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Morreu o general Colin Powell

por RTP
Foi o primeiro afro-americano a ocupar o posto de Chefe de Estado-Maior das Forças Armadas e também o primeiro afro-americano secretário de Estado.

O general, o primeiro secretário de Estado dos EUA afro-americano, morreu com 84 anos, vítima de complicações da Covid-19.

Numa publicação na sua página na rede social Facebook, a família Powell refere que o general tinha o esquema de vacinação completo e agradeceu os cuidados ao Hospital Walter Reed, onde os presidentes norte-americanos costumam receber tratamento. 
   
"Perdemos um marido, pai e avô notável e amoroso, e um grande americano", escreve a família na publicação no Facebook.

Como general de quatro estrelas do Exército, Colin Powell foi chefe do Estado-Maior das Forças Armadas do presidente George H. W. Bush durante a Guerra do Golfo de 1991, durante a qual os norte-americanos expulsaram as tropas iraquianas do vizinho Kuwait. Foi o primeiro afro-americano a ocupar este posto.

Powell, um republicano moderado e pragmático, serviu mais tarde como secretário de Estado do presidente George W. Bush. É também o primeiro afro-americano a ocupar esta função. O general foi uma peça chave no Governo de George W. Bush na luta contra o terrorismo, após os ataques de 11 de Setembro de 2001.

Defensor da guerra do Iraque, Powell fez a 5 de fevereiro de 2003, no Conselho de Segurança das Nações Unidas, um longo discurso sobre as armas de destruição em massa alegadamente detidas pelo Iraque. Estes argumentos foram invocados pelo presidente norte-americano George W. Bush como principal motivo para justificar uma invasão do país.

O presidente americano alegava que o homólogo iraquiano Saddam Hussein constituía um perigo iminente para o mundo por causa das armas químicas e biológicas que tinha armazenadas. 

Posteriormente, Powell admitiu que este discurso constituiu uma "mancha" na sua reputação, por estar repleto de inexatidões e de brechas nas informações de segurança, fornecidas por outros elementos da Administração Bush. "É uma mancha porque fui eu que fiz essa apresentação em nome dos Estados Unidos para o mundo, e ela sempre fará parte do meu histórico", disse.

As forças norte-americanas invadiram o Iraque e estiveram até 2011 no país, onde 4.500 militares morreram e 32 mil foram feridos.

Numa entrevista com a jornalista Barbara Walters, em 2005, Powell disse que "havia pessoas na comunidade dos serviços secretos que sabiam na altura que as fontes não eram fiáveis, que não deviam ter merecido confiança, e que não falaram. Isso devastou-me".

Enquanto principal responsável pela diplomacia norte-americana, Powell teve alguns desentendimentos com elementos da Casa Branca mais predispostos ao belicismo, como o vice-presidente Dick Cheney e o secretário de Defesa Donald Rumsfeld. Apesar disso, Powell continuou um soldado leal, sem fazer grandes protestos nem expressar o seu desacordo.

"A lealdade é um traço que valorizo ​​e, sim, sou leal", disse Powell em entrevista a Barbara Walters. “Há quem diga: Não devia ter apoiado, devia ter renunciado.' Mas estou feliz porque Saddam Hussein se foi", afirmou Powell.

Powell anunciou a renúncia por "acordo mútuo" aquando da reeleição de George W. Bush em 2004.
Do Harlem para a Casa Branca

Filho de imigrantes jamaicanos, Colin Powell nasceu a 5 de abril de 1937, no Harlem, e cresceu na cidade de Nova York, onde estudou Geologia.

Entrou para a carreira militar em 1958. Inicialmente esteve na Alemanha e foi depois enviado para o Vietname, onde foi ferido. Numa segunda missão neste país, foi encarregado de chefiar o inquérito ao massacre de My Lai, em que o exército americano matou centenas de civis desarmados. O tom do seu relatório foi criticado por dar a entender que os americanos não tinham qualquer responsabilidade naquele que foi um dos episódios mais negros da história do Exército dos Estados Unidos.

Depois da guerra, serviu como conselheiro nacional de segurança de Ronald Reagan, de 1987 a 1989. 

A experiência no Vietname levou-o a desenvolver a chamada "Doutrina Powell", segundo a qual, se os Estados Unidos intervêm num conflito estrangeiro, então devem implantar uma força poderosa com objetivos políticos claros.

