Nova investigação sugere que jornalista palestiniana foi morta pelos israelitas

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Ibraheem Abu Mustafa - Reuters

Uma reconstrução feita pela agência de notícias Associated Press (AP) parece corroborar as afirmações das autoridades palestinianas e colegas de Shireen Abu Akleh, ao sugerir que a jornalista foi morta pelas forças israelitas. A investigação também desmente a teoria de Israel, de que Shireen foi morta devido a uma situação de tiroteio.

A morte da jornalista da Al Jazeera, Shireen Abu Akleh, a 11 de maio, tem sido objecto de um intenso escrutínio, de forma a tentar desvendar os verdadeiros responsáveis.

Jornalistas da Associated Press visitaram o local onde Shireen Abu Akleh foi morta, próximo de um campo de refugiados em Jenin, no norte da Cisjordânia, e entrevistaram cinco testemunhas, concluindo que a bala que matou Abu Akleh pertence a uma arma israelita.

A investigação da AP parece deitar por terra os cenários possíveis apontados por Israel para a morte da jornalista de 51 anos. Os israelitas acusaram os palestinianos de serem os autores dos disparos que vitimaram Shireen, alegando haver intensos combates na área.

No entanto, a única presença confirmada de militantes palestinianos estava localizada a 300 metros de distância do local onde Shireen se encontrava, com vários prédios e muros de permeio. Enquanto isso, vários vídeos e fotografias analisados pela AP mostram que um grupo de atiradores do exército israelita estava estacionado na mesma estrada onde Abu Akleh foi morta, com linha direta de tiro para a jornalista.

Para além disso, os jornalistas que estavam com Abu Akleh naquele dia confirmam que o local estava tranquilo no momento em que chegaram, sem confrontos ou militantes nas imediações, contestando o argumento de Israel de que a jornalista foi morta devido a uma situação de tiroteio.

Nas imagens agora divulgadas, também verificadas pela Al Jazeera, podem ver-se várias pessoas, incluindo jornalistas com coletes azuis com a palavra “PRESS” (imprensa), a dirigirem-se para uma área de Jenin, na Cisjordânia, onde estavam estacionadas tropas do exército israelita, quando, de um momento para o outro, se ouviu uma série de disparos.


Ali Samoudi, produtor da Al Jazeera de Jenin, disse que os soldados dispararam um primeiro tiro de advertência, o que o fez correr na direção oposta. O segundo tiro atingiu-o nas costas, mas acabou por sobreviver aos ferimentos. Um outro tiro atingiu Shireen na cabeça e as imagens mostram a jornalista já no chão, depois de ter sido atingida.

“Vimos que os tiros vieram do exército”, disse à AP Shatha Hanaysheh, uma fotógrafa local que pode ser vista nos vídeos a abrigar-se atrás de uma árvore e a tentar puxar o corpo de Shireen. “Quando Ali, Shireen e eu corremos para nos proteger, estávamos a fugir deles”, explicou.

Sharif Azer, um morador local que estava a caminho do trabalho, ouviu os tiros e correu para ajudar. Ele pode ser visto num outro vídeo que tem sido amplamente partilhado, a escalar o muro onde Hanaysheh se protegia, ajudando-a a escapar dos tiros.


Quando Azer sai detrás da árvore onde Hanaysheh estava abrigada para tentar aproximar-se de Shireen, voltam a ser disparados tiros e Azer recua. “Eles dispararam contra nós mais do que uma vez. Sempre que alguém se aproximava, eles disparavam”, disse Azer à agência AP.

O porta-voz do exército israelita afirma que pelo menos um militante palestiniano estava localizado entre as suas tropas e os jornalistas e divulgou imagens desse mesmo palestiniano a disparar a partir de um beco. No entanto, investigadores do grupo israelita de direitos humanos B’Tselem verificaram as imagens e perceberam que as mesmas foram gravadas a 300 metros do local onde foi morta Shireen, sem qualquer sítio onde se possa ver o local onde a jornalista foi atingida.

A mesma conclusão foi alcançada pela Al Jazeera, que avançou que esse palestiniano armado tinha dezenas de edifícios entre ele e a jornalista enquanto que, por outro lado, havia um grupo de atiradores do exército israelita com linha direta de tiro para a jornalista.

Para além disso, todas as testemunhas que falaram com a AP insistiram que não havia militantes na área entre os repórteres e o exército israelita.

A semana passada, um oficial do exército israelita disse que foi identificada a alegada arma utilizada por este militante palestiniano, indicando que pode ter sido a arma utilizada para atirar sobre a jornalista. O exército sublinha, no entanto, que não pode dar uma resposta sem examinar a bala e os palestinianos já fizeram saber que não vão entregar essa bala.

Na segunda-feira, a conselheira-geral do exército, Yifat Tomer-Yerushalmi, considerou que “dado que a senhora Abu Akleh foi morta no meio de uma zona de combates intensos, não se pode imediatamente suspeitar de atividade criminosa, na ausência de mais provas”.

Tomer-Yerushalmi afirmou ainda que a abertura de um inquérito criminal depende da disponibilização de outros elementos “do inquérito do exército e de outras fontes”, alegando que “a impossibilidade de inspecionar a bala (…) continua a lançar dúvidas sobre as circunstâncias” do incidente.

c/agências
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