Nepal teme aumento do número de vítimas do sismo com chegada a regiões isoladas

Após um terramoto que provocou a morte de pelo menos 3.726 pessoas, os nepaleses tentam ainda assimilar a tragédia. As organizações não-governamentais realçam que pouco se sabe sobre as consequências do sismo fora da capital. No Evereste, uma centena de alpinistas está a ser evacuada. As avalanches fizeram 18 mortos e mais de 60 feridos.

Christopher Marques, RTP /
Navesh Chitrakar, Reuters

Uma lenta evacuação. O resgate dos alpinistas que estão no Evereste já começou, mas a um ritmo lento. As operações têm sido dificultadas por más condições climatéricas e dificuldades de comunicação.As operações realizam-se a mais de 5.500 metros de altitude. A título de comparação, o ponto mais alto da Serra da Estrela encontra-se a 1.993 metros de altitude.

O resgate, realizado por helicóptero, é demorado: apenas duas pessoas podem ser transportadas de cada vez, devido à elevada altitude e à rarefação do ar.

No Monte Evereste, as avalanchas provocadas pelo tremor de terra tiraram a vida a pelo menos 18 pessoas, mas muitos outros estarão ainda desaparecidos. Esta é já a pior catástrofe de sempre naquele que é o ponto mais alto da Terra. Haverá cerca de 60 feridos, alguns dos quais foram reencaminhados para os hospitais de Catmandu.

A avalancha surpreendeu tudo e todos. As imagens gravadas por um alpinista alemão mostram a confusão que se seguiu. Os alpinistas ainda mal tinham percebido que a terra tremia quando a massa de neve chegou.




As imagens comprovam a aflição e a luta pela sobrevivência que se seguiu, juntando-se aos relatos.

“Corri, corri e a onda, que parecia um edifício branco de 50 andares, esmagou-me. Tentei levantar e ela voltou a esmagar-me, não conseguia respirar. Quando me levantei não conseguia acreditar que a onda tinha passado por mim e que eu estava praticamente ileso”, refere um biólogo singapuriano que se encontrava no local, citado por Le Monde.

“Pensava que estava morto”, confessa.

As consequências do sismo de magnitude 7.8 na escala de Richter e suas réplicas ultrapassaram as fronteiras nepalesas. Na Índia morreram pelo menos 61 pessoas. No Tibete, pelo menos 20 pessoas perderam a vida. No Nepal as autoridades contabilizam já 3.726 vítimas mortais, mas o número insiste em crescer.
Uma capital destruída
A cidade tenta regressar a uma impossível normalidade. Algumas farmácias, padarias e mercearias voltaram a abrir, mas os produtos escasseiam nas prateleiras.

Para conseguir ter acesso a água potável, a única possibilidade é mesmo a de se meter nas filas que dão acesso às cisternas. Longas esperas aguardam também todos os que queiram abastecer o automóvel. O receio de penúria aumenta a procura e as filas nos postos de combustível, cujo preço, pelo menos por ora, permanece inalterado.

Morreram mais de 1.100 pessoas na manhã deste sábado, no Nepal. Um sismo de magnitude 7.9 na escala de Ritcher destruiu vários edifícios e foi sentido num raio de oitocentos quilómetros desde a capital, Katmandu.

Muitos habitantes de Catmandu tentam mesmo fugir da cidade. Querem fugir da destruição, da instabilidade. Sentem medo do que ainda pode acontecer.

“Não nos sentimos nada seguros. Tem havido muitas réplicas e não param”, relata uma mulher nepalesa após ter ido à cremação da sua sobrinha. As autoridades revelam que já houve mais de uma centena de terramotos e réplicas após o grande sismo.Os dados oficiais quanto ao número de vítimas têm sido atualizados com frequência. As autoridades locais temem que o número de vítimas venha a ultrapassar os cinco mil.

A eletricidade continua a ser inexistente em muitas zonas, o acesso à internet é quase impossível e as redes de telecomunicações continuam em baixa. Esta segunda-feira, muitos habitantes de Catmandu deslocaram-se às bancas para comprar jornais, numa busca incessante por mais informação. Um bem escasso após a tragédia.

Muitos voltaram a passar a última noite ao relento. Uns com receio de novas réplicas, outros porque as suas habitações ficaram mesmo destruídas pelo grande terramoto e pelas réplicas que se seguiram. Já no domingo, houve uma réplica com intensidade 6.7 na escala de Richter.
Receio de novas tragédias
Catmandu é hoje uma cidade instável e destruída. No entanto, o que está fora dela poderá ser tão ou mais assustador. As organizações não-governamentais temem que quando se conseguir aceder às zonas mais remotas do país novas tragédias sejam conhecidas.

“Por agora, toda a contagem de vítimas está a chegar do vale de Catmandu. Infelizmente, temo que seja apenas o princípio”, refere a responsável da Oxfam no país.O terramoto, o mais grave a atingir o país desde 1934, tornou claras as deficiências sanitárias do país. O Nepal tem apenas 2,1 médicos e 50 camas hospitalares por cada dez mil habitantes.

A mesma ideia é transmitida pela World Vision, uma outra ONG que se encontra no terreno. Ainda não se percebeu totalmente quais terão sido as consequências do terramoto em muitas zonas, como em Gorkha, a cerca de 80 quilómetros da capital.

“Aldeias como estas são frequentemente atingidas por deslizamentos de terras”, refere Matt Darvas da World Vision. “Não é incomum que aldeias inteiras de 200, 300, até 1.000 pessoas sejam completamente destruídas pela queda de rochas”.

“Há pessoas que não têm abrigo ou comida. Tenho informação de que ha aldeias em que 70 por cento das casas foram destruídas”, refere Udav Prashad Timalsina, responsável da região de Gorkha.

Ao local ainda não chegou qualquer ajuda do Governo central. Estão já contabilizadas 223 vítimas mortais em Gorkha, um número que previsivelmente deverá aumentar face ao elevado número de feridos, revelou Timalsina.
Fugir do Nepal
Enquanto seguem as operações de resgate, os estrangeiros presentes no Nepal começam a querer regressar aos seus países de origem. A falta de quartos levou muitos a passarem a noite ao relento, numa altura em que a comida, a água e a eletricidade começam a faltar.

“Não conseguimos alcançar a embaixada. Queremos ir embora, estamos assustados. Não há comida, não comemos nada desde o terramoto e não temos qualquer notícia sobre o que se está a passar”, revela uma turista canadiana de 31 anos à Associated Press.

A reabertura do aeroporto de Catmandu trouxe uma nova esperança a muitos turistas, mas também a residentes que tentam fugir do país. Na zona de partidas do aeroporto, muitos aguardam pela possibilidade de sair do país. Mas são poucos os que realmente conseguem.


Foto: Danish Siddiqui, Reuters


“Estou disposta a vender o ouro que estou usar para comprar uma passagem, mas não há nada disponível”, relata uma mulher indiana que trabalha em Catmandu.

Com os bens essenciais a escassear, o Governo local teme que à fome e à sede se juntem as epidemias. As autoridades assumem o desespero e apelam à ajuda internacional. Um apoio que que começa a chegar.
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