Na maré de indultos. Apelo da ONU para que Trump indulte Assange

por RTP
O artista chinês Ai Wei Wei, em campanha contra a extradição de Julian Assange Toby Melville, Reuters

O relator especial das Nações Unidas para a Tortura, Nils Melzer, publicou uma carta aberta ao presidente cessante dos Estados Unidos, no sentido de que indulte também o fundador da plataforma digital Wikileaks. O indulto acarretaria consigo uma renúncia dos EUA a obterem a extradição de Julian Assange.

Num contexto em que Trump atribuiu perdões presidenciais a mercenários da empresa de segurança Blackwater, condenados por um crimes de guerra contra civis, e a figuras condenadas por corrupção, num total de 15, Melzer apela a um perdão presidencial no caso de Assange, baseado, principalmente no facto de o jornalista australiano apenas "ter dito a verdade" sobre crimes de guerra norte-americanos.

Dirigindo-se a Trump, o relator da ONU escreve, nomeadamente: “Peço-lhe que indulte o sr. Assange, porque ele não é, nem nunca foi, um inimigo do povo americano. A organização dele, WikiLeaks, combate o secretismo e a corrupção em todo o mundo e, portanto, actua no interesse público tanto do povo americano como da humanidade no seu todo".

E prossegue, explicando que um indulto concedido a Assange, seria coerente com a retórica anti-corrupção que há quatro anos levou Trump à presidência: "Peço-lho, porque o sr. presidente se comprometeu com uma agenda de combater a corrupção e os abusos das autoridades; e porque, permitir que continue a perseguição contra o sr. Assange significaria que, na sua herança [política], se tornou um crime dizer a verdade sobre essa corrupção e esses abusos".

Várias outras personalidades se têm juntado à campanha pela libertação de Assange, entre elas o artista chinês dissidente Ai Wei Wei. Mas o caso mais surpreendente é o da antiga governadora do Alaska e pré-candidata presidencial Sarah Pallin, notória pelas suas posições extremistas à direita, que há dois dias apareceu no Twitter a defender acaloradamente Assange e a retractar-se por ter reclamado, há anos, um castigo rigoroso contra ele.


Relativamente à situação prisional de Assange, Melzer lembra que ele foi internado na prisão de alta segurança de Belmarsh com a saúde já abalada por vários anos de reclusão na Embaixada equatoriana de Londres e que depois foi parar a essa prisão agora infestada de Covid-19. Melzer acrescentou ainda que a saúde de Assange se encontra "extremamente vulnerável".

pub