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Myanmar. Junta declara lei marcial e Rangum vira campo de batalha
A maior cidade de Myanmar transformou-se num campo de batalha, com várias zonas barricadas e moradores a fugirem, enquanto a polícia dispara contra manifestantes desarmados. A junta militar no poder declarou a lei marcial em vários bairros da cidade de Rangum.
A emissora televisiva do Estado, MRTV, revelou que vários bairros de Rangum foram colocados sob lei marcial, tal como já tinha acontecido ao bairro de Shwepyitha no domingo.
A junta militar, no poder desde 1 de fevereiro, está a utilizar cada vez mais força para conter as manifestações de apoio à lider do governo deposto, Aung San Suu Kyi, que se encontra detida desde o golpe militar. Mais de 200 manifestantes já foram mortos.
Domingo, foi o dia em que se registou mais vítimas mortais. Mais de 70 pessoas foram mortas nos confrontos entre as autoridades militares e a população – a maior parte delas no município industrial de Hlaing Tharyar, na cidade de Rangum.
Os moradores – muitos deles trabalhadores migrantes – estão a regressar aos seus Estados de origem, transportando os seus bens em camiões e outros às costas enquanto fogem de motocicleta. Os que ficam falam num cenário de guerra.
“Houve tiros constantes durante toda a noite e não conseguimos dormir”, afirmou à AFP um morador, acrescentando que a população tinha medo de andar na rua.
Um estudante de medicina, citado pelo jornal The Guardian, revelou que há uma forte presença de militares nas principais áreas da maior cidade do país.
“Verificam carros, motas e os telemóveis das pessoas que circulam na rua. Se detetam algo relacionado com política ou o movimento de desobediência civil, prendem a pessoa”.
Na noite de terça-feira, os manifestantes acamparam numa das pontes que dá acesso às principais estadas da cidade, usando capacetes e máscaras de gás. Ergueram também barricadas feitas de pneus, madeira, sacos de areia e varas de bambu. Algumas das barricadas foram incendiadas, o que originou várias colunas de fumo negro.
Para tentar travar a divulgação nas redes sociais da violência em curso no país, a junta militar restringiu o uso de dados móveis, embora o acesso ainda seja possível através de conexões por banda larga fixa.
Grande parte de Myanmar está sem usar a Internet móvel desde a madrugada de segunda-feira. E durante a noite existe um bloqueio total de oito horas.
O bloqueio do serviço de Internet impediu a participação numa audiência judicial por videoconferência de Suu Kyi.
O apelo dos monges budistas
Na segunda maior cidade da antiga Birmânia, monges com as suas tradicionais túnicas de cor açafrão juntaram-se aos manifestantes, carregando bandeiras vermelhas do partido da Liga Nacional para a Democracia de Aung San Suu Kyi, e apelaram à junta militar para colocar um ponto final na violência.
Os monges têm uma longa história no ativismo em Myanmar. Estiveram na linha da frente em 2007 durante a “Revolução Açafrão” contra o governo militar.
A enviada especial da ONU em Myanmar, Christine Schraner Burgener, condenou o “contínuo derramamento de sangue”, que frustrou os pedidos do Conselho de Segurança e de outras partes no sentido da moderação e do diálogo.
“A brutalidade contínua, inclusivamente contra o pessoal médico, e a destruição das infraestruturas públicas prejudica gravemente qualquer perspetiva de paz e estabilidade”, comentou Burgener.Papa apela ao fim da violência
O Papa Francisco apelou ao fim da violência na antiga Birmânia, afirmando que também se ajoelha simbolicamente para alcançar tal propósito, numa referência à freira que se ajoelhou em oração frente às forças de segurança birmanesas.
“Mais uma vez e com tanta tristeza, sinto a urgência de falar da situação dramática em Myanmar, onde tantas pessoas, especialmente jovens, estão a perder as suas vidas para oferecer esperança ao seu país”, declarou, no final da tradicional audiência geral de quarta-feira.
“Também eu me ajoelho nas ruas de Myanmar e digo que a violência tem de acabar. Também eu estendo os braços e digo que o diálogo deve prevalecer. O sangue não resolve nada. Que prevaleça o diálogo", prosseguiu Francisco, que já abordou várias vezes a situação vivida no país.
No início de março percorreram mundo as imagens de uma freira católica, identificada como Ana Rosa Nu Tawng, de braços estendidos e ajoelhada no meio de uma estrada frente às forças de segurança birmanesas a implorar para que estas não disparassem contra um grupo de manifestantes.
As imagens foram registadas na cidade de Mytkyna, no norte do país, a 28 de fevereiro.
“Não disparem sobre as crianças”, implorou a freira católica naquela estrada em Myitkyina, localidade que tem sido cenário de manifestações quase diárias desde o golpe militar.
Crimes contra a humanidade
Na semana passada, o relator especial da ONU para os Direitos Humanos em Myanmar, Thomas Andrews, afirmou que a junta militar birmanesa estaria a cometer “provavelmente crimes contra a Humanidade” desde que assumiu o poder no início de fevereiro.
“Há cada vez mais provas" de que o exército e os seus principais líderes “estão a cometer provavelmente crimes contra a Humanidade, incluindo assassínios, desaparecimentos forçados, perseguições, tortura e prisões em violação das regras fundamentais do Direito Internacional", declarou então o perito independente.
União de minorias étnicas contra militares
O grupo de parlamentares eleitos que se autodenomina "Governo legítimo" de Myanmar pediu aos grupos étnicos armados do país que "unam forças" contra a junta militar.
