Netanyahu afasta operação em Rafah com população "encurralada"

por Lusa
Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel Leo Correa - Reuters

O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, garantiu hoje que Israel não lançará uma operação militar em Rafah, no sul da Faixa de Gaza, enquanto a população estiver "encurralada", após um encontro com o chanceler alemão, Olaf Scholz.

"Não é algo que faremos deixando a população encurralada. Na verdade, faremos o contrário", afirmou, numa altura em que a comunidade internacional tem advertido contra um ataque das forças israelitas nesta cidade, onde, segundo as Nações Unidas, estão deslocados quase 1,5 milhões de palestinianos.

Após o encontro, no gabinete do primeiro-ministro Netanyahu em Jerusalém, Scholz opôs-se a uma invasão terrestre de Rafah, o último porto seguro na Faixa de Gaza.

Segundo Israel, quatro batalhões do movimento islamita Hamas ainda estão ativos nesta cidade no sul do enclave, na fronteira com o Egito.

"Como se pode proteger mais de 1,5 milhões de pessoas, para onde podem ir?", questionou o chanceler, que manifestou relutância não só por uma questão de "lógica militar", mas sobretudo, como outras potências, incluindo os Estados Unidos, já alertaram, por uma questão humanitária.

Antes, no início da reunião do seu executivo, Benjamin Netanyahu tinha garantido que a pressão internacional não impedirá Israel de lançar uma ofensiva em Rafah.

"Nenhuma pressão internacional irá impedir-nos de alcançar todos os objetivos da nossa guerra [contra o Hamas]. Atuaremos em Rafah, levará algumas semanas, mas vai acontecer", disse o primeiro-ministro israelita. Netanyahu recusa acordo que enfraqueça o país

O primeiro-ministro israelita sublinhou contudo que recusará um acordo de paz que torne Israel "fraco" perante os seus vizinhos do Médio Oriente, enquanto o homólogo alemão pediu um "acordo sobre os reféns e um cessar-fogo duradouro" em Gaza.

"Se nos propuserem um acordo, uma via de paz que torne Israel fraco e incapaz de se defender [...], isso fará recuar a paz", declarou Benjamin Netanyahu à imprensa, após o encontro com Olaf Scholz.

Por seu lado, o governante alemão defendeu a necessidade de "um acordo sobre os reféns e de um cessar-fogo duradouro".

Afirmando compreender "as famílias dos reféns que dizem que chegou o momento de um acordo para salvar os cativos", o chanceler pediu maior flexibilidade do primeiro-ministro israelita para permitir a libertação dos 134 reféns que permanecem no enclave, muitos já mortos.

Scholz questionou o elevado número de vítimas civis e instou Netanyahu a permitir a entrada de mais ajuda no enclave.

"Não podemos ficar parados a ver os palestinianos correrem o risco de morrer à fome, não é isso que defendemos em conjunto", disse, depois de descrever como "legítimo" o objetivo de Israel de eliminar o Hamas para evitar um novo 07 de outubro, quando o movimento islamita palestiniano lançou um ataque sem precedentes no sul de Israel, matando cerca de 1.200 pessoas.

O chanceler alemão defendeu que Israel deve melhorar "urgente e maciçamente" a distribuição de alimentos e ajuda em Gaza, algo que os grupos humanitários têm vindo a afirmar há semanas que só pode ser conseguido por terra se Israel concordar em abrir outros pontos de acesso à fronteira através do Egito e da Jordânia.

"Mas quanto mais tempo durar a guerra, quanto maior for o número de vítimas civis e quanto mais desesperada for a situação da população de Gaza, mais se coloca a questão: por muito importante que seja o objetivo, será que este justifica custos tão elevados ou será que existem outras soluções?", perguntou.

Perante estes apelos, Netanyahu repetiu que "Israel fará tudo o que estiver ao seu alcance para minimizar as vítimas civis e maximizar a entrega de ajuda".

Scholz reiterou também o apoio da Alemanha a uma solução de dois Estados para o período pós-guerra, uma solução recusada por Telavive. A Alemanha, desde os ataques do Hamas em 07 de outubro, tem estado entre os países que mais demonstraram solidariedade com Israel.

A guerra na Faixa de Gaza foi desencadeada após o ataque do Hamas no sul de Israel em 07 de outubro, que resultou na morte de pelo menos 1.160 pessoas, a maioria delas civis, e mais de 240 reféns, segundo as autoridades israelitas.

Israel respondeu com ataques intensos, que já fizeram mais de 31.600 mortos e acima de 73.600 feridos, de acordo com o Hamas, no poder no enclave palestiniano. Perto de 80% dos 2,3 milhões de habitantes de Gaza estão deslocados internamente, a esmagadora maioria em Rafah.

As Nações Unidas têm alertado para a iminência de fome generalizada no território palestiniano e quase 30 crianças morreram devido a nutrição aguda.

 

 

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