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Monica Lewinsky e os limites às perguntas dos jornalistas
A conferencista e ativista, também antiga estagiária da Casa Branca, Monica Lewinsky, deixou o palco e a entrevistadora a falar sozinha quando questionada com uma pergunta que considerou “fora dos limites”. Os limites para as perguntas dos jornalistas são um dos temas mais debatidos entre os académicos da Comunicação Social. Mas, afinal, é legítimo colocar barreiras à imprensa ou devem os jornalistas aceitar que há temas tabu sem os tentar contornar?
Para sempre conotada com a relação extra-conjugal que teve com Bill Clinton quando era estagiária da Casa Branca há 23 anos, a agora psicóloga, ativista e conferencista Monica Lewinsky protagonizou um momento insólito quando, em Jerusalém, abandonou o palco após a primeira pergunta de uma entrevista que se queria de 15 minutos.
“Desculpe-me. Não serei capaz de fazer isto”, respondeu Monica Lewinsky, tendo pousado o microfone e abandonado o palco perante o espanto da entrevistadora e pivot do Canal 2 israelita Yonit Levi.
Tinha havido previamente uma discussão com a entrevistadora sobre os temas da entrevista e Lewinsky deixou claro que apenas iria responder sobre o tema da intervenção que fora fazer em Jerusalém, deixando de lado tudo o que dissesse respeito ao ex-presidente dos Estados Unidos, incluindo a pergunta em causa.
Mais tarde, numa reflexão no Twitter, Lewinsky disse que a pergunta “era um desrespeito flagrante do acordo”, tendo ficado claro naquele momento “que tinha sido enganada”.
so here’s 👇🏻 what happened... pic.twitter.com/Y7gLs3SDLF
— Monica Lewinsky (@MonicaLewinsky) 3 de setembro de 2018
“Saí porque agora é mais importante do que nunca as mulheres defenderem-se e não permitirem que os outros controlem a sua narrativa”, escreveu na rede social, lamentando que a sua participação na conferência tenha terminado desta forma.
Em resposta, a cadeia de televisão israelita garante que “a pergunta em causa era legítima e respeitosa, e que não ultrapassava as solicitações nem os limites” de Monica Lewinsky.
Perigos e contributos da Internet no caso Clinton-Lewinsky
Monica Lewinsky deslocou-se a Jerusalém para falar sobre os perigos e contributos da Internet e das redes sociais, bem como dar uma breve entrevista logo após a conferência, a convite da televisão pública de Israel.
Lewinsky também admitiu que o movimento #MeToo mudou a perspetiva que tinha sobre este relacionamento, bem como das consequências pessoais. “Não creio que me teria sentido tão isolada se o que aconteceu em 1998 tivesse acontecido em 2018”, disse à plateia em Jerusalém. “Em geral eu estava sozinha. Publicamente sozinha. Abandonada pela principal figura desta crise, que me conhecia bem e intimamente”, contou.
Na palestra, Lewinsky disse que o caso com o caso beneficiou do poder de propagação da Internet, tendo passado, num único dia, de desconhecida a figura pública totalmente humilhada. O poder intimidatório da Internet e a responsabilidade de cada um nas escolhas que faz online foram também abordados por Lewinsky.
A antiga estagiária falou publicamente pela primeira vez sobre a relação com Bill Clinton em 2014. Em março, escreveu na revista Vanity Fair, aquando dos 20 anos da investigação, que a relação com o antigo Presidente dos Estados Unidos foi “um grande abuso de poder” mas “não uma agressão sexual”.