Nas últimas semanas, vários combatentes de minorias étnicas expressaram a sua preocupação com a repressão sangrenta das forças de segurança contra civis desarmados que protestam contra o regime militar, que governou o país entre 1962 e 2011.
c/agências
A junta militar, no poder desde 1 de fevereiro, está a utilizar cada vez mais força para conter as manifestações de apoio à lider do governo deposto, Aung San Suu Kyi, que se encontra detida desde o golpe militar. Mais de 200 manifestantes já foram mortos.
Domingo, foi o dia em que se registou mais vítimas mortais. Mais de 70 pessoas foram mortas nos confrontos entre as autoridades militares e a população – a maior parte delas no município industrial de Hlaing Tharyar, na cidade de Rangum.
Os moradores – muitos deles trabalhadores migrantes – estão a regressar aos seus Estados de origem, transportando os seus bens em camiões e outros às costas enquanto fogem de motocicleta. Os que ficam falam num cenário de guerra.
“Houve tiros constantes durante toda a noite e não conseguimos dormir”, afirmou à AFP um morador, acrescentando que a população tinha medo de andar na rua.
Um estudante de medicina, citado pelo jornal The Guardian, revelou que há uma forte presença de militares nas principais áreas da maior cidade do país.
“Verificam carros, motas e os telemóveis das pessoas que circulam na rua. Se detetam algo relacionado com política ou o movimento de desobediência civil, prendem a pessoa”.
Na noite de terça-feira, os manifestantes acamparam numa das pontes que dá acesso às principais estadas da cidade, usando capacetes e máscaras de gás. Ergueram também barricadas feitas de pneus, madeira, sacos de areia e varas de bambu. Algumas das barricadas foram incendiadas, o que originou várias colunas de fumo negro.
Para tentar travar a divulgação nas redes sociais da violência em curso no país, a junta militar restringiu o uso de dados móveis, embora o acesso ainda seja possível através de conexões por banda larga fixa.
Grande parte de Myanmar está sem usar a Internet móvel desde a madrugada de segunda-feira. E durante a noite existe um bloqueio total de oito horas.
O bloqueio do serviço de Internet impediu a participação numa audiência judicial por videoconferência de Suu Kyi.
O apelo dos monges budistas
Os monges têm uma longa história no ativismo em Myanmar. Estiveram na linha da frente em 2007 durante a “Revolução Açafrão” contra o governo militar.
A enviada especial da ONU em Myanmar, Christine Schraner Burgener, condenou o “contínuo derramamento de sangue”, que frustrou os pedidos do Conselho de Segurança e de outras partes no sentido da moderação e do diálogo.
“A brutalidade contínua, inclusivamente contra o pessoal médico, e a destruição das infraestruturas públicas prejudica gravemente qualquer perspetiva de paz e estabilidade”, comentou Burgener.Papa apela ao fim da violência
“Mais uma vez e com tanta tristeza, sinto a urgência de falar da situação dramática em Myanmar, onde tantas pessoas, especialmente jovens, estão a perder as suas vidas para oferecer esperança ao seu país”, declarou, no final da tradicional audiência geral de quarta-feira.
“Também eu me ajoelho nas ruas de Myanmar e digo que a violência tem de acabar. Também eu estendo os braços e digo que o diálogo deve prevalecer. O sangue não resolve nada. Que prevaleça o diálogo", prosseguiu Francisco, que já abordou várias vezes a situação vivida no país.
No início de março percorreram mundo as imagens de uma freira católica, identificada como Ana Rosa Nu Tawng, de braços estendidos e ajoelhada no meio de uma estrada frente às forças de segurança birmanesas a implorar para que estas não disparassem contra um grupo de manifestantes.
As imagens foram registadas na cidade de Mytkyna, no norte do país, a 28 de fevereiro.
“Não disparem sobre as crianças”, implorou a freira católica naquela estrada em Myitkyina, localidade que tem sido cenário de manifestações quase diárias desde o golpe militar.
Crimes contra a humanidade
“Há cada vez mais provas" de que o exército e os seus principais líderes “estão a cometer provavelmente crimes contra a Humanidade, incluindo assassínios, desaparecimentos forçados, perseguições, tortura e prisões em violação das regras fundamentais do Direito Internacional", declarou então o perito independente.
União de minorias étnicas contra militares
“Vamos construir nossa União Federal juntos. O mal (do exército) deve ser repelido com a nossa união”, disse o Comité de Representantes da Assembleia da União (CRPH), formado na sua maioria por dezenas de deputados e senadores do partido da líder deposta Aung San Suu Kyi, que não puderam tomar posse devido ao golpe militar.
Uma maior autonomia é a principal exigência de quase todas as minorias étnicas, incluindo os Chin, Kachin, Karen, Kokang, Kayah, Mon, Rakáin, Shan e Wa, que juntos representam mais de 30 por cento dos 53 milhões de habitantes do país.O CRPH, que anunciou a retirada de todas as etnias armadas da lista das organizações ilegais, agradeceu numa nota a proteção dos manifestantes proporcionada pelos rebeldes, alguns dos quais lutam contra o exército há décadas.
Nas últimas semanas, vários combatentes de minorias étnicas expressaram a sua preocupação com a repressão sangrenta das forças de segurança contra civis desarmados que protestam contra o regime militar, que governou o país entre 1962 e 2011.
c/agências