Nato procura arrefecer quezília entre Turquia e Rússia

por Paulo Alexandre Amaral - RTP
Murad Sezer, Reuters

Os embaixadores da Nato que se reuniram esta tarde em Bruxelas pediram “cabeça fria” aos representantes da Turquia, membro da organização, depois do incidente aéreo desta terça-feira, com um caça F16 turco a abater um avião de combate russo próximo da fronteira síria. Os embaixadores da Aliança Atlântica reuniram-se esta tarde de urgência na capital belga a pedido da Ancara, num momento em que se assiste a uma escalada na troca de declarações com o Kremlin.

Turquia abateu caça russo junto à fronteira com a Síria e alega violação do espaço aéreo. A NATO convocou uma reunião para esta tarde. A organização explicou que a reunião foi realizada “a pedido da Turquia [com] o objetivo de informar os aliados” sobre o incidente.Um F-16 da Turquia abateu esta terça-feira um avião de combate russo alegando violação do seu espaço aéreo junto à fronteira com a Síria.

De acordo com a versão de Ancara, o avião intruso terá ignorado os avisos do F16 que, após várias ordens de retirada, abateu o bombardeiro russo.

Os diplomatas que estiveram na reunião colocaram-se ao lado da Turquia na troca de acusações que se seguiu ao abate do Sukhoi Su-24, modelo usado por Moscovo em missões de ataque e reconhecimento, mas deixaram também um pedido de calma a Ancara.

Os representantes da Aliança Atlântica não deixaram contudo de assinalar à delegação da Turquia que a decisão de atacar o avião russo não terá sido a mais correcta, já que o F16 da força aérea turca poderia ter escoltado o avião intruso para fora do seu espaço aéreo: “Há outras maneiras de lidar com este tipo de situações”, afirmou um diplomata que não quis ser identificado.
"Cabeça fria"
Entretanto, antes ainda do início do encontro entre os 28 representantes permanentes da Nato se sentarem à mesa, um dos diplomatas precisou não ter sido invocado o artigo 4 da Aliança Atlântica, que, de acordo com os subscritores do Tratado de Washington, prevê que “as partes consultar-se-ão sempre que, na opinião de qualquer delas, estiver ameaçada a integridade territorial, a independência política ou a segurança de uma das partes”.

Putin considerou o ataque ao avião uma “facada nas costas [que terá] consequências sérias para as relações russo-turcas”.O ponto não é de mera curiosidade, já que, entre as críticas lançadas a partir de Moscovo, está a acusação à Turquia de uma tentativa de envolvimento das forças da Nato no conflito que está a arrasar a Síria e o Iraque. O Kremlin deixou a suspeita de que a Turquia estaria a procurar novos aliados para os rebeldes.

O próprio presidente Vladimir Putin já veio dizer que as autoridades turcas são “cúmplices de terroristas”.

Ademais, as autoridades russas negaram desde as primeiras horas que o seu avião de combate estivesse em espaço aéreo turco, único motivo invocado pela Turquia para o ataque: “Os dados mostraram que não houve violação do espaço aéreo sírio”.
Alvo: bolsos turcos
Entretanto, Moscovo mostra que não se ficará pelas palavras e uma primeira retaliação chegou com o cancelamento da visita oficial que o ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov, tinha agendada para esta quarta-feira à Turquia.Os dois pilotos russos ejectaram-se. Um deles está desaparecido. O outro morreu na aterragem. De acordo com duas versões: morreu ao chegar a terra ou foi abatido pelos rebeldes ainda no ar.

“Foi decidido cancelar o encontro previsto para amanhã (quarta-feira) em Istambul entre os ministros dos Negócios Estrangeiros da Rússia e da Turquia”, fez saber o chefe da diplomacia russa, numa declaração transmitida pela televisão.

Mas Lavrov tinha ainda um recado a acrescentar: lembrando o atentado no Egipto contra um Airbus A-321 russo, que a 31 de outubro se despenhou no Sinai com 224 pessoas a bordo, aconselhou a população russa a não viajar para a Turquia, sob o pretexto de que a ameaça nesse país “não é menos elevada”.

“Por essa razão desaconselhamos os nossos cidadãos a viajar para a Turquia - em turismo ou por qualquer outra razão”, rematou Lavrov, num pedido que já foi atendido por várias agências de viagens, que retiraram dos seus programas os destinos turcos. Os custos para a economia da Turquia deverão ser elevados, de acordo com algumas estimativas.
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