Uma reconstrução feita pela agência de notícias Associated Press (AP) parece corroborar as afirmações das autoridades palestinianas e colegas de Shireen Abu Akleh, ao sugerir que a jornalista foi morta pelas forças israelitas. A investigação também desmente a teoria de Israel, de que Shireen foi morta devido a uma situação de tiroteio.
Nova investigação sugere que jornalista palestiniana foi morta pelos israelitas
Jornalistas da Associated Press visitaram o local onde Shireen Abu Akleh foi morta, próximo de um campo de refugiados em Jenin, no norte da Cisjordânia, e entrevistaram cinco testemunhas, concluindo que a bala que matou Abu Akleh pertence a uma arma israelita.
A investigação da AP parece deitar por terra os cenários possíveis apontados por Israel para a morte da jornalista de 51 anos. Os israelitas acusaram os palestinianos de serem os autores dos disparos que vitimaram Shireen, alegando haver intensos combates na área.
No entanto, a única presença confirmada de militantes palestinianos estava localizada a 300 metros de distância do local onde Shireen se encontrava, com vários prédios e muros de permeio. Enquanto isso, vários vídeos e fotografias analisados pela AP mostram que um grupo de atiradores do exército israelita estava estacionado na mesma estrada onde Abu Akleh foi morta, com linha direta de tiro para a jornalista.
Para além disso, os jornalistas que estavam com Abu Akleh naquele dia confirmam que o local estava tranquilo no momento em que chegaram, sem confrontos ou militantes nas imediações, contestando o argumento de Israel de que a jornalista foi morta devido a uma situação de tiroteio.
Nas imagens agora divulgadas, também verificadas pela Al Jazeera, podem ver-se várias pessoas, incluindo jornalistas com coletes azuis com a palavra “PRESS” (imprensa), a dirigirem-se para uma área de Jenin, na Cisjordânia, onde estavam estacionadas tropas do exército israelita, quando, de um momento para o outro, se ouviu uma série de disparos.
New video shows that moments before Al Jazeera journalist Shireen Abu Akleh was killed by Israeli occupation forces the scene was calm and quiet - contradicting Israeli officials' claims there was fighting in the area ⤵️ pic.twitter.com/RSLjVKPIzU
— Al Jazeera English (@AJEnglish) May 20, 2022
Ali Samoudi, produtor da Al Jazeera de Jenin, disse que os soldados dispararam um primeiro tiro de advertência, o que o fez correr na direção oposta. O segundo tiro atingiu-o nas costas, mas acabou por sobreviver aos ferimentos. Um outro tiro atingiu Shireen na cabeça e as imagens mostram a jornalista já no chão, depois de ter sido atingida.
“Vimos que os tiros vieram do exército”, disse à AP Shatha Hanaysheh, uma fotógrafa local que pode ser vista nos vídeos a abrigar-se atrás de uma árvore e a tentar puxar o corpo de Shireen. “Quando Ali, Shireen e eu corremos para nos proteger, estávamos a fugir deles”, explicou.
Sharif Azer, um morador local que estava a caminho do trabalho, ouviu os tiros e correu para ajudar. Ele pode ser visto num outro vídeo que tem sido amplamente partilhado, a escalar o muro onde Hanaysheh se protegia, ajudando-a a escapar dos tiros.
Warning: Graphic video
— لينة (@LinahAlsaafin) May 11, 2022
Clearly depicts continued Israeli firing after Shireen Abu Akleh went down. Screams of “Ambulance”. One man tries to retrieve Shireen, others scream at him to move back from Israeli sniper range.
pic.twitter.com/2xpK9kMG8L
Quando Azer sai detrás da árvore onde Hanaysheh estava abrigada para tentar aproximar-se de Shireen, voltam a ser disparados tiros e Azer recua. “Eles dispararam contra nós mais do que uma vez. Sempre que alguém se aproximava, eles disparavam”, disse Azer à agência AP.
O porta-voz do exército israelita afirma que pelo menos um militante palestiniano estava localizado entre as suas tropas e os jornalistas e divulgou imagens desse mesmo palestiniano a disparar a partir de um beco. No entanto, investigadores do grupo israelita de direitos humanos B’Tselem verificaram as imagens e perceberam que as mesmas foram gravadas a 300 metros do local onde foi morta Shireen, sem qualquer sítio onde se possa ver o local onde a jornalista foi atingida.
A mesma conclusão foi alcançada pela Al Jazeera, que avançou que esse palestiniano armado tinha dezenas de edifícios entre ele e a jornalista enquanto que, por outro lado, havia um grupo de atiradores do exército israelita com linha direta de tiro para a jornalista.
Para além disso, todas as testemunhas que falaram com a AP insistiram que não havia militantes na área entre os repórteres e o exército israelita.
A semana passada, um oficial do exército israelita disse que foi identificada a alegada arma utilizada por este militante palestiniano, indicando que pode ter sido a arma utilizada para atirar sobre a jornalista. O exército sublinha, no entanto, que não pode dar uma resposta sem examinar a bala e os palestinianos já fizeram saber que não vão entregar essa bala.
Na segunda-feira, a conselheira-geral do exército, Yifat Tomer-Yerushalmi, considerou que “dado que a senhora Abu Akleh foi morta no meio de uma zona de combates intensos, não se pode imediatamente suspeitar de atividade criminosa, na ausência de mais provas”.
Tomer-Yerushalmi afirmou ainda que a abertura de um inquérito criminal depende da disponibilização de outros elementos “do inquérito do exército e de outras fontes”, alegando que “a impossibilidade de inspecionar a bala (…) continua a lançar dúvidas sobre as circunstâncias” do incidente.
c/agências