Moçambique. Reitor da Católica critica normalização e pede solução sem armas
O reitor da Universidade Católica de Moçambique, Filipe Sungo, criticou a normalização do terrorismo na província de Cabo Delgado, norte do pais, e defendeu soluções diversificadas além das armas, oito anos após o inicio do conflito.
"A progressiva tendência de normalizar o conflito, de o reduzir aos noticiários como uma questão distante e incompatível com o projeto de uma nação una, soberana e indivisível que pretendemos construir", disse o reitor, citado hoje pela comunicação social local.
Acrescentou que todos os atores sociais, nomeadamente académicos, sociedade civil e políticos, devem procurar uma abordagem diversificada, que vá além das armas, mas também a justiça social.
"Engajemo-nos, enquanto sociedade civil, académica e política, na busca consertada de soluções para esta crise. Precisamos de uma abordagem diversificada, que incorpore não apenas a segurança, mas também a justiça social e o desenvolvimento económico", referiu.
Filipe Sungo recordou que o conflito armado já vai na metade de tempo em que durou a guerra civil em Moçambique (1977 a 1992) e diz que tal deve servir de "grave alerta", sobre a necessidade de encarar o terrorismo como problema de Moçambique como um todo.
"É imperioso que compreendamos todos que este não é um problema apenas de Cabo Delgado, é um problema de Moçambique no seu todo", disse.
A província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, rica em gás, é alvo de ataques extremistas há oito anos, com o primeiro ataque registado em 05 de outubro de 2017, no distrito de Mocímboa da Praia.
Um levantamento da organização de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos (ACLED, na sigla em inglês) estima que a província moçambicana de Cabo Delgado registou, pelo menos, 12 eventos violentos entre 13 e 26 de outubro, essencialmente envolvendo extremistas ligados ao Estado Islâmico, provocando 18 mortos entre civis.
De acordo com o mais recente relatório da ACLED, dos 2.236 eventos violentos registados desde outubro de 2017, quando começou a insurgência armada em Cabo Delgado, um total de 2.061 envolveram elementos associados ao Estado Islâmico Moçambique (EIM).
Estes ataques provocaram em pouco mais de oito anos 6.659 mortos, refere o novo balanço, incluindo as 18 vítimas reportadas em menos de duas semanas em outubro.
A "dispersão da atividade" por Cabo Delgado sugere que estes grupos operam em unidades dispersas, permitindo "aos insurgentes expandir as operações para além dos tradicionais redutos", refere-se ainda no relatório.