Moscovo expulsa 60 diplomatas americanos e fecha consulado

Sessenta diplomatas com ordem de expulsão e o fecho do consulado dos Estados Unidos em São Petersburgo. São estas as medidas de retaliação da Rússia contra os Washington no conflito diplomático desencadeado pelo envenenamento do ex-espião Sergei Skripal.

Paulo Alexandre Amaral - RTP /
Esta deverá ser apenas a segunda vaga de guias de marcha Maxim Zmeyev - Reuters

O anúncio foi feito pelo próprio ministro dos Negócios Estrangeiros. Sergei Lavrov fez saber que Moscovo retaliava na mesma moeda aos castigos chegados do Ocidente: 58 diplomatas americanos e dois funcionários do consulado em Yekaterinburg considerados persona non grata e o encerramento do consulado geral norte-americano de São Petersburgo.

Lavrov estabeleceu o prazo de 5 de abril para a saída dos diplomatas. O consulado de São Petersburgo deve encerrar toda a atividade em dois dias.

“As medidas são recíprocas. Incluem a expulsão do número equivalente de diplomatas e incluem a nossa decisão de remover o nosso acordo que permitia que o consulado geral dos Estados Unidos operasse em São Petersburgo”, explicou Lavrov.
Reacção esperada

Era a reação que se esperava do Kremlin no alinhamento do caso Skripal e é possível que apenas tenha sido adiada pela tragédia que se abateu no último domingo sobre a cidade siberiana de Kemerovo, onde um incêndio num centro comercial fez 64 mortos, 41 deles crianças.

Ainda na ressaca de uma vitória eleitoral esmagadora, o Presidente Vladimir Putin seria em escassos dias posto à prova: primeiro com a expulsão de dezenas de membros do corpo diplomático russo um pouco por todo o mundo, depois com a tragédia que chegava da Sibéria.

Confrontado com acusações contundentes no caso do envenenamento do antigo espião russo Sergei Skipral e da sua filha Julia, Moscovo assistiu à ordem de expulsão de mais de uma centena de diplomatas russos do Reino Unido, Estados Unidos e dezenas de países europeus.

Se a vitória esmagadora das presidenciais, com mais de 75 por cento dos votos, lhe dava a legitimidade suficiente para uma reação na mesma moeda em relação aos diplomatas ocidentais instalados na Rússia, o incêndio de Kemerovo viria contudo trocar as voltas à agenda política de Vladimir Putin.

Sabia-se no entanto, de antemão, que Putin não iria mostrar sinais de fraqueza e aí está a segunda fase da reacção do Kremlin: 60 diplomatas norte-americanos com ordem de expulsão e o encerramento do consulado dos Estados Unidos em São Petersburgo.

E esta deverá ser apenas a segunda vaga de guias de marcha. Antes, já haviam sido expulsos 23 diplomatas britânicos (na mesma medida das expulsões de Londres) e determinado o fim da actividade do British Council na Rússia. Aguardava-se a resposta aos norte-americanos como se aguarda a resposta aos membros da União Europeia, que decidiram cerrar fileiras com Londres, curiosamente, em processo de divórcio com Bruxelas.
Troca de acusações
Entretanto, a polícia britânica revelou que o Skripal e a filha foram envenenados com um agente neurotóxico de tipo militar colocado na porta de casa, em Salisbury.

“Acreditamos que os Skripal entraram em contacto com o agente nervoso através da porta de casa”, disse Dean Haydon, o coordenador nacional da polícia contra terrorismo. “Os especialistas encontraram aí a maior concentração do agente nervoso”, revelou a Scotland Yard.

Sergei Skripal e a filha ainda estão em estado crítico desde que foram encontrados inconscientes num banco de jardim, a 4 de março, mas a Rússia nega qualquer ligação a este envenenamento.

A diplomacia russa exige ainda a Londres que apresente provas de que espiões britânicos não são responsáveis pelo envenenamento de Sergei Skripal. Moscovo afirma que, à falta de tais provas, considerará este caso como um ataque contra cidadãos russos.

“Se não forem apresentadas provas convincentes, iremos considerar que este é um caso de atentado contra a vida dos nossos cidadãos em resultado de uma provocação política”, afirmava o comunicado do MNE russo.
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