Numa carta de quatro páginas, escrita em Novembro de 1974, um dos principais amigos de Mengele no Brasil, o austríaco Wolfgang Gerhard, aconselhou o médico nazi a regressar para Europa "antes que seja muito velho para a viagem".

Porém, Josef Mengele decidiu permanecer no Brasil, onde vivia de forma clandestina, para não correr o risco de ser identificado e preso na Europa, sendo sido tratado num hospital brasileiro.

O médico alemão sofria desde 1972 dores intestinais, causadas pela ingestão de fios de cabelo de seu próprio bigode, um hábito desenvolvido por Mengele para amenizar a tensão de estar em constante fuga.

A série de reportagens do jornal Folha de São Paulo sobre os documentos inéditos da vida de Josef Mengele no Brasil, encontrados nos arquivos da Polícia Federal brasileira, iniciou-se domingo.

Os documentos tornados públicos foram encontrados, em 1985, durante uma operação policial na antiga residência do médico alemão, em São Paulo.

Os cerca de 85 documentos, dentre cartas, fotografias e até um diário, revelam que, para manter segredo da sua verdadeira identidade, o médico alemão evitava viajar pelo Brasil, o que o obrigou a passar os últimos anos da sua vida deprimido e solitário.

Anotações indicam igualmente que o médico nazi passou por dificuldades financeiras que o obrigaram a vender um imóvel no Brasil, cuja renda era utilizada para compra de documentos falsos e para pagar o silêncio daqueles que descobriam sua verdadeira identidade.

Chefe do serviço médico do campo de concentração de Auschwitz (Polónia), entre 1943 e 1945, Mengele usou prisioneiros judeus como cobaias em experiências para comprovar a suposta superioridade da raça ariana.

As suas práticas cruéis levaram à morte cerca de 400 mil judeus e o médico nazi passou a ser conhecido como "anjo da morte".

Josef Mengele iniciou a sua fuga em Maio de 1945, quando a Alemanha assinou a rendição.

O médico viveu secretamente, quatro anos, como camponês, na região da Baviera, mudando para a Argentina em 1949 e, depois de dez anos, foi para o Paraguai.

Descoberto pelo governo alemão, Mengele fugiu para o Brasil, usando documentos falsos.

O médico nazi viveu os últimos 19 anos da sua vida no Brasil, com identidade falsa, em regiões próximas da cidade de São Paulo, e morreu afogado em 1979, na cidade de Bertioga, litoral do Estado de São Paulo.

A história do exílio secreto do médico alemão foi descoberta apenas em 1985, quando um teste de ADN comprovou que os restos mortais encontrados pela Polícia brasileira eram mesmo de Josef Mengele.