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Musk diz a repórter que mente sobre discurso de ódio. BBC apresenta estudos
Elon Musk concedeu uma entrevista à BBC, onde um dos assuntos abordados foi o aumento do discurso de ódio no Twitter. Perante o tema, o dono da plataforma desafiou o jornalista a apresentar Tweets concretos com representatividade de discurso de ódio e desinformação. Mas, entre indecisões do repórter, Musk acabou por lhe dizer que ele estava a mentir. Em defesa, BBC foi procurar estudos para contrariar a insinuação do multimilionário.
Elon Musk, dono do Twitter há seis meses concordou dar uma entrevista a James Clayton, da BBC, para fazer um balanço da gestão da plataforma de media social.
Às perguntas do repórter, Musk usou a estratégia de responder também com perguntas, sobretudo quando o assunto foi sobre o aumento de discurso de ódio da rede.
(…)
James : "Eu diria que vejo mais conteúdo odioso."
Elon : "Conteúdo que o James não gosta ou conteúdo odioso? Descreva o que quer dizer com odioso."
James : "Bem, você perguntou-me se no meu feed aumentou ou diminuiu, eu diria que aumentou um pouco."
Elon : "É por isso que estou a pedir exemplos. E você não pode citar um único exemplo?"
Afinal quais são as evidências?
Em reação à entrevista disponibilizada ontem ao público, a BBC vem apresentar estudos aprofundados e evidências que sugerem que o discurso de ódio tem crescido sob o mandato de Musk.
Entre vários argumentos a cadeia de televisão relembra que diversos utilizadores marginais, banidos na gestão anterior, foram reintegrados na era Musk.
Entre eles estão Andrew Anglin, fundador do site neonazi Daily Stormer, e Liz Crokin, uma das maiores propagandistas da teoria da conspiração QAnon.
Outros utilizadores menos conhecidos do Twitter aproveitaram a nova gestão para conseguir contas com conteúdos insultuosos de cariz racial obterem a verificação com a marca azul.
Outra conta comprou o visto azul e tem por trás um neonazi que twitta vídeos de si mesmo recitando Mein Kampf - a autobiografia de Hitler.
A BBC recorre também a um estudo que compara Tweets antissemitas entre junho de 2022 a fevereiro de 2023. A investigação do Instituto de Diálogo Estratégico (ISD) revela que neste intervalo de tempo, as publicações duplicaram no Twitter.
O mesmo estudo também registou que as remoções de tais conteúdos aumentaram, mas não o suficiente para acompanhar o crescimento de novas mensagens.
O ISD também descobriu um aumento de quase 70 porcento nas contas do Estado Islâmico - um problema que já foi enorme no Twitter, embora tenha sido reduzido.
O Center for Countering Digital Hate, um grupo que combate o ódio e a desinformação com sede em Londres, revelou que os insultos aumentaram após a aquisição de Musk.
A própria BBC apresenta análises internas que revelam que mais de mil e cem contas anteriormente banidas foram readmitidas com Musk.
A BBC diz ter feito entrevistas dentro do Twitter nas quais inferiu que os funcionários estavam preocupados sobre a incapacidade da empresa em proteger os utilizadores de desinformação e conteúdos de exploração sexual infantil.
Onde estão os limites do discurso de ódio?
A BBC faz uma reflexão sobre o assunto e recupera a Primeira Emenda da Constituição dos EUA.
Perante tal, não existe uma definição geral de discurso de ódio na lei norte-americana, que geralmente, é muito mais permissiva do que em outros países.
As opiniões de Musk sobre liberdade de expressão, tem mais impacto nos Estados Unidos. Por isso, podem ter encorajado as pessoas que estavam preocupadas com uma proibição a falar mais livremente. Ou seja, não se sabe se o pico identificado pelos investigadores vai manter-se.
De acordo com a BBC, ainda há moderação no Twitter, e o próprio Musk recuou fortemente nos estudos e investigações.
O milionário argumentou que “adotou uma linha politicamente neutra”. Refletiu-se em restabelecer, não apenas as contas de direita, mas também algumas contas de esquerda que tinham sido banidas anteriormente.
"Esta não é uma aquisição de direita, mas sim uma aquisição de centro", escreveu Musk, no Twitter.