Molécula permite diagnosticar doença de Alzheimer antes dos primeros sintomas

Investigadores norte-americanos descobriram um método de detecção precoce da doença de Alzheimer nalguns pacientes, graças a técnicas de imagiologia associadas a uma nova molécula que se fixa às proteínas anormais desta patologia.

Agência LUSA /

Segundo um estudo hoje publicado na revista New England Journal of Medi cine, o método permite "ver em tempo real no cérebro" e identificar os dois prin cipais marcadores da doença em pessoas que só poderão virão a desenvolver Alzhei mer vários anos depois.

"O estudo indica que poderemos dispor de um novo instrumento de diagnós tico para detectar as predisposições para Alzheimer em pessoas em risco, talvez anos antes dos sintomas se tornarem evidentes", declarou Gary Small, director do Centro da Idade da Universidade da Califórnia e Los Angeles (UCLA) e principal autor do trabalho.

Para Tiago Fleming Outeiro, um neurocientista português que investiga n a Universidade de Harvard (EUA) os mecanismos moleculares envolvidos nas doenças neurodegenerativas, esta descoberta "tem grande importância por permitir diagno sticar Alzheimer numa fase mais precoce do que o habitual".

"Como em qualquer doença deste tipo, é importante intervir o mais cedo possível para tentar adiar o seu desenvolvimento", disse este investigador à agê ncia Lusa.

Não existe ainda nenhum instrumento de diagnóstico para esta doença deg enerativa crónica incurável, que é responsável por uma deterioração progressiva de funções cognitivas como a atenção, a percepção, a memória, a inteligência e a linguagem.

A nova molécula consegue associar as duas proteínas características da patologia, nomeadamente os depósitos anormais ou placas pépticas (fragmentos pro teicos) de beta amilóide e as proteínas Tau, que se acumulam sob a forma de fila mentos patológicos nas células nervosas.

A equipa da UCLA testou o seu novo método numa amostra de 83 pessoas, e ntre os quais pôde distinguir os pacientes em risco.

A experiência consistiu em injectar nos indivíduos um componente radioa ctivo para os examinar depois com um scanner PET (Tomografia por Emissão de Posi trão), sendo que 72 foram examinados através de IRM (Imagiologia por Ressonância Magnética).

Os investigadores puderam assim identificar 25 doentes prováveis de Alz heimer, 28 pessoas que sofriam de uma ligeira degradação cognitiva e 30 com resu ltados normais.

O método revelou-se também eficaz, segundo os seus autores, para seguir a progressão da doença no tempo.

Scanners posteriores feitos a 12 pacientes cujas funções mentais se det erioraram mostraram que quanto mais avançava a doença, mais elevada era a concen tração do marcador químico nas zonas do cérebro onde se acumulam as proteínas an ormais.

"Este exame poderá ser para a doença de Alzheimer o mesmo que uma análi se ao colesterol para uma doença ou um ataque cardíacos, ou seja um sinal de ala rme que permite uma intervenção médica precoce no processo da doença", concluiu Gary Small.

A doença de Alzheimer afecta cerca de 25 milhões de pessoas em todo o m undo, mas o envelhecimento da população fará com que a doença e outras formas de demência atinjam 42 milhões em 2020 e mais de 81 milhões em 2040, segundo uma e stimativa de doze peritos internacionais publicada em finais de 2005 pela revist a médica britânica The Lancet.

Neste contexto, segundo Tiago Fleming Outeiro, "qualquer descoberta que permita uma intervenção terapêutica mais eficaz vai ter um grande impacto a nív el mundial, e isso passa também pela capacidade de diagnosticar e caracterizar a s diferentes formas da doença".

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