"Não fazer nada não me parece uma opção aqui, tendo em mente a natureza muito séria do que Lorde Dyson descobriu”, referiu o ministro da Justiça Robert Bucklan, numa entrevista à Times Radio. Referindo-se às conclusões do inquérito interno conduzido pelo juiz John Dyson, o ministro assevera que elas levantam questões sobre o funcionamento do serviço público britânico BBC.
O ministro que tutela a comunicação social no Reino Unido, Oliver Dowden, já tinha assumido que o Governo vai equacionar se um reforma mais profunda da gestão da BBC, financiada pelo Estado, será necessária, depois da investigação.
“Vamos refletir no relatório e considerar se mais reformas na BBC serão necessárias”, disse Dowden no Twitter, referindo-se a falhas graves no seio do concessionário de serviço Público.
No entanto, realça também que a nova liderança lançou um inquérito independente e espera assegura que situação idêntica não pode voltar a acontecer”.
Já ontem, os filhos da Princesa Diana, Harry e William tinham tecido fortes críticas à BBC, acusando-os de contribuir para uma cultura de exploração e de práticas violadoras da ética, que, segundo eles, terá contribuído para a morte da mãe.
Inquérito concluiu que jornalista da BBC enganou princesa Diana
O inquérito interno da BBC conclui que um jornalista da BBC teve um "comportamento desonesto" para garantir uma entrevista com a princesa Diana em 1995, numa "violação grave" das normas da emissora britânica.
O juiz aposentado John Dyson, que a BBC encarregou em novembro para liderar a investigação, disse que a estação pública “ficou aquém dos elevados padrões de integridade e transparência” esperados.
O inquérito pretendeu esclarecer as acusações feitas pelo irmão de Diana, Charles Spencer, de que o jornalista Martin Bashir usou documentos falsos e outras manobras para persuadir Diana a aceitar dar uma entrevista explosiva.
O inquérito concluiu que o jornalista Martin Bashirhad usou fraude e extratos bancários falsos para garantir a entrevista e considerou que a BBC tinha sido "lamentavelmente ineficaz" na investigação das ações do jornalista. A investigação considerou se as ações tomadas por Bashir influenciaram a decisão de Diana de conceder a entrevista.
A entrevista, na qual Diana disse que "éramos três neste casamento" (referindo-se ao relacionamento do príncipe Carlos com Camilla Parker-Bowles) foi vista por milhões de telespetadores e abalou a monarquia.
O presidente da BBC, Richard Sharp, aceitou as conclusões da investigação, acrescentando que "houve falhas inaceitáveis".
John Birt, diretor-geral da BBC na época da entrevista, que foi transmitida no âmbito do programa de reportagens “Panorama”, pediu desculpas a Charles Spencer num comunicado.
“Agora sabemos que a BBC abrigou um repórter desonesto no ‘Panorama' que inventou um testemunho elaborado e detalhado, mas totalmente falso, das suas relações com o conde Spencer e a princesa Diana”, disse.
“Esta é uma mancha chocante no compromisso duradouro da BBC com o jornalismo honesto; e é muito lamentável que tenha demorado 25 anos para que toda a verdade emergisse”, acrescentou.
Diana divorciou-se do príncipe Carlos em 1996 e morreu num acidente de carro em Paris em 1997, enquanto era perseguida por fotógrafos.
Carlos, herdeiro da coroa britânica, casou-se com Camilla, agora Duquesa da Cornualha, em 2005.
Bashir, de 58 anos, que era o editor de religião da BBC News, deixou a emissora na semana passada por motivos de saúde, na sequência de complicações da covid-19.
Príncipe William acusa BBC
Na sequência das conclusões tornadas públicas, o príncipe William, segundo na linha de sucessão do trono britânico, acusou a BBC de ter contribuído "significativamente para o medo, isolamento e paranoia" sofridos pela sua mãe, Diana de Gales, nos últimos anos da sua vida.
Numa declaração lida por si próprio e divulgada pelas redes sociais na noite de quinta-feira, o filho de Carlos e Diana disse também que a
entrevista que a BBC conduziu com a sua mãe em 1995 foi um fator importante no afastamento dos seus pais, que estavam separados, mas não divorciados.
"Os empregados da BBC mentiram e usaram documentos falsos para garantir a entrevista com a minha mãe, fizeram afirmações falsas e esfarrapadas sobre a minha família, o que alimentou os seus medos e paranoia", disse William, na sua declaração.
E criticou a cadeia pela sua "terrível incompetência" ao investigar a forma como Bashir obteve a entrevista, e subsequentemente encobriu as suas conclusões.
"Não só um mau jornalista lhe falhou, como também a liderança da BBC, que olhou para o lado em vez de fazer as perguntas difíceis", acrescentou ele.
O seu irmão mais novo, o príncipe Harry, entretanto, divulgou uma declaração escrita através das suas redes sociais, onde denuncia que os "efeitos de ondulação de uma cultura de exploração e práticas antiéticas acabaram por reclamar a vida" da sua mãe, Diana.
"A nossa mãe perdeu a sua vida por causa disto, e nada mudou. Ao proteger o seu legado, protegemos todos, e defendemos a dignidade com que viveu a sua vida", disse o Duque de Sussex, que reside nos Estados Unidos com a sua família depois de deixar o Reino Unido para, entre outras coisas, fugir ao assédio da imprensa.
Harry considerou que o relatório Dyson "é o primeiro passo para a justiça e a verdade", mas mostrou-se preocupado por "estas práticas, e ainda piores, estarem hoje generalizadas".
c/ Lusa