"Momento significativo de diálogo". Papa reúne-se com vítimas de abuso sexual da Igreja

O papa esteve reunido, pela primeira vez, com vítimas de abuso sexual cometido por membros da Igreja. Informação confirmada por alguns dos participantes e pela Ending Clergy Abuse, dias depois de a Comissão de Proteção à Criança, criada pelo Vaticano, ter acusado os líderes católicos de serem muito lentos a ajudar as vítimas.

Inês Moreira Santos - RTP /
Massimo Percossi - EPA

Leão XIV reuniu-se esta segunda-feira com o grupo internacional de vítimas e considerou que o encontro foi “um momento significativo de diálogo”. Foi a primeira vez, desde que assumiu o pontificado, que se encontrou com pessoas vítimas ou relacionadas com casos de abuso sexual dentro da Igreja – tema que o papa evita falar.

De acordo com o Ending Clergy Abuse, estiveram presentes seis pessoas vítimas de abusos no encontro que durou cerca de hora e meia.

A Igreja tem sido abalada com escândalos em todo o mundo, nas últimas décadas, envolvendo casos de abuso e tentativas de encobrimento dos mesmos. Na semana passada, foi divulgado um relatório que criticava bispos e membros de alto escalão da Igreja Católica por não fornecerem informações às vítimas sobre os processos após as denúncias e relatos das próprias, ou se os clérigos associados tinham sido pelo menos sancionados.

Gemma Hickey, uma sobrevivente canadiana que participou na reunião, disse à Reuters que o papa ouviu atentamente as vítimas.

"O papa Leão é muito caloroso, ouviu-nos"
, disse Hickey. "Dissemos-lhe que viemos como construtores de pontes, prontos para caminhar juntos em direção à verdade, à justiça e à cura”.

“Saí da reunião com esperança”, disse Janet Aguti, outra sobrevivente que também esteve presente. “É um grande passo para nós”.Ainda segundo a organização, Leão XIV disse estar ainda a tentar lidar com a enormidade dos escândalos da Igreja.

"Acho que ainda está em uma fase em que está tentar descobrir a melhor forma de abordar essas questões", disse Matthias Katsch. "A época em que um papa dizia uma frase e tudo estava resolvido acabou".

A organização e os participantes pediram ao papa Leão XIV que criasse uma política global de tolerância zero para padres acusados de abuso, algo que as vítimas têm defendido.

Timothy Law, cofundador da Ending Clergy Abuse, afirmou ainda ter referido ao sumo pontífice da Igreja Católica que os bispos dos Estados Unidos têm uma lei de tolerância zero, promulgada em 2002 após várias reportagens sobre escândalos de abuso em Boston.

"Por que não podemos universalizá-la?", questionou.

Leão XIV, o ex-cardeal Robert Prevost, é conhecido por se ter encontrado com sobreviventes no início de carreira, quando era missionário e bispo no Peru. O antecessor, o papa Francisco, fez do combate aos abusos cometidos pelo clero uma prioridade nos 12 anos de papado.

c/ agências
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