Mulheres e homens. Talibãs reclamam "direito a prender opositores"

por Carlos Santos Neves - RTP
Ali Khara - Reuters

O governo talibã reivindicou este sábado o “direito a prender opositores”, incluindo as mulheres que se manifestam com regularidade e “sem autorização”. Foi a reação do regime regressado ao poder no Afeganistão à notícia do desaparecimento de duas militantes feministas. Ainda assim, os islamitas negam ter desempenhado qualquer papel neste caso.

Na passada semana, foram sequestradas duas mulheres, escassos dias depois de terem integrado uma manifestação em Cabul.

A Missão de Assistência das Nações Unidas no Afeganistão exortou os talibãs a “fornecerem informações” sobre o paradeiro das duas ativistas, identificadas como Tamana Zaryabi Paryani et Parwana Ibrahimkhel. Em declarações à France Presse, Zabihullah Mujahid, porta-voz do governo talibã, negou qualquer envolvimento do regime no caso.

Ao mesmo tempo, Mujahid quis deixar claro que o governo reivindica “o direito de prender opositores ou aqueles que violem a lei”. “Ninguém deve criar perturbações, porque isso causa problemas à ordem pública e à paz”.Militantes feministas têm levado a cabo ações de protesto na capital afegã, durante as quais reclamam o respeito pelos direitos das mulheres.


O porta-voz e vice-ministro da Informação e da Cultura na administração talibã vincou ainda que as ativistas têm em estado em manifestações “sem autorização”, para acrescentar que, “se isso acontecesse noutro país, pessoas como elas seriam detidas”.

“Também no nosso país elas serão detidas e confrontadas com as suas responsabilidades. Não autorizamos atividades ilegais”, rematou.
Crise humanitária
Na esteira da retirada das forças militares lideradas pelos Estados Unidos, o Afeganistão debate-se com uma crise humanitária de proporções crescentes. Situação agravada pelo travão à ajuda internacional, que valia cerca de 80 por cento do orçamento afegão, e do congelamento, por parte de Washington, de 9,5 mil milhões de dólares do Banco Central daquele país - medidas implementadas após o retorno dos talibãs ao poder.

De acordo com as Nações Unidas, há agora 23 milhões de afegãos sob a ameaça da fome, ou seja, 55 por cento da população.
A ONU apelou aos países doadores para que atribuam 4,4 mil milhões de dólares à causa humanitária do Afeganistão.

Estão marcadas para este domingo, na Noruega, conversações entre os talibãs e representantes diplomáticos ocidentais, designadamente do país anfitrião, dos Estados Unidos, de França, da Alemanha, de Itália e da própria União Europeia.

“O Emirado Islâmico adotou medidas para satisfazer as exigências do mundo ocidental e esperamos reforçar as nossas relações diplomáticas com todos os países, incluindo os países europeus e o Ocidente em geral”, clamou Zabihullah Mujahid.

c/ agências
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