Em direto
Portugal comemora 50 anos da Revolução dos Cravos. Acompanhe ao minuto

"Não o vou fazer". Trump rejeita recomendações sobre uso de máscara

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Tom Brenner - Reuters

Na sexta-feira foram anunciadas novas diretrizes que recomendam a todos os americanos o uso de máscara como proteção contra a Covid-19. Donald Trump anunciou de seguida que não seguiria os conselhos da sua própria administração e se recusaria a usar máscara. Numa altura de uma corrida global às máscaras, a Alemanha acusou os EUA de "pirataria moderna" pelo desvio de 200 mil máscaras.

Na sexta-feira, depois de anunciar as novas diretrizes federais que recomendam o uso de uma proteção facial em público, Donald Trump anunciou de seguida que ele próprio não as iria usar.

“O CDC [Centro de Controlo e Prevenção de Doenças] está a aconselhar uso de coberturas faciais como uma medida voluntária adicional de saúde pública”, disse Trump. “Isso é voluntário. Acho que não o vou fazer”, comunicou o presidente norte-americano.

“Vocês não precisam de o fazer. Eu escolhi não as usar, mas algumas pessoas podem querer usar e está tudo bem. Poderá ser benéfico. Provavelmente será”
, sublinhou Trump.

O Centro para Controlo e Prevenção de Doenças recomendou a toda a população norte-americana a proteção facial em locais públicos, com máscaras artesanais, lenços ou trapos, de de forma reservar as máscaras médicas aos profissionais de saúde devido à escassez deste material. As novas diretrizes foram anunciadas no dia em que os EUA atingiram um recorde diário com mais de mil mortos e 25.200 infetados. O número de infetados nos EUA praticamente triplicou na última semana e é já o país com maior número de infetados pela Covid-19 em todo o mundo. Até ao momento existem mais de 278 mil infetados no continente americano e 7.159 mortos.

“Eu só não quero usar uma. Eles dizem que é uma recomendação, eles recomendam. Eu sinto-me bem”
, continuou a argumentar Trump, afirmando de seguida que ele próprio não se sentiria confortável a usar uma máscara na Casa Branca:

“Eu simplesmente não quero fazê-lo. Sentando na Sala Oval atrás da linda mesa Resolute, a usar uma máscara enquanto cumprimento presidentes, primeiros-ministros, ditadores, reis, rainhas…não sei, de alguma forma não me vejo a fazê-lo. Talvez mude de ideias, mas isto irá passar, com sorte passará rapidamente”.
Mudança de orientações
O vírus SARS-CoV2, que provoca a doença Covid-19, é transportado através de gotículas no ar provenientes de espirros ou de tosse. No entanto, o uso de máscaras por parte de todos ainda não é um ponto consensual.

Até agora, as autoridades de saúde dos EUA recomendavam o uso de máscara apenas aos infetados com Covid-19 ou cuidadores de pacientes. No entanto, o uso de proteção facial no continente americano passou a ser recomendado a toda a população para ajudar principalmente na prevenção de pacientes assintomáticos, ou seja, pessoas infetadas com o novo coronavírus mas que não apresentam sintomas.

Jerome Adam, que lidera a organização de saúde pública dos EUA e acompanhou Trump no discurso de sexta-feira, anunciou que uma “porção significativa” de pessoas infetadas não apresenta sintomas e têm a mesma capacidade de transmissão.

À luz desta nova evidência, o CDC recomenda o uso de máscaras feitas de tecidos em locais públicos, onde as medidas de distanciamento social são difíceis de manter. Estão incluídos locais como supermercados e farmácias”, explicou Jerome Adam.

O diretor do Instituto de Doenças Infeciosas e conselheiro de saúde da Casa Branca, Anthony Fauci, reconheceu igualmente que “o vírus pode, de facto, ser transmitido quando as pessoas estão apenas a conversar, e não unicamente quando espirram ou tossem”.
EUA acusados de “pirataria moderna”
Os EUA estão a ser acusados de “pirataria moderna” por alegadamente terem desviado 200 mil máscaras que tinham como destino a Alemanha.

O governo alemão afirma que as máscaras encomendadas pela força policial de Berlim não chegaram ao seu destino e acusam os EUA de as desviarem para uso próprio. Em comunicado, o governo alemão disse as máscaras fabricadas nos EUA foram “confiscadas” em Banguecoque, na Tailândia.

"Neste momento, partimos do princípio de que isto está relacionado com a proibição de exportar máscaras imposta pelo Governo dos Estados Unidos", acrescentaram as autoridades de Berlim.

As autoridades de Berlim não precisaram a origem específica das máscaras, mas, segundo avançaram vários jornais alemães, elas terão sido produzidas na China pela empresa norte-americana 3M. Esta mesma empresa foi proibida de exportar os seus produtos médicos para outros países sob uma lei da era da Guerra da Coreia, invocada por Trump.

Na sexta-feira, o presidente norte-americano disse que estava a usar a Lei de Produção da Defesa de 1950 para exigir que as empresas americanas forneçam mais materiais médicos para atender à demanda:

“Precisamos desses produtos imediatamente para uso doméstico. Temos que os ter”, disse Trump.

O responsável pela pasta do Interior do governo regional de Berlim, Andreas Geisel, denunciou a situação como “um ato de pirataria moderna”.

"Não agimos assim com parceiros transatlânticos", acrescentou o representante. “Mesmo em tempos de uma crise global, métodos dignos do velho oeste selvagem não podem prevalecer”, concluiu Geisel.

A acusação da Alemanha é apenas mais uma entre as várias que têm sido relatadas nas últimas semanas, nomeadamente no seio da União Europeia, com vários Estados-membros a queixarem-se da compra de máscaras e de desvio por parte dos EUA.

Em França, por exemplo, vários presidentes regionais acusado intermediários norte-americanos de “licitarem” e reterem máscaras encomendadas e compradas à China.

Os Estados Unidos rejeitaram tal acusação na quinta-feira, afirmando que nunca tinham comprado máscaras à China que estavam destinadas para França.

A corrida às máscaras de proteção tem sido global e várias situações têm sido relatadas nas últimas semanas, incluindo na União Europeia, onde vários Estados-membros proibiram a exportação de equipamentos médicos ou optaram por requisições.

c/agências
Tópicos
pub