"Noite de Cristal" lembrada subliminarmente em cartaz a apelar a protesto pró-palestiniano

O vice-reitor da Universidade canadiana McGill, Deep Saini, denunciou veementemente o anti-semitismo subjacente a um cartaz a apelar a uma manifestação naquele campus, em Montreal, esta quinta-feira.

Graça Andrade Ramos - RTP /
Universidade McGill

A imagem, de uma montra estilhaçada, ecoava a da "Noite de Cristal" durante a qual, há precisamente 85 anos na Alemanha, foram atacadas e destruídas as lojas, casas, locais de cultos e negócios de judeus, naquele que foi considerado o primeiro momento do Holocausto.

Numa carta enviada aos estudantes e funcionários da Universidade, Deep Saini referiu que "considerando todos os factos e contextos relevantes, posso apenas concluir que estes cartazes são anti-semitas. São deploráveis e inaceitáveis e não têm lugar na nossa comunidade".

Devido ao "tom" do materal promocional, o vice-reitor anunciou ainda que requesitou o reforço dos meios de segurança previstos para a manifestação denominada "a favor de Gaza".

"Incitar o ativismo através de comunicações que se referem a um dia extremamente negro da história mundial, marcado por violência anti-semita, é abominável. Isto irá exarcebar as tensões existentes e irá alienar e elevar o risco de ataques aos membros judeus da nossa comunidade, assim como contra aqueles que são ostaensivamente muçulmanos e árabes. cada um destes grupos está especialmente vulnerável agora", acrescentou o vice-reitor.

Também esta quinta-feira, duas escolas judaicas foram alvejadas a tiro no Canadá, sem fazer feridos.

Tensão crescente
O episódio é apenas mais um sinal dos episódios anti-semitas que têm vindo a ocorrer em universidades norte-americanas, já denunciadas por vários líderes norte-americanos, e nas ruas de cidades europeias, nomeadamente francesas e alemãs, com estrelas de David a serem pintadas para assinalar residências de judeus, cidadãos israelitas atacados e lojas e negócios propriedade de judeus a serem invadidos por multidões em fúria durante manifestações convocadas para apoiar a palestina.

Esta quinta-feira, ao assinalar mais um aniversário da Noite de Cristal, o chanceler alemão Olaf Scholz prometeu proteger os judeus alemães e denunciou as recentes manifestações de anti-semitismo no país, garantindo que "nunca mais" este seria tolerado.

A promessa foi feita na sinagoga de Beth Zion, em Berlim, um dos lovcais que na noite de 9 para 10 de novembro de 1938 foi devastado e vandalizado pelos nazis, tal como numerosos outros locais de cultos, comércio e lares judeus. "É uma promessa na qual assenta a Alemanha democrática", frisou Scholz.

Desde dia sete de outubro o número destes ataques cresceu num sinal alarmante de anti-semitismo, que algumas vozes atribuem a uma ação concertada externa eventualmente financiada pela Rússia para desestabilizar as democracias ocidentais.

Só na Alemanha registaram-se 1.800 crimes anti-semitas, um deles contra a própria sinagoga onde hoje decorreram as celebrações.

Também esta sexta-feira, o Conselho para as relações Islamo-Americanas (CAIR) afirmou que tem estado a documentar um "aberrante" aumento de 216 por cento nos pedidos de ajuda e nos relatos de incidentes anti-árabes e anti-muçulmanos no país.

Ao todo, a organização recebeu, só desde 7 de outubro, 1.283 pedidos de ajuda e relatos de ofensas, contra 406 no mesmo período em 2022.

"A retórica islamofóbica e anti-palestiniana tem sido usada para justificar a violência tanto contra os palestinianos em Gaza como para silenciar apoiantes dos direitos humanos dos palestinianos aqui na América e tem contribuído para um aumento sem precedentes da intolerância", afirmou em comunicado o diretor da pesquisa e advocacia da CAIR, Corey Saylor.
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