Níger. França em conversações para retirar parte dos seus efetivos do país

As forças armadas francesas iniciaram conversações com os seus homólogos militares nigerinos, para estabelecer a retirada de "elementos" do contingente estacionado naquele país do Sahel para combater grupos armados islamitas, confirmaram fontes do Ministério da Defesa de França.

Graça Andrade Ramos - RTP /
Manifestação em Niamey, Níger, junto â base aérea que alberga o contingente militar francês, a exigir a sua retirada do país, dia 2 de setembro de 2023 Mahamadou Hamidou - Reuters

"Existem trocas localmente entre militares para facilitar as movimentações de meios franceses imobilizados desde a suspensão da cooperação antiterrorista", reconheceu esta terça-feira de manhã o gabinete do ministro da Defesa, Sébastien Lecornu.

As mesmas fontes garantiram à Agência France Presse, AFP, que "tiveram início as conversas sobre a retirada de certos elementos militares". "É normal falar disso, na medida em que a cooperação antiterrorista foi interrompida" depois do golpe de estado de 26 de julho, acrescentou uma delas, citada pelo jornal Le Monde.

Segunda-feira, o primeiro-ministro do Níger, designado pela Junta militar que assumiu o poder, Ali Mahaman Lamine Zaine, tinha revelado a existência de "contactos" sobre uma "muito rápida" partida das tropas francesas do país.

A notícia foi confirmada esta terça-feira, apesar de, ao jornal Le Monde e à AFP, as fontes ministeriais francesas insistirem que as conversações não envolvem para já nenhum representante da Junta, uma vez que a legitimidade desta não é reconhecida por Paris.
Prazo de um mês expirado
O Eliseu exige o regresso ao poder do Presidente eleito, Mohamed Bazoum, deposto e colocado sob prisão domiciliar pela Junta e com quem o Presidente francês, Emmanuel Macron, se mantém em contacto.

A Junta militar que tomou o poder no Níger denunciou unilateralmente os acordos de cooperação assinados com Paris pelo anterior Governo que permitiam a presença francesa. Deu um mês para a retirada do contingente francês, prazo que terminou domingo passado.

Paris rejeita oficialmente a ideia de esvaziar as três bases militares que detém no Níger e que albergam cerca de 1500 soldados.

No atual estádio das conversações não foi ainda decidido nem o número de efetivos abrangidos nem a modalidade da retirada, mas esta já é um dado adquirido, refere o Le Monde.

Desde o golpe que os drones, os helicópteros e os aviões franceses se mantêm no solo.

Os soldados franceses estão estacionados numa base perto da capital, Niamey, noutra perto de Ouallam, a capital do norte do Níger, e uma terceira em Ayoru, perto da fronteira com o Mali.

Algumas unidades poderão ser transferidas para outro país da região, nomeadamente o vizinho Chade. Outra hipótese é o repatriamento.
Paris sob pressão
As relações entre o Níger e a França deterioraram-se rapidamente nas últimas semanas após o golpe militar. 

Segunda-feira, o primeiro-ministro designado Ali Mahaman Lamine Zaine sublinhou contudo a esperança de "manter a cooperação se possível com um país com o qual partilhamos muitas coisas".

A pressão para a retirada tem aumentado nos últimos dias, com manifestações a exigir o fim da presença militar francesa a cercarem a base aérea onde se encontra parte do contingente, em Niamey.

O golpe militar no Níger foi mais um sério revés para a influência francesa no Sahel, depois de ocorrências semelhantes no Mali, em 2020 e no Burkina Faso, em 2022. 

No final de agosto, outro golpe militar, desta vez no Gabão, afastou o Presidente Ali Bongo Ondimba, cujo pai liderou o país durante mais de quatro décadas, com apoio de Paris.

A França reagiu com mais contenção à queda da dinastia do Gabão do que ao afastamento do seu aliado Bazoum, eleito num processo democrático.
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