Colin Powell serviu diretamente mais três presidentes: George H. W. Bush, para quem concebeu a estratégia da invasão militar norte-americana do Panamá, que visava derrubar o ditador Manuel Noriega, em 1989. Este sucesso valeu a Powell a atribuição da responsabilidade da operação Tempestade no Deserto durante a Guerra do Golfo (1990-91). 

Powell foi ainda chefe de Estado-Maior das Forças Armadas durante a governação de Bill Clinton.

Abandonada a carreira militar em 1993, Powell mantém as ligações à área através das conferências e dos livros, tendo sido por várias vezes apontado como um possível candidato do Partido Republicano à Casa Branca, apesar da sua condição de independente.

Mais tarde, em 2001, aceita o convite de George W. Bush, que escolheu o principal militar do país durante a presidência do pai para seu secretário de Estado.

No entanto, em 2008, Powell rompeu com o Partido Republicano para manifestar publicamente o seu apoio à candidatura presidencial do democrata Barack Obama. Também apoiou as candidaturas de Hillary Clinton e de Joe Biden.
Um servidor do Estado
As reações à morte de Colin Powell chegam de todo o mundo. Um dos primeiros a reagir foi o antigo presidente George W. Bush.

"Ele era um grande servidor público, que começou a sua vigília enquanto soldado no Vietname. Muitos presidentes confiaram nos conselhos e experiência do general Powell. Ele foi de tal maneira um favorito dos Presidentes que ganhou duas vezes a medalha presidencial da Liberdade. Ele era altamente respeitado em casa e no estrangeiro. E, mais importante, Colin era um homem de família e um amigo", escreveu o antigo presidente, deixando ainda palavras de apreço à família do general.

Já o atual secretário da Defesa considera que "o mundo perdeu um dos maior líderes que alguma vez testemunhámos".

"Alma perdeu um grande marido e a família um enorme pai e eu perdi um tremendo amigo e mentor. Ele foi meu mentor por vários anos. Sempre teve tempo para mim e eu sempre pude ir ter com ele com assuntos difíceis. Ele tinha sempre bons conselhos", evoca Lloyd Austin, que não deixa de destacar que Powell foi o primeiro afro-americano a ser tanto chefe de Estado-Maior das Forças Armadas como secretário de Estado.

A antiga secretária de Estado Madeleine Albright sublinha que perdeu um amigo. "Colin Powell era um ícone americano cuja carreira no serviço público vai sempre ser celebrada e lembrada, mas para mim era simplesmente o meu amigo Colin".

"Embora tenhamos crescido em contextos diferentes, ligámo-nos através das histórias das nossas famílias imigrantes, do nosso profundo amor à América e da nossa convicção na importância no serviço público", refere a antiga governante.

"Ele era um homeme sábio e de princípios, um amigo leal e uma das pessoas mais gentis que já conheci. Sou uma pessoa melhor por o ter conhecido e a América é um local melhor por causa dele", concluiu Madeline Albright.

O senador Mitt Romney destacou a coragem e o caráter de Powell, bem como o legado e a honra que o seu exemplo inspiram.

Do Reino Unido, o antigo primeiro-ministro Tony Blair escreveu que Colin Powell foi "uma figura cimeira da liderança militar e política americana durante muitos anos, alguém com um imensa capacidade e integridade, uma personalidade agradável e um grande companheiro com um adorável e auto-depreciativo senso de humor".

"Era maravilhoso trabalhar com ele, inspirava lealdade e respeito e era um daqueles líderes que sempre tratavam os que estavam abaixo com gentileza e respeito. A sua vida é um exemplo não apenas do serviço público dedicado mas da crença no trabalho para além das divisões partidárias no interesse do seu país", reagiu Blair.

John Major foi outro dos antigos primeiro-ministros britânicos a comentar a morte de Colin Powell.

"Era um dos melhores homens que já conheci. E, talvez, um dos melhores americanos que nunca foi presidente. Tanto no exército como no governo liderou com autoridade calma e foi uma inspiração para todos aqueles que serviram com ele", disse Major.

"Durante a primeira Guerra do Golfo - como chefe do Estado-Maior das Forças Armadas - não poderíamos ter desejado um aliado mais forte, nem um que comandasse com tanto respeito e afeto as nossas Forças Armadas", evocou o antigo primeiro-ministro.
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