Montenegro, o pequeno Estado que enterrou o que restava da antiga Jugoslávia

Os montenegrinos escolheram domingo, em referendo, a independência face à Sérvia, o que permite o regresso do Montenegro à soberania decretada pela primeira vez em 1878 e põe fim à última união da antiga Jugoslávia.

Agência LUSA /

A República do Montenegro é uma pequena e montanhosa república balcânica de 13,812 quilómetros quadrados, com mais de 650.000 habitantes, onde o grupo étnico montenegrino é maioritário, seguido do sérvio, bósnio e do albanês.

Presentemente, é uma das duas repúblicas constituintes do Estado da Sérvia e Montenegro e tem como capital Podgorica, antiga Titogrado.

Durante muito tempo, o Montenegro - que faz fronteira com o mar Adriático a Sudoeste, a Albânia a Sudeste e a Bósnia-Herzegovina e uma pequena língua de terra da croácia a Oeste - foi um principado autónomo numa altura em que o império Otomano dominava os Balcãs.

A sua independência foi formalmente reconhecida pelo Tratado de Berlim de 1878, o mesmo que reconheceu ainda a independência da Bulgária, da Roménia e da vizinha Sérvia.

Entre 1910 e 1918 o Montenegro foi um reino, com a auto- proclamação do príncipe Nicolau como rei.

O Reino do Montenegro terminou em 1918 com o fim da Primeira Guerra Mundial, altura em que o país foi integrado, juntamente com a Bósnia-Herzegovina e a Macedónia, no "Reino dos Sérvios, Croatas e Eslovenos", que posteriormente passou a denominar-se "Reino da Jugoslávia" em 1929.

Durante a Segunda Guerra mundial, foi nas montanhas do Montenegro que se refugiaram os partidários de Josip Broz Tito, futuro General Tito, que posteriormente se tornou no grande líder da união jugoslava.

A região foi libertada em 1944 e tornou-se então uma das seis repúblicas da República Socialista da Jugoslávia.

Esta entidade terminou com a separação e independência da Eslovénia, Croácia, Bósnia-Herzegovina e Macedónia, durante as guerras sangrentas dos anos 90 nos Balcãs.

Restou apenas a união tensa entre o Montenegro e a Sérvia, 15 vezes maior em número de população, formando a nova República Federal da Jugoslávia, governada por Slobodan Milosevic e com um grande predomínio da entidade sérvia dentro da federação, embora fosse permitido a Podgorica beneficiar de uma autonomia praticamente total.

O Montenegro já tinha referendado a separação da Sérvia em 1992, altura em que cerca de 96 por cento dos votos foram favoráveis à continuação da união numa votação considerada "obscura" por observadores enviados pela comunidade internacional.

O Governo do actual primeiro-ministro Milo Djukanovic começou em 1996 a desenvolver uma política pró-independentista e a preparar o afastamento do Montenegro em relação à Sérvia, então sob o Governo de Milosevic, desenvolvendo uma política económica independente e trocando o `dinar` pelo `marco alemão`.

Actualmente, usa como moeda o `euro`, ainda que a república não esteja integrada nem na União Europeia nem na Eurolândia, mas a sua Constituição prevê como língua oficial o Sérvio, apesar de a maioria da população usar também o montenegrino.

Em 2002 a Sérvia e o Montenegro assinaram um novo acordo de cooperação dentro da federação jugoslava.

No ano seguinte a denominação República Federal da Jugoslávia desapareceu oficialmente, dando lugar à actual entidade intitulada Sérvia e Montenegro, em negociações mediadas pela União Europeia que previam a possibilidade de o Montenegro realizar um referendo sobre a independência até 2006.

Apesar de o referendo ter sofrido diversos adiamentos, em 2004 o parlamento do Montenegro adoptou uma nova bandeira, hino e dia nacional, sendo escolhido o 13 de Julho, o dia em que, pelo Tratado de Berlim, o Montenegro foi reconhecido como o 27/o Estado independente do Mundo.

O Montenegro realizou finalmente o seu referendo da independência domingo, 21 de Maio de 2006, em que 55,4 por cento dos votantes escolheram a constituição de um Estado independente da Sérvia, segundo anunciou hoje oficialmente a Comissão Eleitoral, acabando com o que restava da antiga Jugoslávia.

Esta percentagem é suficiente para ultrapassar a barreira de 55 por cento imposta pela União Europeia para reconhecer este novo Estado.

Durante a campanha para este referendo, Belgrado insistiu em que os dois países permanecessem juntos e tomou abertamente partido pelos unionistas, considerando as aspirações independentistas do seu pequeno vizinho como equivalente a uma traição.

Domingo, dia do referendo, o primeiro-ministro montenegrino, Milo Djukanovic, considerou que o referendo sobre a independência da República abre uma perspectiva de entrada na União Europeia.


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