Nampula alerta para desinformação que causa "fuga em debandada"
O governador de Nampula, norte de Moçambique, alertou hoje para "campanhas de desinformação" que causam "fuga em debandada" e roubo naquela província afetada por ataques de rebeldes.
"Há uma campanha de desinformação. Chega [alguém] e diz assim: `há terroristas aqui, estão a vir aí terroristas`, então as pessoas põem-se em fuga, em debandada, abandonam os seus haveres e chega alguém e rouba tudo", disse Eduardo Abdula, durante um encontro no distrito de Memba com parceiros de assistência humanitária e autoridades locais.
Segundo o responsável, o "trabalho bravo" das Forças de Defesa e Segurança moçambicanas tem permitido travar os roubos, apreender os bens furtados e devolver aos proprietários, após a "campanha de desinformação" sobre um possível ataque terrorista.
Face à situação, o governador apelou para uma reflexão e "com urgência" sobre o regresso voluntário das populações às suas zonas de origem, referindo que é obrigação do Estado o reforço de medidas de segurança, criação de condições de higiene e apoio psicossocial para as vítimas.
"Eu senti nesta viagem que há uma vontade voluntária de regresso às bases, mesmo sem esperança de que lá possam encontrar comida ou qualquer outra coisa (...). Eles dizem que o problema não é comida, é segurança", acrescentou Eduardo Abdula, que visitou os locais afetados pelos ataques de rebeldes e também os de acolhimento de deslocados.
Abdula disse também que há outros deslocados, com quem conversou, que se queixaram, em "viva voz e som alto", de fome, referindo que os alimentos têm sido distribuídos pelas pessoas que não são deslocadas.
Após a visita aos locais afetados pelos ataques armados, o governador relatou ainda, na reunião de hoje, aldeias abandonadas, carros, casas e moageiras queimadas, mas também regiões onde foram retomados os exames escolares, interrompidos devido à insurgência.
Quase 100 mil pessoas fugiram da "rápida propagação" dos ataques das últimas duas semanas em zonas "antes consideradas seguras" no norte de Moçambique, divulgou hoje o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR).
Em comunicado, o ACNUR assumiu estar "profundamente preocupado com a intensificação dos ataques a aldeias e a rápida propagação do conflito para distritos anteriormente seguros", que forçam "dezenas de milhares de pessoas a fugir pelo norte de Moçambique, com quase 100 mil deslocados apenas nas últimas duas semanas".
Em causa está o alastrar destes ataques, que ocorrem há oito anos em Cabo Delgado, para a vizinha província de Nampula, nomeadamente várias aldeias do distrito de Memba.