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Nova Zelândia. Atacante enviou “manifesto” à primeira-ministra antes do massacre
Mais de 24 horas depois do ataque a duas mesquitas de Christchurch, onde morreram 49 pessoas e outras 48 ficaram feridas, o mundo continua em estado de choque à procura de respostas. Sabe-se agora que o atirador, Brenton Tarrant, enviou um documento à primeira-ministra, bem como às principais figuras da política neozelandesa e a cerca de 70 meios de comunicação social, poucos minutos antes do ataque.
O “manifesto” racista com 74 páginas foi publicado em várias redes sociais e enviado à primeira-ministra neozelandesa, ao líder da oposição, ao porta-voz do Parlamento e a vários meios de comunicação social, poucos minutos antes do ataque.
Um porta-voz da primeira-ministra Jacinda Ardern refere que o e-mail endereçado à chefe do Governo neozelandês foi enviado minutos antes do ataque, mas que o seu conteúdo e timing “em nada poderiam ter servido para prevenir o ataque”.
Com o título “A Grande Substituição” o "manifesto" faz referência a uma teoria popular entre os movimentos de extrema-direita, que alerta para os perigos da imigração dos povos não-europeus, ou a “submersão cultural dos povos europeus brancos pela imigração”.
Resposta polémica de Trump
Neste documento, o atacante presta homenagem a Donald Trump e considera que o Presidente norte-americano é “um símbolo de uma identidade branca renovada”.
Nos Estados Unidos, a resposta a este ataque por parte do Presidente norte-americano está a gerar polémica. Donald Trump expressou as suas condolências, considerando que se tratou de “um massacre horrível”.
Mas, questionado sobre o perigo representado pela ascensão dos movimentos de supremacia branca, Trump desvalorizou a questão e não quis culpar “um grupo muito pequeno de pessoas por estes problemas sérios, muito sérios”.
Atirador em prisão preventiva
O atacante de 28 anos já esteve perante um juiz este sábado, tendo sido acusado de homicídio. Entrou no tribunal algemado e acompanhado por dois polícias e esteve perante o juiz cerca de um minuto.
O atirador ficou em prisão preventiva e será novamente presente em tribunal, a 5 de abril, data em que deverá ser alvo de novas acusações.
O próprio juiz referiu que, apesar de existir uma acusação de homicídio, é “razoável assumir que outras se vão seguir”.
Duas outras pessoas estão sob custódia da polícia, que tenta apurar se os suspeitos estiveram envolvidos de alguma forma nos ataques.
O atirador gravou o momento do ataque em direto, com uma câmara que transportava na cabeça. As imagens mostram a chegada do homem à mesquita de Al Noor, quando começou a atirar indiscriminadamente sobre a multidão com uma arma semiautomática.
A certa altura, o homem regressa ao carro para trocar de armas e volta à mesquita para matar mais crentes. “Como se fosse um jogo de computador macabro”, descreve a agência Reuters.
Só na mesquita de Al Noor morreram 41 pessoas. O atirador teve ainda tempo para alcançar uma segunda mesquita de Linwood, onde morreram sete pessoas. Acabou por ser detido pela polícia num carro, onde a polícia garante ter apreendido aparelhos explosivos improvisados. A detenção aconteceu 36 minutos após a primeira chamada efetuada.
Armas eram legais
Segundo a polícia da Nova Zelândia cinco armas foram usadas pelo autor do ataque sendo que duas eram armas semiautomáticas e outras duas espingardas.
“O atacante tinha um carro. Havia mais duas outras armas no veículo do suspeito, e era certamente sua intenção prosseguir com este ataque", disse a primeira-ministra Jacinda Arden.
Também de acordo com a chefe de Governo neozelandesa, o atirador tinha licença de porte de armas e adquiriu as armas utilizadas no ataque de forma legal, mas que estas terão sido alteradas.
Na Nova Zelândia, a idade mínima para a posse de arma é de 16 anos, ou 18 anos no caso de uma arma semiautomática. Embora os donos precisem de ter licença, não é necessário fazer um registo das armas.
“Uma das questões que enfrentamos é que as armas usadas neste caso parecem ter sido modificadas. É um desafio que a polícia tem enfrentado e que procuraremos abordar, alterando as nossas leis”, disse a primeira-ministra.
Logo na sexta-feira, horas depois do ataque, a primeira-ministra condenou este ato como um “ato terrorista” e considerou que este acontecimento trouxe à Nova Zelândia “um dos dias mais negros” do país.
“Ainda amamos este país”
Grande parte das vítimas eram migrantes ou refugiados, vindos sobretudo do Paquistão, Índia, Malásia, Indonésia, Turquia, Somália e Afeganistão. Cerca de 1 por cento da população da Nova Zelândia é muçulmana.
A equipa de críquete no Bangladesh, de visita por estes dias à Nova Zelândia, estava a chegar a uma das mesquitas antes de se ter iniciado o ataque. Todos os jogadores ficaram a salvo, segundo as declarações do treinador.
Poucas horas depois de um ataque, o imã que conduzia as orações de sexta-feira numa das mesquitas visadas disse este sábado que a relação da comunidade muçulmana neozelandesa com o país não será afetada.
“Ainda amamos este país”, afirmou Ibrahim Abdul Halim, da mesquita de Linwood. Citado pela agência France Presse, o responsável religioso diz ainda que os extremistas “nunca, jamais, vão abalar a nossa confiança”.
O imã diz que os muçulmanos neozelandeses ainda se sentem seguros e que grande parte do país esteve em “solidariedade plena” e “pronta de imediato para nos apoiar a todos”, desde o momento do ataque.