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"Não existe povo palestiniano". Discurso de ministro israelita gera polémica

por Inês Moreira Santos - RTP
Reuters

No domingo, Israel e a Palestina renovaram o compromisso de reduzir a tensão e pôr fim às medidas unilaterais. Mas a violência na Cisjordânia ocupada continua e o ministro israelita das Finanças agitou ainda mais a situação ao negar a existência do "povo palestiniano".

Bezalel Smotrich já é conhecido pelos discursos próximos à ideologia de extrema-direita, mas as declarações que fez no domingo, em Paris, estão a gerar muitas críticas. Recordando os próprios antepassados palestinianos, o ministro israelita afirmou que o povo palestiniano é “uma invenção” do século passado.

“Sabem quem são os palestinianos? Eu sou palestiniano”, disse Smotrich, descrevendo o falecido avô como “cidadão de Jerusalém da 13.ª geração” como “o verdadeiro palestiniano”.

“O povo palestiniano é uma invenção com menos de 100 anos”, acrescentou o governante, ultranacionalista que também supervisiona a administração civil na Cisjordânia ocupada.

Os verdadeiros palestinianos, justificou, são os judeus que habitam "a terra de Israel" há dois mil anos.

"Existem árabes no Médio Oriente que chegaram à terra de Israel ao mesmo tempo que começou o regresso sionista, depois de dois mil anos de exílio. Os árabes da região não queriam. O que fizeram? Inventaram um povo fictício e reclamam direitos fictícios sobre a terra de Israel só para lutarem contra o movimento sionista", disse o ministro em Paris no domingo à noite.

“Não existe uma nação palestiniana. Não há história palestiniana. Não existe língua palestiniana”.
"Deve-se dizer a verdade sem virar a cabeça perante as mentiras e subversões da História por parte das organizações pró palestinianas e o BDS (Movimento Boycott, Divestment, Sanctions)", disse ainda Smotrich.

O discurso de Smotrich, durante um memorial do ativista Jacques Kupfer, em Paris, está a ser amplamente partilhado nas redes sociais, com uma plateia a aplaudir as polémicas declarações. As declarações estão de acordo com as posturas do movimento que defende os representantes dos colonatos que Smotrich defende no novo Governo israelita, incluindo as posições de Itamar Ben Gvir, aliado do Executivo, também conhecido pelo discurso anti árabe.

"O meu pai era natural de Jerusalém. A minha avó que nasceu na altura dos pioneiros sionistas em Metula, há 100 anos, é 'palestiniana'", disse.

"De acordo com o Direito Internacional, um povo define-se pela História, cultura, língua, moeda e liderança. Quem foi o primeiro rei palestiniano? Qual é a língua palestiniana? Houve alguma vez uma moeda palestiniana? Existe História ou cultura palestinianas?", declarou negando mais uma vez a "identidade nacional palestiniana".



Polémicas recentes

Após uma polémica visita aos Estados Unidos marcada por tentativas de boicote de organizações judias norte-americanas e pela recusa de funcionários da Administração de Joe Biden que não se reuniram com o ministro, Smotrich visitou no domingo a capital francesa para uma cerimónia em memória de um judeu do partido Likud e polémico ativista sionista que morreu em 2021. O atual ministro das Finanças declarou que os árabes não têm direitos históricos sobre a "Terra de Israel" - território do Estado, incluindo as zonas ocupadas.

Para o ministro israelita os árabes (palestinianos) só chegaram à região para "travar o regresso dos sionistas".
Já no início deste mês de março, Smotrich provocou indignação internacional ao dizer que a vila palestiniana de Huwara, na Cisjordânia, devia ser exterminada após uma invasão de colonos israelitas. Comentários que, na altura, foram considerados "repugnantes" pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos e que levaram o Governo francês a boicotar a visita do ministro israelita a Paris.

Para o primeiro-ministro palestiniano, Mohammad Shtayyeh, as observações de Smotrich, no domingo, eram “evidência conclusiva da ideologia extremista, racista e sionista que governa o atual Governo israelita”.

“Essas declarações inflamatórias, que são consistentes com as primeiras reivindicações sionistas de 'uma terra sem povo para um povo sem terra', e que as terras palestinas são 'disputadas', e que demonstram a arrogância do poder, não abalam o nosso sentido de pertença à nossa terra e história, e que todos os vestígios arqueológicos e a história provam o apego do palestiniano à sua terra desde o início da história da humanidade”
, disse Shtayyeh numa sessão de gabinete da Autoridade Palestina, em Ramallah.

“Israel é um Estado colonial estabelecido pelos colonialistas e colonos, e que se expandiu como qualquer outro colonialismo de colonos ao longo da história, e aprendemos com a história que o colonialismo terminará e que a vontade e o sentimento de pertença do nosso povo não são abalados pelas declarações dos falsificadores da história e das suas falsas reivindicações”, acrescentou.

Também o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Palestina condenou veementemente os comentários de Smotrich, afirmando que tais posições refletem “a mentalidade colonial sombria que passou a dominar” o Estado de Israel e a encorajar “ o crescimento do extremismo judeu e do terrorismo” contra os palestinianos.

“Esses apelos oficiais de funcionários do topo da hierarquia política israelita têm o objetivo de criar o caos e continuar o ciclo de violência, de sabotar os esforços para alcançar a calma - uma mentalidade hostil à paz e soluções políticas para o conflito com base no princípio da uma solução de dois Estados e baseada no aprofundamento e expansão dos assentamentos ao longo do caminho da anexação gradual e insidiosa da Cisjordânia ocupada”, lê-se num comunicado do Ministério.

O ministro das Finanças de Israel fez tais declarações poucas horas depois de Israel e a Palestina terem renovado a "disposição e compromisso conjuntos de trabalhar imediatamente para pôr fim às medidas unilaterais durante um período de três a seis meses".
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