Moção de confiança. Boris Johnson vence com 211 votos a favor

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Reuters

O primeiro-ministro britânico derrubou esta segunda-feira uma moção de censura levantada pelo seu próprio partido, com 211 votos a favor e 148 contra. Boris Johnson conseguiu, assim, manter o seu lugar em Downing Street e fica impedido de ser novamente desafiado internamente durante 12 meses.

Boris Johnson sobreviveu esta segunda-feira a uma moção de censura do seu Partido Conservador. Segundo o presidente do Comité Conservador, Graham Brady, 211 deputados votaram a favor de Johnson e 148 contra. 

Johnson conseguiu os votos favoráveis de pelo menos metade dos deputados do seu partido (180 deputados), o que significa que permanece no cargo e não pode ser desafiado novamente durante 12 meses.
O resultado indica ainda que cerca de 59 por cento dos deputados tories mantiveram a confiança em Boris Johnson - uma percentagem inferior à da sua antecessora, Theresa May, que em 2018 sobreviveu a uma moção de censura com 200 votos a favor e 117 contra.

Apesar da vitória, o resultado indica que os deputados conservadores estão bastante divididos sobre o desempenho de Boris Johnson como líder do partido e, sobretudo, como primeiro-ministro. Muitos deputados conservadores pró-Boris Johnson defendem, inclusivamente, que este resultado abre uma guerra interna no partido e alegam que Johnson venceu tecnicamente mas perdeu politicamente.
O próprio exemplo de Theresa May prova que o resultado desta segunda-feira não garante a segurança de Johnson enquanto primeiro-ministro, dado que a sua antecessora, apesar de ter saído igualmente vitoriosa de uma moção de censura, acabaria por anunciar a demissão seis meses depois, dado o isolamento dentro do seu partido.
Boris Johnson descreve resultado como uma "boa notícia"
Boris Johnson descreveu a sua vitória como uma “boa notícia”, sublinhando que o resultado desta segunda-feira é “convincente” e “decisivo” e permitirá ao governo “seguir em frente”, deixando para trás as polémicas do “Partygate”.

"Acho que é um resultado convincente, um resultado decisivo e o que significa é que, como governo, podemos seguir em frente e concentrarmo-nos nas coisas que realmente importam para as pessoas", disse o primeiro-ministro britânico aos jornalistas.


"O que precisamos agora é de nos unir como país e como partido" vincou, atribuindo a polémica atual à cobertura mediática e rejeitando planos para eleições legislativas antecipadas.A moção de censura foi desencadeada depois de pelo menos 54 deputados conservadores terem escrito uma carta a manifestar o descontentamento com o desempenho de Boris Johnson e a exigir uma votação de confiança.

A moção foi impulsionada, em parte, pelos escândalos relacionados com as festas ilegais em Downing Street durante o confinamento, nas quais Boris Johnson esteve presente – um processo que ganhou o nome de “Partygate”. As polémicas deixaram Boris Johnson cada vez mais isolado dentro do Partido Conservador, com a sua popularidade a cair a pique.

Em maio, seis meses depois de conhecido o primeiro escândalo das festas durante a pandemia, Boris Johnson recebeu o relatório de Sue Gray, a alta funcionária do Estado responsável pelo inquérito interno.

O inquérito culpou o primeiro-ministro pelas festas e embora Johnson tenha assumido “total responsabilidade” pelos incumprimentos, reiterou que não vai resignar ao cargo.

O primeiro-ministro do Reino Unido e o ministro das Finanças, Rishi Sunak, foram multados por terem participado nas festas que violaram as regras vigentes durante o confinamento, no contexto da pandemia da covid-19. Até ao momento foram aplicadas 50 multas a funcionários do Governo britânico.
Reações ao resultado da moção

Para o líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer, os eleitores britânicos enfrentam agora uma escolha “mais clara do que nunca”: um Partido Trabalhista unido ou um Partido Conservador dividido.

“Conservadores divididos que apoiam Boris Johnson sem nenhum plano para resolver os problemas que vocês estão a enfrentar. Ou um Partido Trabalhista unido com um plano para consertar a crise do custo de vida e restaurar a confiança na política”, disse Starmer no Twitter.


Em comunicado, Starmer acrescentou que é “grotesco” que os deputados conservadores tenham votado para apoiar alguém sem “sentido de dever”.

O ex-ministro David Jones disse à agência Reuters que Boris Johnson ficará “aliviado” com esta votação, mas também perceberá que “a próxima prioridade é reconstruir a coesão do partido”.

Já o ex-ministro conservador David Davis disse que o voto de confiança em Johnson foi "prematuro". Questionado sobre o que acha do resultado, Davis disse não estar surpreso. “Já me ouviram dizer que se tratou de uma votação prematura”, defendeu, afirmando que o Reino Unido irá ficar agora num “limbo” durante um ano.

Outros deputados foram menos otimistas. Um deputado conservador disse à agência Reuters sob condição de anonimato que o resultado desta segunda-feira "é claramente muito pior do que a maioria das pessoas esperava. Mas é muito cedo para dizer o que acontecerá agora".
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