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Nova Califórnia quer separar-se da Califórnia e tornar-se o 51.º Estado da América

por Graça Andrade Ramos - RTP

Formam um movimento separatista, mas não querem deixar a União norte-americana. Já não suportam, afirmam, o “Governo tirânico” que está a deixar o Estado ingovernável. Na terça-feira declararam a independência.

De acordo com um porta-voz da campanha Cali-exit, “o Estado atual da Califórnia é governado por uma tirania. Por isso, a responsabilidade, o dever das pessoas que estão a sofrer a longa série de abusos e de usurpação às mãos de um governo tirânico, é abolir e fazer de novo um governo do povo e para o povo sob Deus”, afirmou.

A ideia, apresentada em mapa, é juntar a maioria do território das áreas rurais e abandonar as áreas costeiras, de Sacramento e São Francisco até Los Angeles, a elas mesmas.

Fonte: Nova Califórnia

“Depois de anos de demasiados impostos, regulamentos e políticas de partido único, o Estado da Califórnia e muitos dos seus 58 condados tornaram-se ingovernáveis”, afirmam os promotores do Cali-exit num documento publicado on-line.

Falam ainda num “declínio em serviços básicos essenciais”, incluindo educação, aplicação da lei, infraestruturas e cuidados de saúde. "Algo está errado quando temos um condado rural como este e chega-se ao Condado de Orange, que é sobretudo urbano, e encontramos o mesmo conjunto de problemas e isso sucede devido à forma como o Estado está a ser governado e taxado", afirmou o fundador do Cali-exit, Robert Paul Preston.A ser criado, o Estado de Nova califórnia, tal como os seus promotores o imaginam, ficaria com cerca de 15 milhões dos 25 milhões de habitantes californianos e seria o sexto maior Estado da União, após Nova Iorque, com 25 a 27 lugares na Câmara dos Representantes.

A organização do grupo inclui um conselho com representantes de condados e vários comités. Pretendem primeiro convencer os órgãos legislativos californianos a dividirem o estado, antes de submeterem a resolução ao Congresso.

“Precisamos de demonstrar primeiro que podemos governar-nos a nós próprios, antes de sermos autorizados a governar”, afirmou Tom Reed, um dos fundadores, à CBS.

Uma das filiais da CBS, de Sacramento, transmitiu a leitura, segunda-feira, da Declaração de Independência da Califórnia, numa cerimónia que passou quase despercebida e se realizou perante uma sala de congressos quase vazia.
As leis permitem
Apesar de se darem cerca de um ano para arrancar a sério com a campanha Cali-exit - a proposta poderá nem sequer ser posta a votação em 2019 -, os promotores sentem-se cheios de razão e poderão conseguir o que querem, se juntarem apoios suficientes: a lei dos Estados Unidos da América permite-o.

O grupo reclama a autoridade conferida pelo artigo IV seção 3 da Constituição dos Estados Unidos, que refere: “novos Estados podem ser admitidos pelo Congresso nesta União; mas nenhum novo Estado será formado ou estabelecido dentro da jurisdição de um outro Estado; nem nenhum Estado será formado pela junção de dois ou mais Estados, ou partes de Estados, sem o consentimento da legislatura dos estados abrangidos assim como do Congresso”.

Existe, contudo, uma ressalva a estas condições.

Na Declaração de Independência está previsto “que, sempre que uma forma de governo se torne destrutiva para estes fins, é direito do povo alterar ou aboli-la e instituir um novo governo, fundando-o em tais princípios e organizando os sues poderes de tal forma que a todos pareça a mais adequada a promover a sua segurança e felicidade”.
Uma "proposta estúpida"
Em 2014, um capitalista, Tim Draper, tentou dividir a Califórnia em seis partes, incluindo o “Estado de Sillicon Valley”. Não conseguiu votos suficientes.

E tal deverá ser também o destino provável da proposta Nova Califórnia a não ser que consigam fazer muitos críticos mudar de ideias.

Um dos muitos comentários negativos que a notícia gerou lembra que os Estados rurais do atual Estado são largamente dependentes financeiramente dos estados costeiros.

"É uma proposta estúpida. Baixar os impostos é um mito para conseguir votos. E, honestamente, é um tiro no pé", refere.

"Vai custar muito dinheiro. Se olharem para a forma como dividem o Estado deixam de um lado uma parte que necessita de alta manutenção e do outro a parte que tem todos os recursos naturais, natureza e agricultura", acrescenta.

"As pessoas estão habituadas a pagar impostos altos e os políticos também estão habituados a receber esse dinheiro. Que é difícil governar a Califórnia é igualmente um mito. Não vivemos no século XIX", sublinha, referindo que atualmente a tecnologia permite trabalhar a longas distâncias e em união.

O comentador, crítico, propõem aos fundadores do Cali-exit que trabalhem para pôr o Estado a render em vez de o dividir.

"E, a sério que propõem deixar a indústria de LA e de Hollywood, que é o maior gerador de recursos do Estado à parte menor da califórnia? Ha!", remata, escarninho.
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