Moçambique. Quase 1.600 pessoas fugiram de Muidumbe em poucos dias

Quase 1.600 pessoas fugiram em poucos dias do distrito de Muidumbe, província moçambicana de Cabo Delgado, devido aos ataques de grupos terroristas, segundo dados da Organização Internacional para as Migrações (OIM).

Lusa /
Ricardo Franco - EPA

De acordo com o mais recente relatório do terreno daquela agência das Nações Unidas, desde 13 de novembro que o distrito assiste a "uma presença significativa de grupos armados não estatais", provocando "deslocamentos devido à insegurança e ao medo de novos ataques nas áreas circundantes".

As equipas de campo da Matriz de Monitoramento de Deslocamento (DTM) registaram, segundo o relatório da OIM, a chegada de 1.593 pessoas, em 490 famílias, a três centros de reassentamento mais próximos de Muidumbe.

"Mulheres e crianças representam a maioria dos recém-chegados", respetivamente 411 e 923, e as "necessidades humanitárias imediatas incluem assistência alimentar, abrigo e itens não alimentares", acrescenta.

O último ataque conhecido em Muidumbe aconteceu no passado sábado, em que pelo menos uma pessoa morreu e outra ficou ferida após a incursão de supostos rebeldes em Nampanha, a 25 quilómetros da sede daquele distrito, relataram à Lusa fontes locais.

O ataque ocorreu às 22:00 (20:00 de Lisboa), quando o grupo entrou na comunidade a disparar, levando a população a refugiar-se nas matas de Muidumbe nos dias seguintes, enquanto outra parte da comunidade seguiu para Mueda, distrito considerado seguro.

Além de Nampanha, as comunidades de Namande, Namacule e Muambula, próximas da aldeia atacada, também abandonaram a região por medo de novas incursões.

Um levantamento da organização de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos (ACLED, na sigla em inglês), noticiado anteriormente pela Lusa, estima que a província moçambicana de Cabo Delgado registou 11 eventos violentos entre 27 de outubro e 09 de novembro, essencialmente envolvendo elementos ligados ao movimento extremista Estado Islâmico, provocando dez mortos entre civis.

De acordo com o mais recente relatório da ACLED, dos 2.251 eventos violentos registados desde outubro de 2017, quando começou a insurgência armada em Cabo Delgado, um total de 2.077 envolveram elementos associados ao Estado Islâmico Moçambique (EIM).

Estes ataques provocaram 6.316 mortos em pouco mais de oito anos, refere-se no novo balanço, incluindo as dez vítimas reportadas nestas duas semanas, entre outubro e novembro.

A primeira-ministra moçambicana, Benvinda Levi, reconheceu na semana passada a "persistência de ações terroristas" como um dos principais desafios do país, mas apontou uma "estabilização" no terreno, que tem permitido o "regresso gradual" das populações às zonas de origem.

"Um dos principais desafios que o nosso país regista de momento é a persistência de ações terroristas em alguns distritos de Cabo Delgado, onde estes têm estado a recorrer, entre outros `modos operandi`, a ataques esporádicos e dispersão em pequenos grupos", reconheceu, ao intervir no parlamento para prestar informações aos deputados.

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