Mundo recuperou em 20 anos florestas com a área da França e perde-as em cada ano com a área do Reino Unido

por Inês Moreira Santos - RTP
Ints Kalnins - Reuters

O mundo recuperou, nos últimos 20 anos, uma área florestal equivalente ao tamanho do território francês. A boa notícia foi revelada por um estudo recente que indica que houve uma regeneração de quase 59 milhões de hectares em todas as florestas e zonas verdes do planeta, desde o ano 2000. Mas os cientistas apontam que, no mesmo período, foram também destruídos mais de 380 milhões de hectares de floresta, cerca de sete vezes mais do que a área verde regenerada.

O mapa de regeneração Triliões de árvores "mostra uma estimativa de 58,9 milhões de hectares de florestas que se regeneraram desde o ano 2000".

A investigação, divulgada esta semana, revela que "uma área total de florestas equivalente ao tamanho de França cresceu novamente nos últimos 20 anos". Realizado durante dois anos, este estudo conclui que a recuperação desta área florestal traz grandes benefícios para a vida na Terra, uma vez que é capaz de absorver e armazenar 5,9 gigatoneladas de dióxido de carbono (um valor superior às emissões anuais de CO2 dos Estados Unidos).

Liderado pelo WWF Internacional, o estudo analisou imagens de satélite e dados recolhidos em trabalho de campo pelos investigadores em 29 países. Com o objetivo de identificar os planos de restauração florestal em todo o mundo, esta investigação permitiu aos cientistas reconhecerem as áreas onde pode ser mais benéfico concentrar os esforços de restauração.

"As florestas em regeneração natural conservam a biodiversidade, fornecem uma ampla variedade de bens dos ecossistemas e apoiam as economias e os meios de subsistência rurais", escreveram os investigadores no artigo "Cartas de Pesquisa Ambiental", em 2020, quando a investigação já decorria.

No Brasil, por exemplo, estima-se que mais de 4,2 milhões de hectares de floresta tenham sido regenerados, com destaque para a Mata Atlântica que conseguiu recuperar uma área florestal equivalente ao tamanho dos Países Baixos, muito devido às recentes políticas de conservação e da alteração nas práticas industriais.

Também na Mongólia se verificou uma recuperação de 1,2 milhões de hectares de floresta, nas últimas duas décadas, graças ao trabalho de ativistas, conservacionistas e do próprio Governo.

O Canadá e a África Central são outras zonas do planeta onde a regeneração das áreas verdes foi bastante acentuada.

Além de identificar as áreas recuperadas, a pesquisa também elencou as medidas e iniciativas realizadas por governos, empresas e sociedade civil que facilitaram esse resultado, com o objetivo de sistematizar caminhos potenciais para ampliar esses esforços em todo o mundo.

"Substituir as florestas perdidas é praticamente impossível. Levaria décadas ou mesmo séculos para que uma 'floresta secundária' regenerada se tornasse tão rica em carbono e vida selvagem como a floresta original, e alguns ecossistemas nunca vão conseguir recuperar", lê-se no estudo.

"No entanto, restaurar e expandir as florestas são partes centrais do desafio global de reduzir as emissões de dióxido de carbono, estabilizar o clima e restaurar a vida selvagem".
Terra perdeu 386 milhões de hectares de floresta
Embora estas conclusões apareçam como uma boa notícia, nem tudo é positivo. Paralelamente à recuperação de parte das florestas, os investigadores verificaram que a desflorestação continua a progredir a "um ritmo assustador".

Os cientistas deixam o alerta de que, apesar de os esforços estarem a compensar para recuperar algumas áreas verdes, a destruição florestal continua a ser muito superior à capacidade de regeneração de novas áreas florestais.

"Na batalha contra as alterações climáticas, reduzir as emissões é de longe a prioridade mais urgente, e nenhum caso de regeneração pode substituir a floresta antiga existente. Acabar com a perda de florestas existentes é sempre a principal prioridade", alertam os cientistas.

O documento revela que também nos últimos 20 anos, o planeta Terra perdeu 386 milhões de hectares de zonas verdes, uma área sete vezes superior àquela que foi regenerada. Segundo a WWF, isto significa que o mundo perde anualmente uma área florestal tão grande como o território do Reino Unido.

"É um imperativo global mudar de uma economia de desmatamento para uma economia de regeneração, apoiando a biodiversidade, um clima estável e comunidades prósperas", advertem ainda os investigadores.

Os investigadores apontam como principais causas para esta destruição florestal o uso da madeira e o desmatamento para produções agricolas - o que representa uma ameaça à vida selvagem e aos esforços para conter as alterações climáticas.

O problema, alerta o estudo, é que o desmatamento aumentou drasticamente no ano passado, com perdas substanciais nas florestas tropicais.

Na Amazónia, por exemplo, foram destruídos cerca de 430 mil acres só este ano.

"A ciência é clara - se quisermos evitar as alterações climáticas perigosas e reverter a destruição da natureza, devemos parar o desmatamento e restaurar as florestas naturais", escreveu no estudo William Baldwin-Cantello, diretor de soluções baseadas na natureza do WWF.

"Há muito tempo que sabemos que a regeneração natural da floresta costuma ser mais barata, mais rica em carbono e melhor para a biodiversidade do que as florestas plantadas ativamente, e esta investigação mostra-nos onde e de que forma a regeneração está a ocorrer e ainda como podemos recriar essas condições noutros lugares".

No entanto, o investigador afirma que "não podemos dar esta regeneração como certa - ainda são destruídos milhões de hectares todos os anos, muitos mais do que os que são regenerados".
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