais também deve acabar. Lembrem-se que ninguém frequenta uma academia militar por obrigação, é um ato voluntário e até se concorre. Não faz sentido que, depois de graduado, este indivíduo, que escolheu esta profissão, não queira ir aplicar o que aprendeu durante a formação na linha de fogo", disse Daniel Chapo.
O chefe do Estado falava hoje, em Maputo, na abertura do conselho coordenador do Ministério da Defesa, no qual afirmou que existem "cancros" que debilitam a saúde da Defesa nacional.
"[Há também] o problema de existirem militares que não têm condições físicas para o exercício da profissão, mas que não são passados à reforma", afirmou Daniel Chapo.
O Presidente quer ainda que o Ministério da Defesa aprimore os métodos de recrutamento, defendendo que só assim se assegura que o país não vai treinar aqueles que um dia irão se "virar contra o Estado".
"É urgente trazer de volta os oficiais das Forças Armadas de Defesa de Moçambique que estão a prestar serviços em outros setores na área civil, para reforçarmos o nosso efetivo. Como se explica que haja muita gente das Forças Armadas a prestar serviços fora da corporação, numa situação que somos alvos do terrorismo? Todos somos poucos no combate a este mal que é o terrorismo", afirmou Chapo, apontando até ao final de janeiro de 2026 para se apresentar a lista nominal e respetivas afetações desses militares.
O chefe do Estado moçambicano quer que o setor da defesa "desmantele" o alegado esquema de pagamento de subsídios de empenhamento a militares nas cidades, referindo que estas ajudas são para quem se encontra a combater no teatro operacional norte.
"O serviço cívico deve deixar de ser emprego para os limpinhos e fofinhos, como alguns de voz lhes apelidam. É preciso sujar as mãos na produção de comida para alimentar a nossa força e reforçar a nossa logística. Não estamos a afirmar que a produção agropecuária do serviço cívico deve ser entregue aos chefes e comandantes para fazer ranchos nas suas casas como habitualmente acontece. Aquela produção do serviço cívico é para alimentar a nossa força", concluiu o Presidente moçambicano.
A província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, rica em gás, é alvo de ataques de extremistas islâmicos há oito anos, com o primeiro ataque registado em 05 de outubro de 2017, no distrito de Mocímboa da Praia. Entretanto, verificam-se novas movimentações dos grupos armados no distrito de Memba, na província de Nampula, também no norte de Moçambique.
A organização de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos (ACLED, na sigla em inglês) estima que Cabo Delgado foi palco de 14 eventos violentos entre 10 e 23 de novembro, envolvendo extremistas do Estado Islâmico, dos quais resultaram 12 mortos.
De acordo com o mais recente relatório da ACLED, dos 2.270 eventos violentos registados em Cabo Delgado, um total de 2.107 envolveram elementos associados ao Estado Islâmico Moçambique (EIM).
Estes ataques provocaram em pouco mais de oito anos 6.341 mortos, refere-se no balanço, incluindo as 12 vítimas reportadas nestas duas semanas de novembro.