Moçambique. Três mortos por alegados rebeldes em Meluco
Pelo menos três pessoas foram mortas por alegados grupos rebeldes, na comunidade de Ravia, a cerca de 60 quilómetros da sede do distrito de Meluco, na província de Cabo Delgado, norte de Moçambique, disseram hoje à Lusa fontes locais.
"Mataram três pessoas, uma delas eu a conhecia", disse uma fonte à Lusa, a partir de Meluco, referindo que as vítimas foram mortas com recurso a uma catana.
Segundo fonte locais, as mortes ocorreram na quinta-feira, nas matas da comunidade de Ravia, numa zona de produção agrícola, quando os camponeses estavam a debulhar ervilha.
Entre as vítimas está, supostamente, um membro do grupo de guerrilheiros tradicionais naparamas, que apoiam os militares no combate ao terrorismo em Cabo Delgado.
"Estava lá um jovem naparama que estava a trabalhar na sua machamba [campo agrícola] também foi morto", disse a fonte, acrescentando que o funeral decorreu no sábado, após ajuda de membros da força local de Meluco para retirar os corpos, outro grupo de antigos guerrilheiros que também apoia no combate aos insurgentes.
"Os corpos foram enterrados no sábado porque no mesmo dia não era possível, o fogo estava intenso lá no mato", disse outra fonte, também a partir do distrito de Meluco.
A província de Cabo Delgado, rica em gás e que sofre ataques desde 2017, regista um recrudescimento de ataques de grupos rebeldes desde julho, tendo sido alvos os distritos de Chiúre, Muidumbe, Quissanga, Ancuabe, Meluco e mais recentemente Mocímboa da Praia.
A "escalada de ataques" e "aumento do medo e violência" por grupos terroristas no norte de Moçambique provocaram nos últimos dias 4.218 deslocados em três distritos de Cabo Delgado, segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM).
De acordo com um relatório do terreno da OIM, consultado hoje pela Lusa, esta escalada registou-se entre 25 de agosto e 11 de setembro nos distritos de Muidumbe, Mocímboa da Praia e Montepuez.
No final de julho, ataques de grupos terroristas no sul da província de Cabo Delgado já tinham provocado mais de 57 mil deslocados no distrito de Chiúre, segundo relatório da OIM.
O Governo moçambicano lamentou na terça-feira passada os ataques terroristas registados nos últimos dias em Cabo Delgado, referindo que é papel do Estado perseguir, retardar e travar os ataques para que a população tenha "menos sofrimento possível".
"Lamentamos este infortúnio, mas não paramos nesta componente da lamentação por isso é que estamos com forças empenhadas para o efeito e detalhes deste serão dados, se este for o caso, pelas entidades de segurança que estão efetivamente no terreno ou então pelos responsáveis ao nível central", disse Inocêncio Impissa, porta-voz do Conselho de Ministros, após mais uma sessão do órgão, em Maputo.
Só em 2024, pelo menos 349 pessoas morreram em ataques, no norte de Moçambique, a maioria reivindicados pelo grupo extremista Estado Islâmico, um aumento de 36% face ao ano anterior, segundo um estudo divulgado pelo Centro de Estudos Estratégicos de África (ACSS), uma instituição académica do Departamento de Defesa do Governo norte-americano.