Morte de negro após detenção empurra Baltimore para o estado de sítio

A violência eclodiu na cidade norte-americana de Baltimore. Manifestantes protestaram de forma violenta depois de um homem negro ter morrido em circunstâncias ainda pouco claras. Freddie Gray sucumbiu a ferimentos sofridos sob custódia policial. As autoridades já decretaram o estado de emergência e está em vigor um recolher obrigatório. A atuação da polícia está a ser investigada a nível federal.

Christopher Marques, RTP /
Os conflitos ultrapassaram as fronteiras do arremesso, tendo-se seguindo a destruição de lojas e de veículos da polícia. Shannon Stapleton, Reuters

Cenário de guerra em Baltimore, no Estado do Maryland. As viaturas queimadas e os comércios destruídos são os vestígios de uma noite de pilhagens e protestos que assolaram aquela cidade norte-americana. A violência eclodiu a cerca de 60 quilómetros de Washington, pouco depois do fim das cerimónias fúnebres de Freddie Gray. Freddie Gray morreu a 19 de abril depois de ter sofrido uma lesão na espinal medula, quando se encontrava sob custódia policial.

Em nome da justiça, contra a violência policial, os jovens de Baltimore começaram por atirar pedras e garrafas contra as autoridades.

“Acredito que eles pensaram que seria engraçado atirar blocos de cimento contra a polícia”, respondeu o comissário Anthony Batts. A contrariar a resposta de Batts estão os relatos no local. Pelo menos um agente da autoridade também atirou pedras contra os manifestantes, refere The Guardian.

Os conflitos ultrapassaram as fronteiras do arremesso. Seguiu-se a destruição de lojas e veículos da polícia, um dos quais, refere a publicação britânica, tinha ainda um agente no seu interior. A polícia respondeu com gás lacrimogéneo e gás pimenta.



Os conflitos acalmaram com um balanço pesado. Pelo menos 27 pessoas foram detidas e 15 agentes policiais ficaram feridos, seis dos quais com gravidade.

O dia em Baltimore ficou ainda marcado por um incêndio num lar para idosos que se encontrava em construção. As perdas são devastadoras, com pelo menos 60 quartos destruídos. Autoridades sob investigação
No entanto, ainda não é claro que este incêndio esteja relacionado com os confrontos entre manifestantes e forças da ordem.

“Isto não é um protesto, isto não é a vossa primeira emenda da Constituição, isto é simplesmente uma atividade criminal”, afirmou o responsável da polícia de Baltimore, que se apresenta “extremamente desapontado” com a situação.

A polícia encontrava-se já alertada para um conflito, alegando que recebeu informações de uma “ameaça credível” de ataque a agentes policiais por parte de gangs.

As próprias forças da ordem estão sob investigação. Poucas horas antes, realizavam-se as cerimónias fúnebres de Freddie Gray, que acabou por morrer sob custódia policial. Um acontecimento que despoletou os protestos, dos mais pacíficos aos mais violentos. No meio da confusão, também houve quem tentassem acalmar os ânimos.

A história de Gray
Respondia pelo nome de Freddie Gray o jovem negro de 25 anos que faleceu no passado dia 19 de abril. A 12 de abril, tinha sido detido pelas autoridades, numa zona reputada pelo comércio de estupefacientes.

O que se passou a partir daqui é ainda pouco conhecido. O facto é que Gray viria a falecer, vítima de uma grave lesão na espinal medula, sofrida enquanto se encontrava sob custódia das autoridades.

A imprensa avança que, no momento da detenção, Gray ainda conseguia andar, embora com dificuldade. Ao chegar ao estabelecimento prisional, estaria já incapaz de falar ou respirar.

A violência eclodiu na cidade norte-americana de Baltimore. Manifestantes protestaram de forma violenta depois de um homem negro ter morrido em circunstâncias ainda pouco claras. Freddie Gray sucumbiu a ferimentos sofridos sob custódia policial. As autoridades já decretaram o estado de emergência e está em vigor um recolher obrigatório. A atuação da polícia está a ser investigada a nível federal.

As autoridades já admitiram que falharam na detenção, não lhe tendo sido providenciada assistência médica a tempo, nem respeitadas as condições de transporte para detidos – Gray terá viajado sem cinto de segurança na carrinha das autoridades. Continua envolta em mistério a forma como Gray terá contraído a lesão fatal.

O golpe que o colocou em coma e que, uma semana depois, acabaria por tirar-lhe a vida. As autoridades norte-americanas prometeram levar a cabo uma investigação ao caso, tanto no Maryland como a nível federal. Para já, há seis agentes suspensos.
Família apela ao fim da violência
Pela justiça, contra a violência. A família de Freddie Gray apela ao fim dos confrontos, defendendo, em alternativa, manifestações pacíficas pela justiça.

“Quero que todos contribuam para que seja conseguida justiça para o meu filho, mas não desta forma”, pediu a mãe de Gray. Um pedido reforçado pela irmã gémea de Freddie, Fredericka.

“Não me parece que isto seja pelo Freddie. Acredito que a violência é errada”, referiu. Pedidos semelhantes têm chegado de Washington e da presidente da câmara de Baltimore.
“É frustrante que as pessoas pensem que isto faz sentido – a destruição da nossa comunidade. Os que aqui vivem e que já estão em sofrimento vão acabar por ser aqueles que vão pagar”, asseverou a mayor Stephanie Rawlings-Blake.
Estado de Emergência
Para acabar com os confrontos, foi solicitado um reforço de cinco mil agentes da autoridade e chegaram já 1.500 membros da Guarda Nacional à cidade. O governador do Maryland, Larry Hogan, decretou entretanto o estado de emergência e vigora um recolher obrigatório. Ninguém deve sair às ruas entre as 22h00 e as 5h00. As escolas ficarão fechadas esta terça-feira.
A história volta a alimentar os relatos de violência policial que têm assolado os Estados Unidos nos últimos meses, nomeadamente Ferguson e Nova Iorque. O caso de Baltimore recorda o que que culminou com a morte de Eric Garner em julho de 2014. A filha de Garner participou nas cerimónias fúnebres de Freddie Gray.

“É como se não houvesse responsabilização, como se não houvesse justiça. É como se estivéssemos de volta aos anos 50, de regresso aos dias de Martin Luther King”, defende Erica Garner, citada por The Huffington Post.

“Quando chegará o dia em que poderemos ser livres?”, questiona.

Por agora continuam as investigações à morte de Freddie Gray, para perceber o que realmente aconteceu.
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